Diferentes

É comum ouvir os sportinguistas gabarem-se de serem diferentes e de certa forma até se generalizou que o Sporting é de facto um clube diferente, entendendo-se por regra que essa diferença é para melhor, em termos de postura, princípios e comportamentos.

O Sporting é um Clube com origens aristocráticas, pois nasceu de um capricho de um menino rico que foi pedir dinheiro ao avôzinho para criar um Clube, que sonhou que pudesse ser tão grande como os maiores da Europa, e que ao longo da sua história teve quase sempre tendências elitistas, assinaladas numa primeira fase pelas limitações impostas na entrada de associados, dizendo-se então que só era sócio do Sporting quem podia e não quem queria, para mais tarde quando se percebeu a importância e a necessidade de alargar a massa associativa, se instituir o Conselho Geral, que posteriormente passou a Conselho Leonino, órgãos nos quais a Assembleia Geral do Clube delegava o poder de eleger os Presidentes da Direcção, da Mesa da AG e do Conselho Fiscal. Ou seja, eram as elites a  mandar no Clube e a decidir o seu futuro.

E se foram essas elites que tornaram o Sporting Clube de Portugal na maior força desportiva do País, foram também elas que reféns da situação política instalada, se deixaram ultrapassar por um rival protegido pelos interesses da conjuntura política de uma época, onde convinha manter o povo entretido com as vitórias do clube mais popular.

A revolução de Abril de 1974 apanhou o Sporting em contra-pé e o Clube sofreu com o facto de alguns dos seus antigos dirigentes estarem associados ao anterior regime, pelo que a adaptação aos novos tempos foi um processo doloroso que atrasou o Clube em relação a uma concorrência que aproveitou a nova situação, para assegurar favores e poderes que os alavancaram para uma posição vantajosa. Mesmo assim o Sporting não deixou de crescer e continuou a ser enorme, pelo menos em termos de popularidade, mas foi perdendo influência nos bastidores.

Depois de alguns anos de guerras pedidas que empurraram o Clube para uma fase de populismo nada condizente com a sua história, o chamado Projecto Roquete foi uma espécie de regresso às origens elitistas do Sporting Clube de Portugal, mas se a ideia que estava por de trás até podia ser boa, a verdade é que não correu bem e os "betinhos" de Alvalade foram comidos como anjinhos pelos poderes instalados e ainda por cima deixaram um buraco financeiro monumental atrás de si. O tempo de servir o Clube tinha sido substituído por uma nova era, em que muitos foram os que se serviram dele.

Eis então que chega o Presidente sem medo, que dispara em todas as direcções atirando pedras a canhões e acorre a todos os focos de incêndio, às vezes com gasolina na mão. Primeiro estranha-se, mas depois entranha-se e os sportinguistas começam a perceber que tem de ser assim, caso contrário nunca mais lá chegamos outra vez. Está visto que com falinhas mansas não vamos a lado nenhum, até porque do outro lado estão organizações montadas há anos, com métodos e poderes dignos dos melhores filmes de "gangsters".

Ao principio não o levam muito a sério, comparam-no a um Don Quixote e esperam que caia sozinho, mas o homem aguenta-se e não desarma, parece ter uma energia inesgotável, começa a incomodar e até a preocupar. As máquinas de propaganda agitam-se e movimentam-se apontando para os alvos que são os dois únicos pilares robustos de um edifício que não é propriamente sólido. Chegou a hora do vale tudo.

O povo sportinguista acredita, enche os estádios e segue o seu líder de forma entusiástica, mas as supostas elites leoninas que deveriam ser a segunda linha e o primeiro escudo protector da cadeia de comando, teimam em ser diferentes e encolhem-se, porque ah e tal ele pode até ter razão, mas é excessivo e o Clube tem uma cultura a preservar.

Na era da comunicação global a esmagadora maioria dos representantes do Sporting nos jornais e televisões, continuam de fato e gravata e de sapato de verniz, no meio de gente fardada a rigor com camuflados e botas da tropa, e equipada de metralhadoras em punho e granadas na mão.

Recentemente num programa televisivo, enquanto um ex jogador do Benfica destilava o seu ódio com a cantilena encomendada e repetida em coro por dezenas de iguais espalhados pelas televisões e jornais deste pobre país, um "betinho" que jogou no Sporting quase que pedia desculpa pelas maldades que o nosso Presidente andava a fazer. Mais ao lado a coisa chegou a um ponto tal, que o Dr. Barroso não aguentou e pediu para sair, pois ali só mesmo de megafone.

De resto a generalidade dos sportinguistas com voz pública, ou estão ligados ao passado recente do Clube, alguns ainda com uma azia tremenda, sendo o caso do ROC o mais evidente, ou são demasiado polidos, como o Rogério Alves e o Hélder Amaral, escapando talvez o Paulo Andrade, enquanto o Inácio e o José Eduardo, são os únicos a fazerem o eco da voz do dono.

Depois há a rota dos jornalistas que era suposto terem o mínimo de isenção, mas em vez disso alguns deles conseguem ser mais benfiquistas que os que o estão lá oficiosamente a representar o seu clube, o que nem é de espantar. Já no saudoso tempo dos "Donos da Bola" o Farinha depois de negar o seu benfiquismo doentio, acabou como representante oficial do impagável Vale e Azevedo e mais recentemente houve um que até festejou um golo em directo, ao vivo e a cores. Pediu desculpa e como prémio passou à categoria de paineleiro com camisola vestida e tudo, isto já para não falar do "pato" que foi apanhado nas escutas a planear um serviçinho com o seu dono. De resto até alguns moderadores não escondem a cor dos seus olhos e os jornais desportivos e outros pasquins não tem o mínimo pudor em alinhar na campanha.

Agora eu pergunto: não haverá jornalistas do Sporting? Pois é claro que há, alguns até lá estiveram recentemente a ganhar o seu e agora que a mama acabou, reclamam indemnizações. Mas é vê-los do alto da sua postura equidistante, a marcar a diferença com analises isentas e desapaixonadas, ás vezes até muito criticas em relação ao novo Sporting. O único que grita em contra mão é o Dolbeth, mas esse só está autorizado a falar no Canal Sporting.

Tudo isto até seria elogiável para quem é capaz de pensar pela sua cabeça e não segue guiões encomendados, mantendo uma louvável independência, mas quando se está no meio de uma guerra sem quartel e do outro lado há gente capaz de tudo, acham mesmo que vale a pena continuarmos a ser os diferentes?


Comentários