Que desplante Sr. Presidente!

Numa entrevista que recentemente concedeu à SIC, Bruno de Carvalho afirmou que por vezes também não gosta de ouvir aquilo que ele próprio diz, acrescentando que não se sente confortável no mundo do futebol, onde a ética está muito abaixo do último lugar.

Na verdade o estilo agressivo e por vezes de gosto muito duvidoso do Presidente do Sporting, tem chocado a generalidade da população que se interessa pela actividade desportiva no nosso País e gerado um ror de críticas nunca antes vistas, mesmo da parte daqueles que ao longo dos anos nos tem habituado a uma postura subserviente em relação aos donos da bola indígena, a maior parte dos quais não são propriamente grandes exemplos no carácter e na conduta.

Mas a realidade é que o Presidente do Sporting está a incomodar e a dizer algumas verdades sem medo, coisa que eles não estavam habituados, daí que estrebuchem por todos os lados numa campanha nunca antes vista. O que vale é que ele nunca apareceu em escutas reveladoras da forma como se manipulam os bastidores do futebol, e muito menos foi alvo de comunicados que ainda hoje se podem encontrar na internet, com uma simples busca em "os burros e a mudança", ou esteve envolvido em casos como os que levaram à prisão um antigo presidente de um dos clubes rivais, que chegou a ter um jornal e uma televisão por sua conta, só para a propaganda.

Afinal Bruno de Carvalho é só um rapaz malcriado que não respeita os poderes instituídos e gosta de ir à discoteca. Que desplante, que ultraje, chamar corrupto a um arbitro. Não há comparação com os que os recebem em sua casa na véspera dos jogos, ou com os que lhes oferecem "jantarezinhos", ou com os que frequentam casas de alterne onde arranjam companhia para irem ao Vaticano, ou com os que transformam o estádio do seu clube num entreposto colombiano.

Mesmo junto de muitos sportinguistas, esta postura de Bruno de Carvalho foi recebida com um misto de surpresa e incredibilidade, num Clube que estava etiquetado como diferente para melhor, pelo menos em matéria de saber estar, desportivismo, bom gosto e elegância.

Já há vários anos que defendo que faltava ao Sporting um líder aglutinador, dedicado e sem medo de enfrentar os poderes instituídos, condimentos que desde cedo me pareceu reconhecer em Bruno de Carvalho, daí que me tenha inclinado logo para ele, quando vi a sua primeira entrevista à então TV Record e que depois o tenha apoiado nas duas eleições que se seguiram.

Esse apoio no entanto não é nem nunca será incondicional, embora hoje quase três anos depois da sua eleição, eu esteja cada vez mais convencido das virtudes da minha escolha. Ao principio até estranhei algumas coisas, mas com o tempo fui percebendo que ele tinha a sua estratégia bem delineada e que sabia o que queria e como chegar lá. Por isso quem sou eu para lhe criticar o estilo?

Começou logo por afrontar sua alteza real "o papa" do futebol português. Na altura achei desnecessário e pouco prudente, mas parece-me que foi um acto simbólico e uma demonstração de coragem para marcar terreno. Inicialmente também não gostei de uma certa aproximação ao Benfica, mas felizmente isso passou rápido e depressa Bruno de Carvalho percebeu que as alianças apenas servem para os dedos.

Depois do episódio mal gerido e pior explicado com Marco Silva, Bruno de Carvalho também percebeu que o futebol tem de ser entregue a quem sabe da poda e não poderia ter escolhido ninguém melhor do que Jorge Jesus e Octávio Machado, que cada um na sua área, foram realmente mais valias para o Clube.

O futebol não é um mundo para anjinhos e há alturas em que é preciso partir a loiça toda. É certo que Bruno de Carvalho às vezes até parte a louceira, mas também já percebi que isso faz parte da personalidade dele e o que me importa é que os interesses do Sporting sejam sempre defendidos e nisso ele tem sido incansável. Quero lá saber se é a berrar e com palavrões, ou se é com facciosismo e outros excessos, não quero é como dizia o outro, continuar a ser comido em molho de cebolada. Disso já estou eu farto e já percebi que com paninhos quentes não vamos lá.

Tem toda a razão Bruno de Carvalho quando afirma que não podemos continuar a ser os bonzinhos enquanto os outros ganham campeonatos, portanto se é para ir para a guerra temos que ir todos atrás dele que é o nosso general sem medo a caminho de um lugar na história. Sendo assim estou com ele. Força Presidente, só se perdem as que forem ao lado.

Comentários