O primeiro milagre de Jesus

Durante a época passada levei um ano inteiro a ouvir os doutos comentadores encartados do futebol português, a afirmarem categoricamente que o Sporting não podia competir com o Benfica e muito menos com o FC Porto, pois havia uma grande diferença de potencial entre os Leões e os seus rivais.

Mas eu cá no meu modesto entender nunca vi essas diferenças, não só em termos de potencial, como principalmente no que diz respeito a jogo jogado, como de resto se pôde confirmar nos confrontos directos, nos quais o Sporting empatou duas vezes com o Benfica, sem nunca ter sido minimamente inferior ao seu rival, e só não ganhou o segundo jogo por mero acidente.

Com o FC Porto foram três os jogos e no primeiro o Sporting foi claramente melhor durante a 1ª parte, altura em que poderia ter arrumado a questão, embora depois os portistas tenham reagido bem e até podiam ter ganho, mas o empate aceitava-se. No jogo da Taça o treinador portista menosprezou o Sporting e foi arrumado sem contemplações, enquanto no terceiro confronto, houve realmente um grande desequilíbrio, mas o Sporting vinha de um jogo muito desgastante com o Wolfsburgo.

Onde realmente se verificavam grandes diferenças era a nível dos orçamentos, mas nem sempre gastar muito significa gastar bem, principalmente se o poder for todo depositado num homem como esse tal Lopetegui, ou lá como é que se chama esse espanhol que chegou a Portugal armado aos cágados e apesar de tudo lhe terem dado, não ganhou nada.

Em relação ao Benfica a diferença não foi só no orçamento, estendeu-se principalmente ao manto protector, ou ao colinho, que foi permitindo à equipa ganhar quando atravessou os piores momentos de forma, graças a muitos apitos e bandeirinhas amigos.

Esta época tudo parece ter mudado, pois agora os mesmos comentadores descobriram que afinal o Sporting já é candidato e até reúne favoritismo em relação ao Benfica para o jogo da Supertaça. Mas afinal o que é que terá mudado assim de repente, pergunto eu?

Pois bem no Benfica saíram Maxi Pereira e Lima e entraram para aí uma dezena de jogadores, entre os quais um tal Mitroglou que o Sporting tentava contratar há mais de um mês, e que o Benfica contratou num dia. Para além disso o sorteio dos árbitros foi chumbado para alegria de toda a lampionagem, que assim continua fiada nas convenientes nomeações de Vítor Pereira. E depois ainda há a famosa estrutura e a grande formação do Seixal.

Já o FC Porto continua a vender e a comprar por muitos milhões, mas com o tal Lotepegui não se pode esperar grande coisa, mesmo que sejam capazes de apanhar um Danilo sem as dificuldades que o Sporting vai tendo para garantir uma contratação aparentemente simples como esta. O que vale é que existem milhares de jogadores, e sempre restam alguns para o Sporting.

Bom e o Sporting, afinal o que é que o transformou de repente num grande candidato. Saiu Cédric e entrou João Pereira, numa troca que não terá grande peso em termos de qualidade. Para o centro da defesa chegou um tal de Naldo que ainda está por se apurar se é melhor do que o lesionado Ewerton, ou se pelo contrário será mais um mongo como parece ser o Michael Ciani.

Na frente saiu Nani e entrou Bryan Ruiz, será que foi uma troca vantajosa? Duvido. Depois veio Teo Gutierrez para o ataque, um jogador que também ninguém sabe se vai acertar e que para já parece longe de ter capacidade para entrar de caras na equipa, mas ainda se espera alguém para o lugar de Junya Tanaka que vai ficando para fazer número, agora que o tal grego resolveu aterrar mais ao lado.

Para além disso a lesão de William Carvalho foi um grande revés para os planos de Jorge Jesus e agora vem aí um brasileiro de 19 anos para compor um meio campo, que ficou órfão do seu melhor jogador e entregue a palhinhas e semedos, o que obriga Adrien Silva a desempenhar um papel para o qual não está talhado.

Então onde é que está esse milagre que transformou o Sporting de um condenado a lutar com o Braga pelo 3º lugar, num candidato firme ao título e favorito à vitória na Supertaça. Só pode ser uma fé inquebrável em Jesus. Resta saber se o homem faz mesmo milagres, porque nos orçamentos e nas arbitragens tudo continua na mesma, e os planteis também não mudaram assim tanto.


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