A cor da gravata ou a dor do corno

Jorge Jesus foi treinador do Benfica durante 6 anos, período em que se viu envolvido em algumas polémicas, graças ao seu carácter buliçoso. Foram provocações aos treinadores adversários, bocas desnecessárias aos rivais, empurrões a torto e a direito e até uma briga com a policia, que foi a única situação onde o então intocável treinador, foi realmente atacado, porque o resto passou completamente ao lado das grandes discussões, sendo tudo considerado como coisas normais, resultantes do calor das emoções do Futebol.

Bastaram no entanto os dois meses e meio que passaram desde que Jorge Jesus assinou pelo Sporting, para que de repente se descobrisse que ele era um provocador nato sem carácter, capaz de tudo e mais alguma coisa, passando a ser odiado, até por aqueles que antes o defendiam em todas as circunstâncias.

 Mas vamos por partes. Em primeiro lugar Jorge Jesus saiu do Benfica porque o Vieira assim o decidiu. Diz-se que por sentir necessidade de demonstrar que a famosa estrutura benfiquista era mais importante do que um treinador que cada vez mais reclamava ser o cérebro do regresso do Benfica à liderança do futebol português, mas o que interessa é que essa foi uma decisão tomada com toda a legitimidade, embora nunca assumida e muito menos explicada.

E porquê toda esta ambiguidade? Simplesmente porque o Vieira viveu sempre no terror de ver Jorge Jesus no FC Porto e, de resto só depois de Pinto da Costa ter garantido que Lopetegui continuava no Dragão, é que o Presidente do Benfica reuniu com o seu treinador, pretensamente para discutir a renovação do contrato, embora na realidade o que tenha feito, foi apontar-lhe a porta da rua, sugerindo-lhe a possibilidade de ir para o Qatar ganhar milhões, que o Benfica nunca lhe poderia pagar e quiçá num futuro próximo, uma hipótese de treinar um bom clube na França.

Jorge Jesus não gostou e teve todas as razões para isso, pois se o Benfica tinha toda a legitimidade para dar por encerrado aquele ciclo, a partir daí não tinha nada a ver com o futuro do seu treinador, que teria todo o direito de escolher o seu próximo clube, sem precisar dos conselhos de quem o queria despachar, mas para bem longe.

Não sei quando é que o Sporting entrou nesta história, mas Bruno de Carvalho teve uma jogada de mestre quando aproveitou a situação, o que lhe permitiu calar as vozes discordantes com o despedimento de Marco Silva e simultaneamente contratar um grande treinador e desferir um rude golpe no rival do lado.

A partir daí o que se tem verificado é um ataque desenfreado ao treinador do Sporting, por parte do Benfica, que ao que se diz ainda tentou manter Jorge Jesus à última da hora, mais para evitar a sua passagem para Alvalade, do que propriamente por convicção, mas já era tarde.

Primeiro começaram a falar de ingratidão, como se Jesus fosse obrigado a ir para onde eles entendessem, depois retiraram a sua imagem da placard dos campeões no Museu e impediram-no de ir buscar as suas coisas ao Seixal, a seguir começaram os boatos com a história das sms e finalmente este ridículo pedido de indemnização.

 Em relação a este último caso, é evidente que a partir do momento em que Jorge Jesus assinou contrato pelo Sporting, começou imediatamente a participar em tudo o que dizia respeito à planificação da temporada que se avizinhava, mesmo que ainda estivesse sob contrato com o Benfica, mas em gozo de férias. No entanto não há nada de anormal nisto, que de resto é pratica corrente em todo o lado, os clubes não podem parar e os treinadores tem que seguir as suas vidas. Se Jorge Jesus tivesse ido para o Qatar ou para as Berlengas, seguramente que ninguém do Benfica se teria preocupado com aquilo que ele estava a fazer nas suas férias.

Há também que reconhecer que Jorge Jesus não tinha necessidade nenhuma de mandar aquelas bocas antes do jogo da Supertaça, nem precisava de ser ter metido com o Jonas no fim do jogo, mas o que é que querem, o homem é assim e, isto são coisas normais, resultantes do calor das emoções do Futebol, ou pelo menos eram.

Quanto às sms, Jorge Jesus desafiou a que as mostrassem, mas até deveria ter sido mais duro, isto se realmente não houve troca de mensagens para além das tais questões de amizade que ele referiu. Podem no entanto ter a certeza que as tais sms nunca vão aparecer. Quem as espetou no pasquim da manhã, trabalha no escuro e não vai dar a cara. Os jornaleiros escudam-se nas fontes e estas aproveitam cobardemente o anonimato para espalhar a confusão.

No meio desta história toda, o episódio menos dignificante para o Sporting, foi a intervenção do Presidente Bruno de Carvalho que desceu ao nível de um insignificante funcionário do Benfica, a quem se deu ao trabalho de responder. Com gente daquela nem os tratadores da relva  devem perder tempo.

O resto é folclore que infelizmente faz parte do Futebol, mas é curioso que tenham bastado uma dezena de semanas para que tanta gente tenha descoberto que afinal Jorge Jesus é um mauzão, mas na realidade a única coisa que nele mudou nas últimas semanas, foi a cor das gravatas, de resto o homem continua igual a si próprio, pouco hábil com as palavras, por vezes arrogante e inconveniente, mas genuíno e principalmente competente e ganhador e, é isso que lhes doí, é a chamada dor de corno.

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