Jorge Jesus no Sporting

Quando há dois anos atrás se discutia a permanência ou não de Jesualdo Ferreira no Sporting, eu escrevi que mesmo não gostando muito do Professor, até aceitava a sua continuidade, desde que essa fosse uma decisão tomada por convicção e, não apenas resultante de alguma pressão da comunicação social e dos adeptos.

No entanto percebeu-se que não havia aquela química necessária entre o treinador e o Presidente, pelo que sendo assim o melhor era mesmo partir para outra solução, e aí pareceu-me que a opção Leonardo Jardim era realmente a melhor entre aquelas que realisticamente poderiam ser possíveis, sendo também de aplaudir a rapidez com que o problema foi resolvido, numa antecipação a Pinto da Costa, pois estou convencido de que o treinador madeirense teria ido para o Porto se não tivesse sido contratado pelo Sporting.

No final da época passada o balanço do trabalho de Leonardo Jardim tinha de ser considerado positivo e sua continuidade parecia-me o melhor caminho, mas as declarações de Bruno de Carvalho a subir a fasquia dos objectivos para a temporada seguinte, às quais Jardim reagiu com a sua habitual postura cautelosa, colocando alguma água fria no entusiasmo do Presidente, foram o prenuncio de uma separação que se adivinhava, o que habitualmente me deixaria muito preocupado, pois sempre fui defensor da aposta num treinador a longo prazo.

No entanto mais uma vez Bruno de Carvalho resolveu o problema de uma forma célere e eficaz, recebendo uma compensação pela saída do técnico madeirense para o Mónaco e contratando Marco Silva, um jovem que na minha opinião tem tudo para se tornar num grande treinador, de tal forma que eu acreditava que a troca até poderia ser vantajosa para o Sporting.

Tal como em relação a Leonardo Jardim, o balanço do primeiro ano de trabalho de Marco Silva foi na minha opinião positivo, mesmo que nenhum dos dois tenha feito nada de extraordinário, digamos que fizeram o que era possível, dentro das condições que lhe foram proporcionadas.

No entanto neste último caso, depressa se percebeu que o relacionamento entre o Presidente e o treinador não era o melhor e, sendo assim o melhor mesmo era consumar a separação. Não vou agora discutir aqui as razões de um e de outro lado, porque isso já nada adianta, mas desta vez Bruno de Carvalho ao despedir um treinador querido pela maioria dos sportinguistas e que acabara de ganhar a Taça de Portugal, meteu-se num caminho apertado, arriscando-se a sair de lá numa posição muito dificil.

Só que o Presidente do Sporting voltou a resolver o problema da melhor maneira possível, contratando um treinador de créditos firmados, que era de facto a única solução que lhe restava, para abafar o ruído de um despedimento mal explicado e dar algumas garantias no que diz respeito às suas ambições para a próxima temporada.

No entanto a contratação de Jorge Jesus não deixa de envolver alguns riscos e de certa forma significa um arrumar na gaveta de uma parte do projecto estabelecido para o Futebol do Sporting, o que na minha opinião nem é mau, pois sempre disse que este era um dos pontos fracos do programa de Bruno de Carvalho.

Resta saber até que ponto o novo treinador do Sporting tem capacidade para ser mais do que isso e assumir a responsabilidade total pelo Futebol leonino. Eu acredito que sim, mas também fico expectante no que diz respeito à convivência entre dois homens de trato difícil como são Jorge Jesus e Bruno de Carvalho, mas confesso que mais uma vez tenho não só de aceitar a solução encontrada como até considerá-la muito aliciante.

Para o fim deixei a parte pior, ou seja a forma inqualificável como Marco Silva foi despedido, o que não só não engrandece o Sporting, como provavelmente terá os seus custos, isto sem esquecer a declaração de Bruno de Carvalho, a confirmar a contratação de Jorge Jesus, quando afirmou que este nada tinha exigido para além de ir treinar o clube do seu coração, quando já se sabe que as imposições são muitas, logo a começar pela cabeça de Inácio e, se há coisa que eu não gosto é que me tentem passar por parvo.

Será também curioso assistir a muitos flic-flacs à retaguarda, daqueles que em relação a Marco Silva, enchiam a boca com aquela conversa dele não se enquadrar no projecto do Sporting, assente na sua formação e no aproveitamento dos jogadores da equipa B. Para já na sua crónica de ontem o José Eduardo nem uma palavra escreveu sobre o projecto de que se considera o grande mentor. Engoliu em seco e o melhor é ficar mesmo caladinho, que com o Jesus ele não vai brincar.

Passando por cima destes tristes episódios que tiveram o seu ponto mais execrável quando circulou por essa Internet fora uma lista de razões para o despedimento de treinador do Sporting bem demonstrativa daquilo que algumas pessoas são capazes de fazer, agora resta-me esperar que o Jesus confirme no Sporting tudo o que demonstrou ser capaz de fazer no nosso rival e que o nosso Presidente consiga dar-lhe as condições necessárias para que ele satisfaça o grau de exigência que Bruno de Carvalho quer impor no nosso Clube e ao qual já me começo a habituar e a aceitar.

Eu acredito e estou inteiramente com eles, e agora apenas espero que este seja um casamento bem sucedido.

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