Alguém percebeu?

Quando tomei conhecimento da conferência de imprensa de Bruno de Carvalho, anunciada para o final da tarde de ontem, a primeira ideia que me ocorreu foi que o Presidente ia finalmente anunciar a continuidade do treinador, e pensei para comigo que era uma atitude que pecava por tardia, mas mais valia tarde do que nunca.

Foi pois com algum espanto que assisti a um discurso cheio de metáforas e indirectas que só serviu para lançar mais achas para uma fogueira que é naturalmente alimentada pela comunicação social, não esclarecendo absolutamente nada, de tal forma que fiquei sem perceber se realmente Bruno de Carvalho está à espera da Final da Taça de Portugal para se sentar com Marco Silva e tomar uma decisão em relação ao futuro do treinador, ou se pelo contrário o destino deste já está traçado e não passa por Alcochete, como talvez se possa depreender das promessas de na altura certa tudo explicar aos sócios.

O que não percebi bem foi para que é que serviu esta conferência de imprensa, que me pareceu um misto de ameaças aos desalinhados, recados ao treinador e auto-vitimização, porque parece que está toda a gente contra ele.

Na minha opinião Marco Silva deveria ficar independentemente do resultado da Final da Taça. Em primeiro lugar porque acredito que ele tem todas as condições para se tornar num excelente treinador e depois porque sou e sempre fui defensor da necessidade de se dar tempo aos treinadores para mostrarem serviço, principalmente num Clube como o Sporting que na minha maneira de ver deve apostar na sua formação, não apenas por não dispor dos meios financeiros dos outros, mas por convicção.

Por isso penso que o Presidente deveria ter cortado logo o mal pela raiz, dando um voto de confiança público e privado ao seu treinador, fazendo-o participar no planeamento da próxima época e afirmando taxativamente "Marco Silva será o treinador em 2015/16 e ponto final". Até o Vieira  fez isso com o Jesus há dois anos, depois perdeu a Taça e teve de repensar, mas pelo menos abafou o assunto até ao final da época. Em vez disso temos conversa da treta sobre o Marco e o seu macaquinho e outras coisas que ninguém entende.

Apesar de todas as opiniões que atrás exprimi, a experiência diz-me que nestes casos não vale a pena alimentar relações deterioradas como parecem ser as que arrastam entre o Presidente e o treinador, portanto se Bruno de Carvalho não quer continuar a trabalhar com Marco Silva, está no seu direito, mas simplesmente deveria assumi-lo, porque quer ele queira quer não, a responsabilidade desta opção ser-lhe-à sempre imputada, o que não pode, ou pelo menos não deve, é ficar à espera de uma derrota para justificar essa decisão.

Se o Sporting perder a Taça para o Braga, o Presidente terá a justificação que procura para despedir o treinador, mas mesmo assim não se vai livrar das acusações de ter destabilizado a equipa. Se pelo contrário o caneco vier para Alvalade, cheira-me que a questão se vai arrastar durante mais algum tempo, até se encontrar uma saída que dificilmente será tão tranquila como foi a de Jardim, porque não é todos os dias que aparecem Mónacos dispostos a pagarem por treinadores.

Mas aí Bruno de Carvalho ficará com uma bomba nas mãos, que será a escolha do novo treinador, uma decisão onde ele não pode falhar, principalmente depois de na minha opinião, que julgo ser a da maioria dos sportinguistas, ter acertado duas vezes e não ter conseguido manter esses treinadores.

Começa a criar-se a imagem de que não é fácil conviver com um Presidente como Bruno de Carvalho, que quer ganhar já, algo que não tem nada de errado e que é comum a todos os sportinguistas, mas que depois dessas exigências, reserva ao treinador um papel pouco interventivo na construção do plantel e ainda por cima não partilha responsabilidades nos insucessos da equipa.

Esta situação e as limitações orçamentais que afligem o Sporting, seguramente que não permitem aos sportinguistas sonharem com a contratação de um treinador de prestigio indesmentível. Estaremos pois condenados a levar com um treinador de baixo perfil, que se sujeite a tudo para trabalhar no Sporting, ou com um estrangeiro que venha ao engano sem saber bem aonde se vai meter. A não ser que o Presidente perceba finalmente que para exigir tem de partilhar responsabilidades e dar tempo e condições de trabalho à sua equipa técnica. No entanto já se viu que ele não é homem para ter muita paciência, só que agora se falhar na sua próxima escolha, não vai ter macaco que o salve das criticas com que tanta dificuldade tem em conviver.






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