A continuidade de Marco Silva

Aqueles que tem a amabilidade de acompanhar os meus escritos, sabem que há muito tempo que defendo a estabilidade como um factor determinante para a realização de um trabalho de fundo no futebol do Sporting, sendo que por norma sou contra o despedimento dos treinadores, embora no caso do nosso Clube, o problema na maior parte das vezes tem estado na escolha desses treinadores, algo que me parece ter sido invertido por Bruno de Carvalho, que na minha opinião acertou em cheio nos dois que contratou, embora depois por razões várias não tenha sido capaz de lhes assegurar a tal estabilidade que me parece fundamental.

Mesmo que no futebol português seja muito difícil assistirmos a consulados de longa duração, principalmente devido à mentalidade dos nossos adeptos, que devem ser os mais entendidos de todos em relação ao futebol e que portanto depressa se fartam dos seus treinadores, pois exigem que ganhem sempre e a todo o custo, a verdade é que um pouco mais ao lado de Alvalade, temos um bom exemplo dos resultados que podem ser conseguidos quando se deixa um treinador trabalhar, mesmo que ele não seja consensual entre os adeptos, nem esteja isento de erros.

No Sporting que eu me lembre o mais perto que estivemos de um trabalho de fundo foi no tempo de Paulo Bento, mas este treinador nunca foi totalmente aceite por muitos sportinguistas, ao ponto de ter sido vitima de uma campanha orquestrada, que visava essencialmente derrubar o regime instalado na altura e que tinha nele um dos seus mais fortes  alicerces.

Lembro-me perfeitamente de quando Paulo Bento saiu do Sporting ter afirmado que muitos daqueles que tudo tinham feito para o pôr a andar, ainda iam ter saudades das tacinhas que ele ganhou e dos segundos lugares conseguidos e a verdade é que de lá para cá, já vamos no nono treinador, fora os interinos e nunca mais se ganhou nada, enquanto no campeonato, apenas Jardim conseguiu repetir a insuficiente 2ª posição e até já batemos o nosso recorde negativo, com um impensável 7º lugar.

A discussão do momento no Sporting é a continuidade de Marco Silva, um tabu que resulta do lamentável desentendimento entre treinador e presidente, que aconteceu no final do ano passado e que deixou marcas profundas na relação entre eles e também na postura de um determinado grupo de adeptos, que não vai largar o pé do treinador, da mesma forma que não largou o do Paulo Bento, principalmente porque para eles os interesses do Sporting são acima de tudo os interesses de Bruno de Carvalho, que agora representa a viragem há anos desejada e que em boa hora chegou, o que não significa que eu agora seja do BdCCP.

Diga-se que o Presidente do Sporting também contribuiu para este clima de incerteza e especulações, ao afirmar que o 3º lugar e a vitória na Taça de Portugal eram os objectivos mínimos a atingir, pelo que nesta altura já haverá muita gente ansiosa por uma vitória do Braga, que possa legitimar o despedimento de Marco Silva, pois por mais que nos custe, temos muitos Zé Eduardos por aí.

O problema é que mesmo ganhando não se sabe se o treinador continua e a sensação que passa cá para fora é que não há uma consonância total entre os principais responsáveis pelo futebol leonino, daí todas especulações sobre a preparação da próxima temporada, porque isso de dizer que somos candidatos ao título, mesmo com um orçamento muito mais pequeno do que os rivais, é muito bonito, mas depois se não está tudo a remar para o mesmo lado a coisa torna-se mesmo impossível.

É minha convicção que Marco Silva tem tudo para vir a ser um grande treinador e que se lhe derem tempo e condições de trabalho, poderá melhorar o muito que de bom já foi feito esta temporada, mas tem de haver da parte da Direcção uma postura clara em relação a esta matéria, ou então os responsáveis ficarão ao nível do adepto que assobia na bancada ou atira pedras nos fóruns e depois ou muito me engano ou estaremos mais uns anos a chorar sobre o leite derramado, porque se não é fácil encontrar bons treinadores, ainda é mais difícil trazê-los para Alvalade.