Carta aberta a Bruno de Carvalho

Não vou estar na próxima Assembleia Geral, e mesmo que lá estivesse confesso que não sei se teria coragem para subir ao palco e falar aos sportinguistas. Tenho mais jeito para escrever do que para falar e nunca discursei perante uma grande audiência. Temo que se o fizesse, seria traído pelos nervos e não conseguiria expressar com a fluência e nitidez necessárias, tudo que me vai na alma. Assim proponho-me a escrever uma carta aberta ao Presidente Bruno de Carvalho, embora não faça a mínima ideia de como fazê-la chegar a ele, pois este meu blogue é insignificante.
Sr. Presidente, lembro-me da primeira vez que o vi numa entrevista que deu à TV Record e, logo aí senti que podia estar na presença do líder que o Sporting precisava. Foi com grande tristeza que assisti ao sucedido nas eleições de 2011 e foi com enorme alegria que vivi a vitória de 2013. Daí para cá o Presidente Bruno de Carvalho tem não só confirmado as expectativas que depositava nele, como em alguns casos até as tem excedido.

O Sporting que estava à porta de um PER, fez a sua reestruturação financeira, que nessa matéria não resolveu todos os problemas da SAD e do Clube, mas colocou-os numa situação de estabilidade, que não sendo desafogada é governável.

Tem sido verdadeiramente extraordinária a coragem e a determinação reveladas pelo Presidente na luta contra os interesses instalados no futebol português e no nosso próprio Clube, sem esquecer as situações pouco claras que gravitam à volta deste negócio que é o futebol, nomeadamente em relação aos fundos e aos empresários. São também dignas de realce as acções e as propostas no sentido de melhorar e alterar o que está mal em várias áreas relacionadas com o futebol.

A tudo isto tem reagido com algum desconforto, a comunicação social portuguesa que na sua generalidade está associada aos interesses dos clubes nossos rivais, pelo que tudo se faz para desvalorizar e criticar  as iniciativas do Sporting e principalmente de um homem que começa a incomodar muita gente, sendo como tal escrutinados todos os seus movimentos, para à mínima coisa se disparar sobre ele, mesmo quando faz apenas o que os outros andam a fazer há 30 anos.

Desportivamente nestes dois anos o Sporting levou à prática o lema de fazer mais com menos, embora ainda se esteja longe daquilo que todos nós desejamos, mas os milagres não existem e não podemos exigi-los a esta Direcção, tal como a Direcção também não os deve exigir aos nossos treinadores e atletas.

É aqui que entro no que me motivou a escrever-lhe esta missiva. Ainda recentemente o Sr. Presidente afirmou na Sporting TV que quando se tomam dezenas de decisões por dia, é natural que se tome uma decisão má, mas que nessa altura temos de ter capacidade de a resolver. Pois Sr. Presidente é isso que eu lhe peço que faça rapidamente, em relação à decisão que tomou ao criticar a nossa equipa de futebol e o seu treinador publicamente, abrindo uma crise desnecessária num sector vital da vida do Clube, que ao contrário do que infelizmente também disse nessa sua intervenção na Sporting TV, não é fruto da especulação da comunicação social, nem da má vontade dos seus inimigos internos. O problema é real e grave e isso toda a gente vê, pelo que negá-lo também não foi uma boa decisão.

Na minha opinião, que é idêntica à da esmagadora maioria dos sportinguistas com quem troco diariamente opiniões, quer pessoalmente, quer virtualmente, e acredite que são muitos, nesta situação o senhor cometeu pela primeira vez um grande erro, que não só ainda não foi capaz de emendar, como tem vindo a agravá-lo, deixando que se arraste no tempo.

Mesmo que se por absurdo, aquilo que o Sr. José Eduardo disse e escreveu sobre Marco Silva fosse verdade, o que o Senhor teria de ter feito era confrontar o visado com as suas diabólicas acções e despedi-lo, porque nesse caso certamente haveriam razões para isso, explicando depois tintin por tintin a situação aos sócios, que seguramente se devidamente esclarecidos, entenderiam a sua decisão. 

No entanto estou completamente convencido que a questão resulta apenas das divergências entre o treinador e a estrutura do futebol, no que diz respeito à construção do plantel, tendo em conta os objectivos estabelecidos.

É verdade que quando o Marco Silva veio para o Sporting já sabia que o objectivo para esta época era o título e que a SAD tinha limitações financeiras, mas também temos de reconhecer que a política de contratações não tem sido muito bem conseguida, vai daí eu tenho de concluir que as responsabilidades daquilo que não tem corrido bem nesta temporada, e não me parece que seja assim tanto quanto isso, tem de ser divididas por todos. Os jogadores porque não renderam aquilo que deles se esperava, o treinador porque não pôs a equipa ao nível das exigências da estrutura do futebol e esta última porque errou em algumas escolhas e como tal foi longe de mais nos objectivos propostos.

Gostaria ainda de lhe dizer que lhe louvo a sua paixão e dedicação total ao nosso Sporting, mas ninguém consegue fazer tudo sozinho e estar em todo o lado ao mesmo tempo, pelo que necessita de se rodear de pessoas capazes de o ajudar, mas os seus melhores companheiros de luta não são os que lhe dizem sempre que sim e que tiram o chapéu da cabeça quando passa, o verdadeiro amigo é aquele que sabe dizer não na hora certa.

Voltando atrás e para concluir, peço-lhe que resolva de uma vez por todas um problema para o qual muito contribuiu. Ou despede o treinador e assume por inteiro as responsabilidades do que daí resultar e aposto que não vai ser nada de bom, ou então ponha uma pedra sobre o assunto apoiando o técnico com quem assinou um contrato de 4 anos, de uma forma inequívoca e dando-lhe as condições necessárias para melhorar a equipa, fazendo-o participar nas escolhas dessas soluções, evitando-se assim atritos e dividindo-se responsabilidades. Caso contrário que se redefinam os objectivos, porque dar um passo atrás nem sempre significa uma derrota. Não conheço nenhum sportinguista que não tenha ficado feliz quando fez as pazes com o Manuel Fernandes. Foi um acto que só o engrandeceu.

O que não pode é continuar esta situação em que Presidente e treinador estão de costas voltadas, parecendo que o primeiro está à espera das derrotas da equipa para despedir o segundo, enquanto este quando ganha um jogo com os jogadores defendidos pelo outro, fica com uma cara de enterro, tudo para gáudio dos nossos rivais que se fartam de nos gozar e agora com razões para isso, sem esquecer aqueles que depois de tão tristes figuras que fizeram quando passaram pelas Direcções anteriores, agora já se sentem no direito de sair do buraco para mandarem umas bocas. Não lhes dê esse gozo.

Sr. Bruno de Carvalho acabe já com isto e não desperdice a oportunidade de ficar na história do Sporting Clube de Portugal como um dos seus grandes Presidentes, na senda de homens como 
José AlvaladeJúlio de AraújoOliveira DuarteRibeiro FerreiraBrás Medeiros e João Rocha.


Um abraço verde e cheio de esperança do Sócio nº 27086

António Xavier Dias

PS- Depois de ver a intervenção do Sr, José Eduardo ontem na RTP, eu no seu lugar fazia uso de uma famosa frase do último Rei de Espanha e já agora se me permite Sr. Presidente, parece-me que a solução para todo este problema pode estar nas referências à politica de contratações constantes no seu programa eleitoral para o Futebol, que passo a citar:

"Cinco ou seis jogadores, numa escolha cirúrgica, experientes (ter em atenção que no futebol a experiência não está directamente relacionada com a idade) e capazes de acrescentar valor ao plantel existente, serão suficientes para a construção de uma equipa que possa lutar pelos objectivos curto, médio e longo prazo do Clube. Lutaremos por um Sporting Clube de Portugal Campeão!"

Jogadores estrangeiros não adaptados ao futebol português, apenas se forem mais valias claras.
"As contratações de jogadores estrangeiros não adaptados ao futebol português, estará sempre dependente de ser considerada pelo treinador principal e pela equipa directiva, como uma real valia para o reforço da equipa, apoiados em base nos relatórios emitidos pelos departamentos de scouting e sociológico"

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