O que eu penso ter percebido

Não é fácil perceber todos os contornos desta súbita crise que se abateu sobre o Sporting, porque há muita informação e contra informação a circular, mas mesmo não estando na posse de todos os dados, vou tentar tirar algumas conclusões daquilo que tenho visto, lido e ouvido.

Bruno de Carvalho dedicou-se por inteiro ao Sporting, entregando-se a esta missão com muita paixão e grandes ambições, o que não é bom, é óptimo, pois dedicação, paixão e ambição são coisas que faltavam há muito tempo nas lideranças tecnocratas do chamado Projecto Roquete. Mas nem só de virtudes é feito o homem e o Presidente do Sporting tem alguns defeitos. Um deles é ser um homem de excessos, que parece querer fazer tudo ao mesmo tempo e chegar a todo o lado muito depressa, o que o leva por vezes a precipitar-se e também a falar de mais.

As criticas publicas aos jogadores numa rede social e ao treinador num comunicado, foram um erro tremendo. Se havia alguma coisa para dizer ou resolver isso tinha de ser feito dentro de casa. Ao despejar tudo cá para fora Bruno de Carvalho instabilizou a equipa criando um ambiente de cortar à faca à volta do Clube.

Depois veio dizer que afinal não havia crise nenhuma era tudo especulação da imprensa, com os comentadores afectos ao Sporting a ajudarem à festa, numa intervenção quase patética que ninguém pode levar muito a serio e que não se sabe se é apenas um compasso de espera que poderá ser intrepertado como um reflexo de defesa perante a onda generalizada de criticas que Bruno de Carvalho foi alvo, mesmo da parte de muitos dos seus apoiantes, ou se será mesmo um repensar resultante quiçá de algum sábio conselho que lhe tenha aberto os olhos.

Parece-me que haverão pelo menos duas razões para esta travagem brusca que evitou o choque frontal quase à última da hora, mas não deixou de causar graves danos na embarcação: A primeira terá a ver com o facto de que uma mudança de treinador nesta altura, só por milagre é que não resultaria numa quebra da equipa em termos de produção e de resultados, situação cujo ónus da culpa recairia inteiramente sobre o Presidente, e que seria tão mais penalizadora para ele quanto piores fossem os resultados. Ou seja os riscos estavam todos de um só lado. A segunda tem a ver com as questões financeiras. Toda a gente sabe os apertos em que o Sporting vive e ainda agora foi anunciada a conclusão da reestruturação financeira, sem que tivessem aparecido os tais 18 milhões dos investidores. Ou seja o Sporting não tem folga nenhuma no orçamento e é também por isso que Bruno de Carvalho afirmou que os reforços estão na Equipa B.

A outra questão interessante deste imbróglio tem a ver com as temerárias declarações de José Eduardo que seguramente não as fez sem estar convencido de que a saída do treinador era um facto consumado. Eu até nem desgosto do que este sportinguista costuma dizer e escrever, mas também já há muito tempo que percebi que ele anda louco para arranjar lugarzinho lá no Sporting e vai daí talvez tenha resolvido prestar um serviço ao Sr. Presidente, lançando o odioso sobre o diabólico treinador que acabara de ser despedido, para pelo menos instalar a dúvida entre os sportinguistas, que assim quem sabe se mais facilmente condescendiam perante uma decisão pouco compreensível de Bruno de Carvalho, Se não foi isto então o bom José Eduardo foi comido por tonto ao deitar cá para fora a história que lhe encomendaram, para depois lhe retirarem o tapete enquanto ele se espalhava ao cumprido e desta vez quem partiu a perna foi ele, porque duma forma ou de outra, as suas ambições e credibilidade foram por aí abaixo.

E agora como é que ficamos? A sensação que dá é a que temos um treinador a prazo, que ou desata a ganhar para se aguentar no seu posto, ou então será despedido na primeira oportunidade, o que traduz uma espécie de paz podre que em nada favorece a equipa, pois os jogadores também sentem a fragilidade do treinador, embora o núcleo duro até se possa unir à volta dele.Mas deixar uma questão tão importante como esta, ao sabor dos estranhos desígnios de uma bola que entra ou não na baliza, não me parece uma grande ideia, pelo que na minha opinião a solução ideal continua a ser um entendimento a serio entre treinador e Presidente, com o recuo e a assumpção de responsabilidades a serem divididos por todos. Os jogadores porque não renderam aquilo que deles se esperava, o treinador porque não pôs a equipa ao nível das exigências da estrutura do futebol e esta última porque errou em algumas escolhas e como tal foi longe de mais nos objectivos propostos. Caso contrário mais vale partir para outra, se bem que nesta altura não será fácil arranjar essa outra, pelo menos ao nível que se exige para o Sporting.



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