Bruno de Carvalho ao ataque

Ontem o Presidente Bruno de Carvalho surpreendeu toda a gente com uma extensa declaração, onde voltou a disparar em várias direcções, incluindo desta vez o treinador Marco Silva e anunciou a convocação de uma Assembleia Geral extraordinária, que é não só um pedido de um voto de confiança aos sócios do Sporting Clube de Portugal, como um desafio àqueles que ele apelida de "forças internas que se opõem ao rumo traçado".

Já na 6ª feira durante a entrega dos Prémios Stromp ele tinha apontado o dedo aos tais inimigos internos, criticas que na minha opinião não terão sido feitas nem no momento, nem no local apropriados e que acima de tudo  me parecem estranhas vindas de um homem que atacou uma serie de interesses instalados, despediu não sei quantos membros do aparelho, mandou  fazer uma auditoria de gestão, da qual resultaram logo na primeira fase processos crime e depois reclama porque que os duques e condes do Sporting não estão com ele. Estava à espera de quê? De palmas e abraços?

Eu compreendo que um homem que se tem dedicado por inteiro ao Sporting e que em tão pouco tempo já fez tanto, se sinta injustiçado com algumas criticas, mas ele tinha de estar preparado para isso e, vindas donde quase todas elas vem, nem lhe deveriam fazer mossa. Por outro lado há que separar o trigo do joio e o Presidente não pode ter a pretensão de estar isento de críticas e muito menos de agradar a todos ou de ser perfeito, por isso é normal que mesmo entre aqueles que sempre o apoiaram, haja quem pense pela sua própria cabeça e não diga amém a tudo.

De qualquer forma esta nem é a parte que mais me preocupou na mensagem Bruno de Carvalho, porque embora o tal voto de confiança me pareça tão desnecessário como garantido, também não vejo mal nenhum em dar voz aos sócios, se bem que com o ambiente criado pela atitude do Presidente, não estejam propriamente criadas as condições ideais para uma discussão aberta e construtiva, nem me pareça que este seja o momento para tal. Ou seja, esta AG provavelmente vai ser apenas um cortejo de vénias à Direcção, sem grande valor prático na vida do Clube, para além do muito ruído que já está a provocar.

O que me preocupou mesmo a sério foram as farpas dirigidas ao treinador, que neste momento deve estar a pensar seriamente em apresentar a sua demissão, ou pelo menos em colocar o seu lugar à disposição do Presidente, um cenário que na hipótese de um resultado menos bom amanhã na Madeira, provavelmente tornar-se-à inevitável, pelo que esta ideia de criticar o treinador através de comunicados, em vez de o fazer olhos nos olhos, me parece ter sido um verdadeiro tiro no pé, que pode ter estragado o que ainda sobra desta temporada, o que não é pouco.

Por outro lado Bruno de Carvalho afirma que assume as suas responsabilidades perante as últimas exibições da equipa, mas depois diz estar muito satisfeito com o plantel que tem e que os reforços de Janeiro estão na Equipa B, não se coibindo de apontar nomes. Se isto é assumir responsabilidades vou ali e já venho. Será que os erros foram só do treinador e dos jogadores? Será que o plantel foi bem construído? Não faltará ali um patrão para a defesa? Será na equipa B que o treinador vai encontrar o substituto de Slimani no próximo mês, quando precisar de jogar com dois avançados? E quem será o eleito, Cissé ou o Enoh?

Bruno de Carvalho ainda era um simples sócio desconhecido, já eu defendia que uma das coisas de que o Sporting precisava urgentemente era de um líder forte e carismático. Lembro-me perfeitamente que na primeira entrevista que vi dele à TV Record, fiquei muito bem impressionado e que depois ao longo de seu percurso de candidato a Presidente me fui convencendo de que ele tinha realmente essas características. Na minha opinião o seu trabalho ao longo destes quase dois anos de gerência tem sido globalmente muito positivo, embora como é óbvio não esteja isento de erros, o maior de todos talvez seja intrínseco à sua personalidade, do tipo que sabe tudo, nunca se engana e tem sempre razão, o que o leva a conviver muito mal com as criticas.

Se calhar faltam à volta dele pessoas que o possam aconselhar, em primeiro lugar no Futebol (não, não voltar à questão do Director Técnico) e, depois a controlar-se um bocado nas situações de aperto,
onde é preciso alguma racionalidade e cabeça fria. É que se isto foi assim num cenário que não é propriamente uma crise aguda, imaginemos se a coisa fica mesmo preta.

Como o missal já vai longo, das relações exteriores irei escrever mais tarde, mas nessa área são poucos os reparos a fazer.


Comentários