Estamos muito melhor, mas ainda falta muito

Há sete meses fiz aqui um balanço da fase inicial do mandato de Bruno de Carvalho e agora passado que já está o primeiro ano desta gerência, acho que se pode dizer que o segundo semestre foi o da confirmação. Temos um novo Sporting e para melhor, muito melhor mesmo, embora pouco tenha mudado desde a minha anterior análise.

O que não mudou nada mesmo, foi a difícil situação financeira do Clube/SAD, mas aí não há milagres. Para já pelo menos estancou-se a onda de prejuízos, com uma gestão racional e inevitavelmente pautada pela austeridade, mas continuam a faltar os tais investidores que como é evidente nunca existiram e nem se sabe se será possível encontrá-los nas condições prometidas. De qualquer forma o essencial foi conseguido e o barco mantém-se à tona de água, com um rumo definido e em velocidade moderada, mas sem grandes balanços.

No Futebol julgo que nenhum sportinguista se atreveria a exigir mais, embora a verdade é que até poderia ter acontecido um verdadeiro milagre.Aqui Leonardo Jardim e Bruno de Carvalho são sem dúvidas algumas os principais responsáveis pelo enorme salto dado. O primeiro realizou um trabalho quase irrepreensível, gerindo com grande eficácia os meios disponíveis e valorizando enormemente um plantel com muitas limitações, enquanto ao segundo há que atribuir o mérito de ter acertado na escolha do treinador, mesmo contra muitos ventos e marés e de ter sabido mexer-se num meio ao qual era estranho, impondo uma cultura de exigência e rigor ao grupo e, actuando quase sempre de uma forma apropriada e nas alturas certas.

Curiosamente foram também estes dois homens que na minha opinião falharam no momento decisivo do campeonato, ou seja quando o Sporting perdeu na Luz e ficou irremediavelmente afastado do 1º lugar. Eu até compreendo que atendendo às dificuldades que a equipa vinha demonstrando nos últimos jogos, Leonardo Jardim quisesse mudar alguma coisa, mas não era contra o Benfica que deveria ter arriscado tanto, ainda por cima atendendo a que nos dois derbys anteriores, o Sporting não tinha sido em nada inferior ao seu rival, isto para além de naquela altura o Sporting não estar obrigado a ganhar aquele jogo. Se faltassem só duas ou três jornadas, eu até entendia, mas ainda havia muito campeonato para jogar e um empate até tinha servido.

Quanto ao Presidente o seu erro foi não ter dito basta antes desse jogo, quando o Sporting já tinha sido prejudicado várias vezes e voltou a sê-lo no jogo com a Académica, em que não só ficou por marcar um penalti, como também foi evidente a vontade com que o árbitro de serviço mostrou um cirúrgico cartão amarelo a William Carvalho, afastou-o do derby. Depois quando na sequência de mais uma roubalheira em Setúbal, Bruno de Carvalho resolveu partir a loiça toda, já era tarde.

Penso no entanto que este episódio serviu para abrir os olhos ao Presidente, que daí para a frente mudou um pouco o seu discurso em relação ao Benfica, com o qual até aí tinha tido alguma condescendência, que me pareceu tão estratégica como os ataques declarados ao FC Porto. Espero simplesmente que as distâncias sejam para manter, quer em relação a um quer em relação ao outro.

Muito positivas foram as intervenções junto de várias entidades, seja na área do poder politico, seja no âmbito desportivo, com propostas muito válidas, que foram recebidas com manifesto incómodo da parte dos nossos rivais, que não querem perder os poderes que dividem há muitos anos. A argumentação de que somos uns coitadinhos que não pudemos mudar certas regras, é própria dos medíocres e a verdade é que a luta por questões tão fundamentais como a introdução do video-árbitro, ou seja lá como o quiserem chamar, tem de ser assumida por todos os que defendem a verdade desportiva, até que há-de chegar o dia em que os poderes instituídos cairão de podres. De resto a lista de propostas válidas e importantes para a melhoria do Futebol é notável e reveladora de uma enorme vontade de trabalhar e um grande conhecimentos dos processos em questão.

O relacionamento com os adeptos e a disponibilidade demonstrada pelo Presidente continua a ser excepcional, mas estas medidas no sentido de entregar a politica de comunicação do Clube a uma empresa assustam-me, porque os profissionais nesta área regem-se invariavelmente por questões economicistas que na minha opinião devem ser secundárias, pelo menos em relação ao jornal que não pode nem deve competir com a imprensa do sector, mas não deixa de ser um instrumento fundamental, desde que se perceba qual a sua verdadeira função. O mesmo se aplicando de certa forma em relação ao site, que também precisa de dar uma grande volta, mas que não deve ser entregue a quem não faz a mínima ideia do que é o Sporting.

Sobre a TV nem me atrevo a falar, até porque por enquanto pouco ou nada se sabe em relação ao seu arranque, mas confesso que não estou muito optimista em relação a este processo, que terá sempre algumas limitações relativas ao orçamento disponível para um projecto que tem os seus custos, o mesmo se poderá dizer em relação ao pavilhão que está numa fase ainda mais atrasada, mas que padece das mesmas limitações orçamentais.

Enfim, um ano passou e estamos muito melhor, agora vem a fase da consolidação, na qual espero que não se cometam grandes erros e que haja da parte dos sportinguistas capacidade para ajudar e perceber as dificuldades que aí vem.

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