BASTA! - diz o Presidente

Estive a ver atentamente a conferência de imprensa de Bruno de Carvalho que na minha opinião só peca por tardia, pois deveria ter acontecido depois do jogo com a Académica, no qual não só ficou por marcar um penalti à beira do fim, que nos poderia ter permitido chegar à Luz em igualdade com o Benfica, como foi mostrado um cirúrgico e muito zeloso cartão amarelo a William Carvalho, que o afastou desse jogo decisivo, onde muita falta fez.

Teria sido nesse momento, quando o título ainda era possível, que o Presidente deveria ter posto a boca no trombone, como de resto eu aqui escrevi nessa altura, mas parece-me que em nome de uma evidente aproximação ao Benfica, se passou à frente, ao contrário do que agora acontece, porque a luta é contra o inimigo de estimação.

Agora é chorar sobre o leite derramado, mas diga-se que o efeito prático destas reacções é mais simbólico do que outra coisa, constituindo acima de tudo uma forma de pressionar os árbitros que aí vem, coisa que eles já estão mais do que habituados, embora só se mostrem incomodados ou façam greves, quando o barulho vem de Alvalade.

Quanto à conferência de imprensa em si, o Presidente diz que chegou a hora de todos os sportinguistas dizerem "BASTA", e de se unirem na defesa do nosso Clube, apelando especialmente àqueles que tem voz nas tribunas públicas, ressalvando no entanto que tudo deve ser feito de uma forma pacífica, consciente dos perigos de que tais apelos possam levar à violência, o que de resto é a leitura que muitos fizeram.

Sinceramente eu não sei o que é que os sportinguistas podem fazer perante uma situação que já dura há mais de 50 anos, nem sequer sei como é que a Direcção do Sporting poderá lutar contra isto, para além do que já fez em matéria de propostas concretas para a regeneração do futebol português, coisa que como é evidente em nada interessa a quem puxa os cordelinhos nos bastidores há anos a fio e, que obviamente não quer perder os poderes que detém.

Aqui não há diferenças nenhumas entre FCP e SLB, ou entre Costa e Vieira, é tudo farinha do mesmo saco, pelo tudo o que vá para além do relacionamento puramente institucional com essa gente, é pecado mortal e, espero que Bruno de Carvalho tenha aprendido isso e acabe definitivamente com essa aberrante aproximação aos vizinhos do lado.

Ao longo dos quase quarenta anos em que acompanho com interesse o futebol, já vi de tudo no Sporting. Desde as guerras que João Rocha travou ingloriamente contra tudo e contra todos, num período muito difícil no qual o Porto montou o famoso sistema que sustentou o crescimento do seu império, enquanto o clube do povo foi sempre muito protegido, em detrimento de um Sporting com o estigma da ligação ao anterior regime, passando pelos períodos de desnorte de um Jorge Gonçalves que chegou a dizer que quis saber como é que se compravam árbitros e das palhaçadas do Sousa Cintra sempre comido e gozado por todos, até ao Projecto Roquete onde se acreditou na regeneração por dentro e que teve fases de alianças com o Pinto da Costa, supostamente para afundar o SLB, e manifestos com o Vieira para mudar o rumo deste nosso futebol, sempre com os mesmos resultados desastrosos para o Sporting, que só ganhou alguma coisa quando os árbitros foram escolhidos por sorteio, o que seguramente não é apenas uma coincidência.

Já na sua fase de desespero, a oligarquia que mandou no Sporting durante quase 18 anos, recorreu a Luís Duque, tido como o sportinguista que melhor conhecia os meandros do futebol português, que optou por uma estratégia de charme em relação ao fundamental sector da arbitragem, cujo o único resultado foi ficar refém das promessas de compreensão e bom relacionamento que tinha feito, mesmo quando foi empurrado para trás logo no começo do campeonato, para depois aparecer um inqualificável artista português, que do alto da sua experiência de PJ, se quis armar em aprendiz de Pinto da Costa, espalhando-se logo na primeira curva apertada, o que mesmo assim foi o suficiente para sujar o nome do Sporting, até aí fora dos apitos dourados e dos cafés com leite e outra fruta.

Perante tudo isto eu não posso pedir uma receita mágica ao Bruno de Carvalho, que ainda nem tem um ano da poda, mas que já se fartou de levar na cabeça. Fazer barulho, sim senhor, mas já muitos antes o fizeram, até com luto e tudo. Eles riram-se. Apresentar propostas acho muito bem, mas ninguém vai querer saber delas e não faltará quem as critique ou as considere inviáveis. Tentar entrar na engrenagem. Pois sim senhor, mas é complicado para quem só agora chegou e perante um edifício que está construído há muitos anos. No entanto não custa nada tentar, embora vá levar muito tempo.

E a questão principal persiste: então o que é que se pode fazer? Pois eu sei lá. Mas alianças ou simples aproximações é que não. Olha, proíbam os nossos jogadores de cumprimentarem os árbitros. Se há coisa que me irrita é ver a rapaziada toda a distribuir apertos de mão depois de terem sido roubados até atrás. Se eles não nos respeitam, porque é que os havemos de cumprimentar?


Comentários