O melhor jogador português de todos os tempos

Já há muito tempo que se tinha percebido que  Cristiano Ronaldo iria bater todos os recordes relativos à Selecção Nacional, no entanto bastaram os 3 golos marcados em Belfast, que significaram a ultrapassagem a Eusébio no que diz respeito ao numero de golos apontados ao serviço da Selecção, para que viessem logo a terreiro as aves carpideiras do costume, com o próprio Eusébio a manifestar algum desconforto com as comparações, lembrando que tinha disputado menos jogos na equipa das quinas e desvalorizando o feito de Ronaldo, afirmando que nunca tinha defrontado o Liechtenstein ou o Azerbaijão.

O que é curioso é que o Eusébio foi durante anos a fio repetidamente endeusado por uma imprensa claramente avermelhada, sendo considerado por quase todos como o melhor jogador português de todos os tempos e apelidado de "Rei" ou "King", sem que se tivesse incomodado pelo facto de antes dele ter havido um jogador cujos feitos em termos de golos são incomparáveis, não só em Portugal como provavelmente em todo o mundo, sendo que esse jogador em 20 jogos pela nossa Selecção marcou 13 golos, ou seja uma média ligeiramente superior à de Eusébio, que marcou 41 em 64 jogos.

Fernando Peyroteo viveu numa época em que a Europa e o mundo foram abalados por uma grande guerra, pelo que só em 1938, na sua época de estreia na Selecção Nacional, é que teve a oportunidade de disputar um jogo da fase de qualificação para os tradicionais Campeonatos Mundiais. Para além disso, nessa altura ainda não se disputavam nem os Campeonatos da Europa, nem as competições europeias, pelo que Peyroteo não teve a oportunidade de mostrar ao mundo todo o seu talento.

No entanto em Portugal os seus feitos são impares, apesar de terem sido esquecidos e ás vezes até quase apagados, perante uma inexplicável passividade dos sportinguistas, que diga-se a verdade nunca souberam defender o que é seu.

Só para que se saiba Fernando Peyroteo no total da sua carreira conseguiu marcar 694 golos em 432 jogos, uma média de 1,6 golos por jogo, sendo que pelo Sporting fez 393 jogos, tendo marcado 635 golos, que foram 543 para 334 se nos limitarmos a contabilizar os jogos oficiais, ou 330 para 197 em relação ao Campeonato Nacional, de que foi o melhor marcador por seis vezes, estabelecendo um recorde de 43 golos em 26 jogos, que só seria batido em 1974 por Yazalde, que marcou 46 golos mas em 29 jogos. Num só jogo Peyroteu marcou 9 golos ao Leça e 8 ao Boavista, conseguindo ainda marcar 6 golos numa única partida por 3 vezes, 5 por 12 vezes e 4 por 17 vezes. Quanto aos agora muito badalados hat-tricks, nem vale a pena contabilizar, tudo isto apesar de se ter retirado com apenas 31 anos de idade, quando ainda podia ter dado muito mais ao Sporting e a Portugal, o que não quer dizer que tivesse de se arrastar nos campos a jogar em equipas como o União de Tomar ou o Beira Mar, clubes que o Ronaldo seguramente não irá representar.

Apesar disto tudo o Rei era o outro, coisa que repito nunca o incomodou nem a ele nem à sua corte, que agora finalmente descobriu quão injusto é comparar jogadores de épocas diferentes. Diga-se ainda que quase metade dos golos marcados pelo Eusébio na Selecção Nacional foram contra grandes potências como Luxemburgo, Irão, Equador, Coreia ou Turquia que nessa altura era muito fraca, tal como algumas selecções nórdicas, como a Dinamarca e a Noruega, que hoje são bem mais fortes do que eram nesse tempo.

Quantos às comparações com Cristiano Ronaldo, há que referir que enquanto Fernando Peyroteo e Eusébio eram os tradicionais avançados centro, o actual Capitão da Selecção Nacional joga mais descaído para os fancos, sendo um avançado completo, eu diria mesmo o mais completo que já alguma vez vi jogar, cujos feitos conseguidos no futebol mundial já ultrapassaram à muito aquilo que o Eusébio fez, embora este tenha a atenuante de o Salazar nunca o ter deixado sair do Benfica, tal como o Peyroteo teve as atenuantes atrás referidas.

O mais ridículo desta discussão toda, foi ver um pateta que em tempos não muito longínquos, se prestou a algumas tristes figuras ao serviço do inenarrável Benfica do João Vale Tudo, aparecer na TVI com um livrinho onde anotou os jogos importantes onde Cristiano Ronaldo não terá feito nada, para tentar demonstrar que ele nos jogos decisivos nunca aparecia, quase se limitando a marcar golos às equipas fracas.

Bom, é evidente que todos os jogadores por melhores que sejam eles, tem mais dificuldades quando enfrentam adversários fortes, do que quando do outro lado estão equipas mais modestas. No entanto talvez fosse boa ideia lembrar o tal pateta, que em 2011 o Real Madrid conquistou a Taça do Rei, um troféu que já não ganhava há 18 anos, com Cristiano Ronaldo a marcar o golo da vitória, na Final disputada frente ao Barcelona, numa época em que estabeleceu um novo recorde de golos no Campeonato espanhol, ao apontar 40, conquistando novamente a Bota de Ouro. E que temporada de 2011/12 levou o Real Madrid à conquista da Liga espanhola, marcando o golo da vitória no jogo decisivo com o Barcelona, disputado em Camp Nou. Para no inicio da temporada seguinte, marcar 2 golos, um em Madrid outro em Bracelona, nos jogos da Supertaça que o Real Madrid ganhou. Tudo isto frente à melhor equipa do mundo e arredores.

Deve-se ainda acrescentar que entre os jogos que o já referido artista escolheu para demonstrar que Cristiano Ronaldo era um zero, estava por exemplo a Final do Europeu de 2004, onde o rapaz ainda era júnior, mas parece que queriam que fosse ele a fazer o que os figos, rui costas, decos e pauletas não foram capazes de fazer. Para além dos jogos perdidos com a toda poderosa Espanha, onde também se pedia a Ronaldo que quase sozinho fizesse o que nenhuma Selecção conseguiu fazer nos últimos três grandes torneios internacionais e diga-se que isso é praticamente a única coisa que o Cristiano Ronaldo ainda não fez.

Em suma é verdade que não é justo comparar jogadores de tempos muito diferentes e nem sequer é fácil comparar jogadores tão bons como Cristiano Ronaldo  e Lionel Messi, mas estas comparações serão sempre inevitáveis, só que em Portugal pecam invariavelmente por meterem a clubite aguda ao barulho, com os benfiquistas a terem muitas dificuldades para engolirem os feitos do nosso Cristiano Ronaldo, por isso temos de pô-los no seu devido lugar.

O Eusébio foi bom sim senhor, mas os números dizem que antes dele houve um melhor e em termos de carreira e grandes feitos já foi há muito tempo ultrapassado pelo Cristiano Ronaldo, que neste momento já entrou no galarim dos melhores jogadores de sempre da história do futebol mundial.



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