Eleições 2013

Julgo que já ninguém duvida que vai haver eleições no Sporting Clube de Portugal, ainda este ano, restando apenas saber quando e como tal irá acontecer. Pessoalmente acredito e desejo que Godinho Lopes acabe por se demitir, evitando assim um processo doloroso como o que seria seguramente uma Assembleia Geral com o intuito de o destituir, até porque o homem está cada vez mais pressionado e isolado, restando-lhe praticamente o apoio dos Bancos, que seguramente tiveram uma palavra decisiva quando o seu nome foi escolhido para avançar para as eleições de 2011.

A comprovar o que acabei de referir, está o facto de já se perfilharem vários candidatos a candidatos às eleições que aí vem, com Bruno de Carvalho naturalmente à cabeça e na condição de líder da oposição, uma figura que durante muito tempo faltou à facção contestatária à situação vigente no Sporting desde do começo da chamado “Projecto Roquete”.

Para além disso Dias Ferreira também já começou a mostrar os dentes no último Dia Seguinte e é bem provável que volte à carga numa última tentativa de realizar o seu sonho, assim como não será de estranhar que Pedro Baltazar também possa estar a pensar numa nova candidatura, embora já circulem por aí uns rumores de que ele quer mesmo é pegar na SAD. Mas já lá vou.

A grande incógnita neste momento é quem será o senhor que se segue na linhagem que governa o Sporting desde 1995. O falhanço de José Eduardo Bettencourt tido como “menino bonito” do “Projecto Roquete”, abriu brechas profundas na “oligarquia”, de tal forma que em 2011 foram visíveis as dificuldades para se encontrar um sucessor, principalmente depois da recusa de Rogério Alves, o que levou ao recurso a uma segunda figura como Godinho Lopes, uma escolha que eu na altura classifiquei como “pior era difícil”, e de facto foi muito mau, mesmo que o homem inicialmente até tenha ultrapassado as minhas expectavivas, pelo esforço que fez depois da forma atribulada como foi eleito, o que no meio daquele saco de gatos-bravos que era a sua Direcção, não deixa de ser um ponto a seu favor, mas o resto foi quase tudo mau de mais para ser verdade.

Agora a herança é muito pesada e ou avança alguém com o peso de um José Maria Ricciardi ou então não estou a ver hipóteses nenhumas de travarem os ventos de mudança que sopram em Alvalade, e nem sei se haverá alguma segunda figura com a coragem que Godinho Lopes teve para avançar, ainda por cima agora, quando o papel reservado para o candidato da “situação” é o de “bombo da festa”, uma festa que desta vez nem com afinações deixará de ser dos outros.

Mas mais do que nomes, estas eleições colocarão em cima da mesa algumas discussões fundamentais para o futuro do Sporting e que entroncam nos três grandes problemas com que o Clube hoje se debate:

Em primeiro lugar temos a questão financeira, onde a discussão passará essencialmente pela opção de manter ou ceder a maioria do capital da SAD. Godinho Lopes bem que tentou arranjar investidores, mas quem é que quer investir numa sociedade falida que todos os anos dá prejuízos enormes, se não for para mandar mesmo?

Dias Ferreira já há muito tempo que defende a cedência da maioria a um investidor e diz-se que Pedro Baltazar sonha ser ele mesmo o sócio maioritário da SAD, enquanto do outro lado da barricada para já está Bruno de Carvalho, que terá aí o seu grande desafio: explicar aos sócios como é que pretende sustentar financeiramente um projecto onde o Sporting Clube de Portugal continue a ser maioritário da SAD, sabendo-se que a situação económica do Clube é assustadora de tal forma que quem entrar ou está bem calçado ou então vai se espalhar ao comprido.

Depois temos a questão do futebol que é a mola real do Clube. Hoje parece que finalmente quase toda a gente descobriu as virtudes da formação, cujo aproveitamento parece ser a solução mágica que faltou até agora, mas há dois anos atrás acho que ninguém se lembrou disso. Um tinha milhões vindos da Rússia, o outro tinha charters cheios de chineses e uma camioneta de craques descobertos pelo concentradíssimo Futre, mas acabou por prevalecer a política da vassoura e do livro de cheques, colocados nas mãos da dupla maravilha Luís Duque/Carlos Freitas, porque era isso que a malta queria.

Os resultados foram aquilo que se sabe, daí a inversão no discurso de Godinho Lopes, que no entanto veio tarde de mais e sem qualquer nexo, de tal forma que o manager já passou a treinador e se calhar nem vai ter tempo de ser nem uma coisa nem outra.

De qualquer forma Jesualdo Ferreira poderá ser uma herança deixada por Godinho Lopes à próxima Direcção e o seu nome estará em cima da mesa das discussões sobre o rumo a dar ao futebol do Sporting, não apenas como treinador que estará dependente dos resultados que até lá for conseguindo, mas também como o Director Técnico que na minha opinião o Sporting precisa, ou seja um homem que pense e coordene todo o edifício do futebol leonino, que eu acho que se deve realmente voltar mais para o aproveitamento da linha de produção de Alcochete, não só porque não há dinheiro para comprar mais craques, como também porque há muita qualidade na Academia Sporting, o que não quer dizer que se tenha de promover toda a Equipa B para o plantel principal, até porque o lançamento de jogadores jovens e inexperientes precisa de ser enquadrado numa estrutura sólida que permita o crescimento e a afirmação desses jovens, o que só será possível com a ajuda de jogadores mais velhos e de qualidade.

Este será pois outro tema para se discutir nestas eleições. Vamos comprar mais 20 jogadores estrangeiros para tentar ganhar o campeonato já amanhã, ou vamos aproveitar o que temos, retocar aqui e ali apostando nos nossos miúdos, sabendo-se que isso poderá significar não os segundos lugares e as tacinhas  que o mal amado do Paulo Bento lá foi conseguindo, mas terceiros ou quartos lugares durante algum tempo. Terão os sportinguistas paciência para isto e haverá algum candidato com coragem para propor isso às pessoas? Duvido, mas na minha opinião esse é um caminho que devia ter sido percorrido já há muito tempo e que chegou a ser parcialmente tentado por Soares Franco e Paulo Bento, mas que foi rejeitado nas bancadas de Alvalade e aí as culpas tem de ser divididas por todos.

A terceira grande questão que estará em cima da mesa é na minha opinião o mais complexo dos problemas com que o Sporting se debate actualmente, de tal forma que não sei como chamá-lo. Talvez seja uma crise de identidade, se bem que na verdade é muito mais do que isso, pois o Clube hoje está completamente dividido, vivendo há vários anos num clima de guerrilha que agora se transformou numa guerra aberta que não pode continuar durante muito mais tempo porque está a pôr em causa a própria sobrevivência do Clube, daí que me pareça fundamental que Godinho Lopes se demita, e até vou mais longe porque não tenho dúvidas de que o melhor que poderia acontecer ao Sporting nesta altura, era que não aparecesse nenhuma candidatura da parte da situação, porque isso iria contribuir fortemente para a pacificação de que o Clube tanto necessita, abrindo o caminho para o início de um novo ciclo de uma forma tranquila.

No entanto duvido que tal vá acontecer, pois os bancos não vão querer deixar de ter uma palavra neste momento tão importante para o futuro do Sporting, quando há tanto dinheiro em causa, a não ser que se convençam que desta vez vão ter mesmo que renegociar a dívida sem estarem representados nos dois lados da mesa.

Uma coisa é certa, o futuro líder dos sportinguistas terá de se assumir como tal e não como o chefe da turma dos rufias que querem sangue a todo o custo. O Sporting nesta altura precisa de soluções e não de culpados e acima de tudo precisa de paz.

Esta é altura de unificar a família sportinguista o que só será possível com uma liderança forte e carismática, uma característica que me parece ser possível identificar em Bruno de Carvalho, resta saber se ele for eleito como eu estou convencido que será, se vai ser capaz de resistir à tentação dos ajustes de contas e aos apelos à caça às bruxas, muito queridos das facções mais extremistas dos seus apoiantes e que nada podem trazer de bom para o Sporting.

Resta saber também a postura dos muitos grupos existentes no universo sportinguista, alguns deles com interesses instalados, com os quais o futuro Presidente vai ter de saber lidar, isto numa altura em que muita gente se serve do Clube e poucos são os que o querem servir, e é aqui que para mim estará a maior dificuldade no momento de escolher o próximo Presidente do Sporting Clube de Portugal, distinguir as hienas dos verdadeiros Leões.
 

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