Pagar para pacificar e mandar calar

Um mês depois da chegada de Frank Vercauteren ao comando  da equipa do Sporting ainda não se vislumbram sinais de mudanças significativas. A Liga Europa já era e a vitória sobre o Braga no Campeonato não foi aproveitada para encetar a desejada recuperação no assalto ao 3º lugar, numa altura em que a equipa se afunda nas últimas posições da tabela classificativa.

A coisa está de tal forma negra que até já há quem diga que uma vitória sobre o Benfica na próxima jornada pode salvar a época e que uma derrota nesse jogo poderá precipitar a queda anunciada de Godinho Lopes.

Isto porque o futebol é o barómetro da vida dos Clubes, onde as vitórias fazem esquecer o resto, enquanto as derrotas levam a que tudo seja posto em causa.

No entanto a crise do Sporting vai muito para além do futebol, pois ao desastre da gestão desportiva levada a cabo por esta SAD, que resultou na queda de dois treinadores e na saída pela porta dos fundos da dupla maravilha Duque/Freitas, junta-se uma situação financeira verdadeiramente aflitiva e o acentuar do clima de guerrilha que se vive há vários anos no Sporting, o que o torna num Clube dividido e quase ingovernavel.

Estes problemas podem até ser atenuados quando a bola entra na baliza adversária, mas nunca serão totalmente resolvidos enquanto não houver uma liderança forte e capaz de unir os sportinguistas e de sarar as feridas resultantes de vários anos de lutas fratricidas, sem se saber onde começam as culpas de uns e acabam as dos outros.

Ora aqui já se sabia que Godinho Lopes nunca seria capaz de ser o Presidente de todos os sportinguistas e que a sua Direcção era um verdadeiro saco de gatos, que dificilmente chegaria ao fim inteira, uma situação que se agravou com a forma como decorreu o acto eleitoral de Março de 2011.

Apesar disto a nova Direcção teve até direito a um período de nojo, que nem o José Eduardo Bettencourt tinha tido, ele que mesmo com a legitimidade de ter sido eleito com 90% dos votos dos sócios leoninos, foi desde a primeira hora atacado por uma minoria que não descansou enquanto não derrubou Paulo Bento, que era o pilar mais forte de um Sporting já na altura muito fragilizado.

Só que essa fase de tolerância se esgotou rapidamente ao sabor das primeiras derrotas da equipa de futebol, e Godinho Lopes  é hoje um homem quase isolado, à procura dos tais investidores que não aparecem e de um rumo para o futebol que o salve de uma queda que parece inevitável, e que só tarda porque ninguém tem os meios necessários para resolver os problemas do Sporting, que são tantos que até assustam os mais corajosos, de tal forma que a contestação está praticamente reduzida a meia dúzia de encapuçados e a grupos de sócios descontentes mas que não sabem o que fazer, enquanto a maioria parece estar simplesmente resignada.

Godinho Lopes teve de assumir o comando do futebol e agora diz-se que terá descoberto as virtudes de um "manager" para liderar esse sector, isto depois de não ter chegado a acordo com José Couceiro, que aparentemente terá exigido poderes a mais. Mas a pergunta é: quem é que vai aceitar esse lugar com um Presidente que tem os dias contados? Só se for um cajuda qualquer.

De qualquer forma esse é um passo que me parece acertado, tal como a aposta na formação que agora se anuncia, só que ambos já vem tarde, depois de se ter dado um livro de cheques e uma vassoura a Luís Duque e Carlos Freitas, que depois de muito terem varrido, deixaram atrás um monte de entulho e de contas para pagar.

Não sei quanto tempo é que Godinho Lopes vai resistir, nem em que ponto ele vai deixar o Sporting e muito menos o que vai vir a seguir, mas temo pelo futuro do Clube, porque quem vier atrás tem de ter uma forte sustentabilidade financeira, sob pena de voltarmos aos tempos do bigodes, porque o mais certo é que quem ainda vai aguentando o barco tire o tapete a quem resolva entrar em campo, principalmente se vier de peito feito.

O que o Sporting precisa nesta altura é quase de um milagre, ou seja um líder que tenha muito dinheiro e que possa assim mandar calar toda a gente, porque quem paga é quem manda, e porque no Sporting há grupos e notáveis a mais, todos a dar palpites e a querer protagonismo, mas que seja também alguém que venha para encontrar soluções e não culpados, porque o Clube não irá sobreviver muito mais tempo se continuar partido nestas guerrilhas que o tem destruído.

Só depois disto é que se poderá encontrar um rumo desportivo para o Clube/SAD, que na minha opinião e que já não é de agora, terá sempre de passar pelo aproveitar daquilo que temos de melhor que ainda é a nossa formação, sendo que para isso é necessário entregar todo o edifício do futebol  a alguém que perceba efectivamente do assunto.

Ora isto é algo que deveria ter sido feito há 10 anos atrás, quando se poderia ter chutado Lazlo Boloni para cima, em vez de se ter desperdiçado alguém que sabe de futebol como poucos. Nessa altura o romeno deveria ter passado a ser o tal Director Técnico que precisamos e estou certo que não teríamos desperdiçado os milhões que o Carlos Freitas torrou a contratar pernas de pau, nem queimado uma dezena de treinadores e muito menos desaproveitado os muitos jogadores de qualidade que continuam a sair da linha de produção de Alcochete, que seguramente estaria a funcionar muito melhor do que funciona hoje, principalmente depois da dupla Duque/Freitas ter metido lá o dedo.


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