A aposta na formação

Há muito tempo que eu sou um defensor de uma aposta sustentada na formação, mais concretamente pelo menos desde 2003 pouco depois da Academia ter entrado em funcionamento, que eu digo que aquele investimento só vale a pena se for para aproveitar os talentos ali fabricados.

Para isso penso que em primeiro lugar é preciso ter um homem com plenos poderes à frente de todo o edifício do futebol, alguém que perceba efectivamente do assunto e saiba identificar os bons jogadores e planear a construção de um plantel com base na linha de produção de Alcochete, retocando aqui e ali com jogadores um pouco mais experientes e que sejam efectivamente mais valias.

Na minha opinião Lazlo Boloni era o homem certo, estava lá tinha mostrado ter olho não só para os da casa (Quaresma, Viana, Ronaldo), como para os de fora (Pepe, Danny, Derlei) para além de ser um profissional sério e dedicado. Como treinador estava desgastado, era "chutá-lo" para cima e deixá-lo trabalhar com uma equipa de treinadores escolhida pela Direcção em conjunto com ele.

Preferiram o Carlos Freitas com os resultados que se sabe, dezenas de contratações que custaram milhões e das quais pouco se aproveitou, pelo meio houve um recuo no tempo de Soares Franco com a aposta em Paulo Bento que mostrou que era possível fazer uma equipa competitiva sem gastar muito dinheiro, mesmo sendo um treinador inexperiente e não tendo o tal Director Técnico acima dele para o proteger e reforçar a equipa convenientemente, porque nesse tempo as contratações foram poucas e quase todas falhadas.

O mais incrível é que depois disto tudo o Carlos Freitas apareceu nas últimas eleições como um grande trunfo, o homem que conhecia o mercado e ia construir uma grande equipa, o que de resto era também o que prometiam quase todos os outros candidatos. Um tinha milhões dos investidores russos, o outro tinha charters cheios de chineses, porque é isso que a malta quer, uma grande equipa para competir de igual para igual com o Porto e o Benfica, já.

No entanto neste momento isso não é possível porque não temos nem a estrutura montada pelo Pinto da Costa há mais de 30 anos nem o poder que o Benfica tem no mercado, antes pelo contrário somos um Clube desunido, sem força nenhuma nos bastidores e com uma base de apoio em queda, ou seja não podemos nem devemos imitar o que os outros fazem, teremos sim de seguir o nosso caminho de acordo com a nossa identidade própria.

Ora é isso que nos falta, criar uma identidade própria que na minha opinião terá de ser alicerçada naquilo em que somos realmente bons, eu diria mesmo dos melhores do mundo: a formação. Mas será que os nossos adeptos estão preparados para isso? Para ter uma equipa onde haja espaço para o lançamento de miúdos. A minha resposta é não.

Basta ver o que fizeram ao Rui Patrício e ao Paulo Bento. A grande parte dos nossos adeptos quer é ganhar já  e o Estádio José Alvalade é uma máquina trituradora de jogadores e treinadores, é ver o que está a acontecer com o Cedric Soares que depois de uma boa época em Coimbra até começou muito bem esta temporada, mas já está a tremer por todos os lados, pois para entrar hoje na equipa do Sporting não basta ser bom jogador, tem de se ser muito forte mentalmente para aguentar a pressão de todos os lados, logo a começar pelas bancadas.

Depois também temos que ver que nem tudo o que sai da Academia é ouro, há ali jogadores que não vão dar nada e o Sporting não pode ficar com todos. De resto nesta matéria as decisões que tem sido tomadas até aqui tem se revelado quase todas acertadas. Pode haver uma ou outra excepção, mas na esmagadora maioria dos casos os jogadores que o Sporting dispensou não deram nada, apesar de algum histerismo sempre que se perde um Diogo Tavares, um Renato Santos ou um João Carlos.

O que na minha opinião funciona muito mal na Academia é a prospeção no estrangeiro, principalmente no Brasil, donde desde o Alison já vieram muitos jogadores  ainda não vi um que tenha valido o investimento. Talvez o Vítor Golas seja a excepção, mas pelo menos por enquanto está tapado.

Agora temos a Equipa B que é um valioso instrumento para um melhor aproveitamento da formação. Eu tenho visto quase todos os jogos e confesso que não esperava tanto dos miúdos, até porque na experiência anterior na 2ª divisão B os resultados não foram grande coisa, mas não nos podemos iludir e querer lançar os rapazes todos às feras, vê-se que há ali talento, mas também ainda falta muita coisa para além da experiência, logo a começar na intensidade do jogo.

O Betinho por exemplo tem grande potencial, eu diria mesmo que pode sair dali um bom ponta de lança, mas precisa de jogar para ganhar calo numa posição muito difícil e não me parece muito boa ideia lançá-lo a 15 minutos do fim  num jogo em que estamos a perder em Alvalade.

O Eric Dier mostrou um grande carácter nos jogos que fez, mas sem um patrão da defesa para jogar ao lado dele pode ser mais um para queimar, tal como o Daniel Carriço que tinha um potencial enorme, já está queimado, pois a posição de central é outra muito exigente, onde os erros naturais nestas idades pagam-se caro.

Na minha opinião talvez o João Mário seja o jogador mais maduro desta fornada, aquele que está mais próximo de ter condições responder com êxito a uma oportunidade, não digo para ser titular já, mas para ir entrando na equipa, apesar de o plantel estar cheio de médios credenciados, que no entanto não tem rendido aquilo que se lhes exige.

Enfim apostar na formação sim senhor, mas vamos com calma, só que calma não é coisa que abunde nas bancadas de Alvalade.

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