A linha de produção de Alcochete

O trabalho que recentemente fiz na Wiki FórumSCP, sobre os jogadores da formação do Sporting, desde a inauguração da Academia de Alcochete em 2002, permite-me ter uma visão global sobre a forma como funciona este sector, e os resultados obtidos até agora, que vão muito para além dos 13 Campeonatos Nacionais e 16 Regionais conquistados daí para cá.

Para que se perceba como é que a coisa funciona, princípio por dizer que os miúdos só começam as jogar futebol de 11 nos Infantis (dos 11 aos 13 anos), mas o regime de internato na Academia habitualmente apenas abarca dos Iniciados para cima (a partir dos 13 anos).

Neste primeiro escalão o Sporting tem três equipas a competir, os Iniciados A (geralmente jogadores de 2º ano (14 e 15 anos)) que jogam no Campeonato Nacional, os Iniciados C (geralmente jogadores de 1º ano (13 e 14 anos)) que jogam no Campeonato Regional - 1ª Divisão, e os Iniciados B, um misto destas duas gerações, que jogam no Campeonato Regional - Divisão de Honra.

Nos Juvenis há apenas duas equipas, a B ou sub-16 (geralmente jogadores de 1º ano (15 e 16 anos)) que joga no Campeonato Regional Divisão de Honra. E a A ou sub-17, (geralmente jogadores de 2º ano (16 e 17 anos)) que joga no Campeonato Nacional.

Chegamos então aos Juniores, onde já só há uma equipa, que joga no Campeonato Nacional e que é constituída por jogadores entre os 17 e os 19 anos, juntando duas gerações, se considerarmos assim os jogadores nascidos em cada ano civil.

Pode-se portanto concluir facilmente que estamos perante uma pirâmide que vai apertando e fazendo a selecção dos melhores, pelo que dos cerca de 30 jogadores que todos os anos entram na Academia, apenas à volta de uma dezena conseguem completar toda a sua formação no Sporting.

A passagem para os seniores é a etapa que se segue e talvez seja a mais complicada para este rapazes, dos quais são raros aqueles que seguem directamente para o plantel sénior do Clube. A opção geralmente passa por emprestar os mais prometedores e dispensar os restantes.

Todo este processo de triagem não é nada fácil e seria impossível que não se cometessem erros de avaliação, dado que o futebol está cheio de carreiras de jogadores que muito prometiam mas que às vezes se perdem, ou que de repente despontam de onde menos se esperava.

Nesta altura já é possível fazer um pequeno balanço dessas decisões, e é isso que vou tentar relatar a seguir, deixando de fora os que chegaram à Academia como Juniores e portanto já na fase final da sua formação, como foram os casos de Silvestre Varela, Edgar Marcelino e Paulo Sérgio, já para não falar de Cristiano Ronaldo que em 2002 foi integrado no plantel principal do Sporting apesar de ainda ser júnior de 1º ano, mas esse é um caso à parte.

Assim começamos pela geração de 86, uma das que mais jogadores deu para a equipa principal com Miguel Veloso, João Moutinho, Yannick Djaló, Nani e a um nível ainda por definir Carlos Saleiro, sendo desperdiçado apenas Emídio Rafael, pois Bruno Filipe, Jorge Teixeira, e Sabino Fernandes perderam-se pelo caminho e Mário Felgueiras ainda anda à procura do seu espaço no futebol profissional.

A fornada de 87 também prometia, mas foi menos produtiva, apenas André Marques chegou à equipa principal do Sporting, no entanto as lesões não o deixam, mas mesmo assim lá vai andando na 1ª Liga. O resto foram quase tudo promessas falhadas: Zezinando, Diogo Tavares, Tomané, David Caiado, Pedro Celestino, Tiago Pires, Paulo Renato e André Nogueira, uns mais outros menos, todos tiveram até aqui um percurso decepcionante.

Assim chegamos à geração de 88 na qual se destacavam principalmente Fábio Paim e Daniel Carriço, cujos trajectos não espantaram ninguém, pois quem conhecia de perto o irreverente avançado leonino, facilmente adivinhava que ele iria desperdiçar todo o talento que tinha, talvez não se esperasse tão pouco, mas estava-se a ver que com aquela cabecinha não iria muito longe. Já o central sempre demonstrou uma grande maturidade, pelo foi com naturalidade que se impôs na equipa principal, e talvez até se esperasse mais, no entanto ele ainda vai a tempo de evoluir e chegar ao topo.

Depois havia uma segunda linha na qual Rui Patrício foi aquele que fez o percurso mais espantoso. Embora o seu lançamento possa ser considerado como um pouco precipitado, a verdade é que o risco compensou e neste caso o tempo tem vindo a dar razão a Paulo Bento, pois o "Marrazes" tem evoluído muito de ano para ano e hoje talvez seja o jogador mais valioso do plantel do Sporting, tendo tudo para ser mais um ficar na história.

Pelo contrário Pereirinha não teve a evolução que dele se esperava, até porque foi dos poucos que chegou à equipa principal quando ainda era júnior, mas depois nunca se conseguiu impor, parecendo faltar-lhe qualquer coisa para ir mais longe.

Dos restantes João Gonçalves é o único que se chegou a um nível aceitável, estando ainda ligado contratualmente ao Sporting, e continuando a ser um jogador sobre o qual ainda há algumas expectativas.

Depois há uma serie de jogadores que desapareceram ou perto disso, com Tiago Pinto ainda a conseguir um lugar na 1ª Liga, mas Simão Coutinho, Marco Lança, Ricardo Nogueira e Tiago Pires, prometiam muito mais daquilo que deram.

A geração de 89 era particularmente prometedora, e aqui os destaques iam para Bruno Matias e Adrien Silva. O avançado aparentemente foi mais um a perder-se e anda pela 2ª divisão, enquanto o médio foi dos poucos que conseguiu passar directamente para a equipa principal, onde no entanto não se conseguiu impor, estando agora a tentar recuperar o tempo perdido, emprestado à Académica, depois de uma passagem por Israel.

Em sentido contrario viaja André Santos, para já o mais bem sucedido desta geração, ao conquistar um lugar no onze leonino, depois de ganhar rodagem em clubes competitivos, enquanto William Owusu ainda mantém a ligação ao Clube, mas dos que foram para o Cercle Brugges será o que evoluiu menos.

Dos restantes Marco Matias ainda vai andando pela 2ª Liga, enquanto o guarda-redes André Marques, Jorge Abreu, Vivaldo Arrais, Rui Lopes e André Cacito são apenas alguns exemplos de jogadores de quem se esperava um pouco mais. E já nem falamos daqueles dois rapazes que fugiram para o Chelsea onde se perderam.

A fornada de 1990 também tem nomes muito interessantes e para já Wilson Eduardo parece ser aquele que está melhor lançado, tendo inclusivamente hipóteses de integrar o plantel do Sporting na próxima temporada, depois de boas experiências em Portimão e Aveiro.

Ainda há algumas expectativas em relação a Vítor Golas, Pedro Mendes, Rui Fonte e até Diogo Rosado, este é para muitos o mais talentoso desta geração, mas também o que corre mais perigo de se perder. Perdidos para o Sporting estão Diogo Viana que foi cedido ao Porto e Diogo Amado, que foi surpreendentemente dispensado e cujas prestações em Leiria parecem apontar para um dos poucos erros de avaliação que foram cometidos nos últimos tempos.

Finalmente a geração de 1991 jogadores que estão a fazer a sua primeira época como seniores, muitos dos quais se foram perdendo antes de chegarem ao fim da sua formação, restando nesta altura Cedric Soares, outro que devia ter sido emprestado, Nuno Reis e Renato Neto que estão a confirmar as suas qualidades na Bélgica, enquanto Baldé até pela posição em que joga, e Luís Almeida, estão a ter alguns problemas nesta fase de transição.

Dos que sobem esta época Zezinho e William Carvalho são aqueles que geram maiores expectativas, mas Afonso Taira e Miguel Serôdio também devem continuar ligados ao Clube. No entanto dá a sensação que esta geração de 1992 não foi particularmente bafejada pelo talento.

As próximas fornadas continuam a ter grande potencial e já há nomes como Bruma, Iuri Medeiros, Eric Dier, Cristian Ponde, José Postiga, Agostinho Cá, Alberto Coelho, João Mário ou Ricardo Esgaio que fazem crescer água na boca, mas bastará analisarmos os percursos de muitos dos que atrás referimos para se perceber quão cedo é para se perspectivar o futuro destes miúdos.

Uma coisa é certa, as avaliações feitas até agora tem falhado muito pouco, o pior é que depois na nossa equipa principal não lhes criamos condições para eles crescerem com tranquilidade e sendo assim continuamos a formar mas para os outros.

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