Estão a matar o Sporting

O Sporting nasceu em berço de ouro para ser um clube tão grande como os maiores da Europa e não precisou de muito tempo para se afirmar como uma grande força do desporto nacional, que nos anos 1940/50 dominou o futebol português. Essa hegemonia naquela que é a modalidade mais importante do Clube, começou a ser posta em causa no final da década de 50, e foi definitivamente perdida em favor do Benfica no inicio da década seguinte, sendo que para isso contribuíram factores como as despesas resultantes da construção do estádio, a incapacidade para substituir adequadamente os grandes jogadores que iam encerrando as suas carreiras e a conjuntura politica do País, que contribuiu muito para que o Benfica passasse a ter mais peso nos bastidores do futebol, sem o qual teria sido impossível, que por exemplo o Sporting perdesse para o seu rival, um jogador oriundo da sua filial de Lourenço Marques, como foi o caso de Eusébio, que se tornou na grande figura do futebol português nos anos 1960/70. Foi assim que o Sporting perdeu a hegemonia do futebol nacional para o Benfica, e passou a ser somente a segunda força do desporto rei em Portugal, ganhando apenas um campeonato de 4 em 4 anos e algumas taças pelo meio, sem que os seus dirigentes mostrassem capacidade e coragem para ir mais além, até porque na maior parte dos casos estavam comprometidos com o regime que tirava dividendos políticos da situação. João Rocha apareceu em 1973 como o homem que talvez fosse capaz de dar a volta à situação de conformismo em que o Clube se encontrava, mas poucos meses depois rebentou a revolução de Abril, que deitou por terra os seus planos de tornar o Sporting num clube-empresa. Apesar disso o Presidente leonino conseguiu que o Sporting atravessasse esse período muito conturbado dentro de alguma normalidade. Com a chegada da Democracia ao futebol português, emergiu o chamado "sistema" idealizado e manobrado com mestria por Pinto da Costa, que ressuscitou o FC Porto e iniciou um novo ciclo hegemónico que ainda dura. Numa fase de transição João Rocha perdeu batalhas decisivas com o seu rival portista, que em muito contribuíram para que o futebol do Sporting se afundasse na condição de terceira força nacional, muitas vezes mais perto dos clubes da segunda linha, do que dos outros dois grandes. 18 anos sem ganhar um Campeonato foram um jejum que deixou marcas insanáveis, agravadas por um período de populismo em que o Clube viveu claramente num fato que não era o seu, e de cujos fantasmas ainda não se libertou, até que o Projecto Roquete apareceu como a grande esperança dos sportinguistas. Era o regresso do Clube à sua matriz elitista, mas no meio de algumas melhorias, de muita obra feita e até do regresso às vitórias no futebol, ficaram o distanciamento em relação aos adeptos e principalmente uma situação financeira desesperante. 16 anos depois da chegada de José Roquete ao Sporting, poder-se-ia dizer que o seu projecto falhou rotundamente na área financeira, pelo que estaria na altura de se encerrar tranquilamente este ciclo, abrindo o caminho para novos rumos e outras pessoas. No entanto não foi esse o entendimento dos dirigentes da "oligarquia" que manda no Sporting há 16 anos, que ao apresentarem uma lista às eleições de Março de 2011, impediram uma transição pacifica de poder, num Clube que já vivia no meio de uma "guerrilha" interna, fomentada por uma minoria sócios muito activa nos novos canais de comunicação, e que já tinha conseguido minar o trabalho de um Presidente eleito com 90% dos votos. Como se isto não bastasse, a equipa da continuidade quando sentiu que as suas posições estavam realmente em perigo, recorreu aos ataques pessoais e a todo o tipo de jogo sujo para desacreditar o seu adversário mais forte, de tal forma que eu não tenho dúvidas de que essas desconfianças levantadas sobre Bruno Carvalho foram decisivas para a dispersão de votos, que permitiram a vitória de Godinho Lopes. No entanto este "vale tudo" tem outro lado, pois se o Clube estava em guerrilha, ficou partido em várias partes e em guerra aberta. Figuras como Godinho Lopes, Carlos Barbosa e Paulo Cristóvão foram a um ponto tal, que nunca serão bem recebidos por uma fatia de sportinguistas, que mesmo não sendo os 36,1 % que votaram na Lista C, também já não são só os 10% de 2009. Eu sei que Godinho Lopes até podia ter ganho por uma margem maior que não iria ter paz na mesma, tal como se tivesse sido Bruno Carvalho a ganhar não seria de esperar que ele tivesse o apoio daqueles que nesse caso teria deposto. Seria uma oposição diferente e menos barulhenta, mas seguramente mais perigosa e que teria deixado o terreno armadilhado. Nesse aspecto direi que tenho algumas dúvidas em relação a Bruno Carvalho, porque ou ele estava muito bem calçado, ou então sujeitar-se-ia a que lhe acontecesse o mesmo que aconteceu a Jorge Gonçalves, que quando ficou descalço, olhou para o lado e viu que estava sozinho. O resultado de tudo isto é um Clube partido e sem paz à vista, numa altura em que somos cada vez menos e estamos cada vez mais distantes dos nossos rivais, pelo que dificilmente sobreviveremos a esta guerra, que tem de um lado um grupo de pessoas desesperadamente agarradas ao poder, de tal forma que eu começo a ter as minhas dúvidas sobre seriedade das gestões destes 16 anos, e do outro um grupo de pessoas completamente cegas por um ódio crescente e insaciável e que agora até já tem aquele líder que lhes faltou até aqui. Uns e outros estão a matar este Sporting, que não sei se conseguirá sobreviver a tudo isto, pelo menos enquanto um Clube que nasceu para ser tão grande como os maiores da Europa, e o pior é que não há solução à vista, pois eu não acredito que esta Direcção consiga sobreviver muito tempo, o que só será possível se a equipa de futebol começar a ganhar jogos atrás de jogos, coisa pouco provável para não dizer impossível, e muito menos na atitude que Eduardo Barroso prometeu tomar esta semana, enquanto Presidente da Assembleia Geral. Prevejo dias tristemente dolorosos para todos os sportinguistas.

Comentários

  1. Bom blog
    Mas fiquei quase deprimido ao ler os últimos posts, porque, infelizmente, a análise parece-me correcta
    fa

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