Duas semanas perdidas

Os rocambolescos acontecimentos da madrugada do dia 27 de Março deixaram a nação leonina num compreensível estado de choque, e da incredibilidade à revolta foi um passo, pois a grande maioria dos sportinguistas queriam a mudança e já a festejavam convencidos de que tinha chegado a sua hora.

Muitos foram os que se deitaram felizes com a anunciada vitória de Bruno Carvalho e acordaram com as notícias de que afinal o novo Presidente era Godinho Lopes, mas pior do que isso foi a forma como tudo decorreu que deixará sempre algumas dúvidas sobre a legalidade do processo eleitoral.

No dia seguinte começaram as movimentações de Bruno Carvalho e dos seus apoiantes, enquanto a nova Direcção se desdobrava em esforços para agradar, consciente de que não só não terá o habitual período de estado de graça, como estará como nenhuma outra esteve anteriormente debaixo da mira de uma oposição mais real do que nunca.

Esboçaram-se algumas manifestações de desagrado que foram esmorecendo com o tempo e que na verdade não passaram de pequenos ajuntamentos de alguns jovens muitos deles encapuçados e outros que nem sócios serão, que debitaram os habituais cânticos malcriados que só serviram para os descredibilizar, mas destes rapazes também não se esperava muito mais.

Já do candidato derrotado exigia-se outra clarividência. Bruno Carvalho começou por se desdobrar em entrevistas onde não conseguiu ser suficientemente claro, usando alguns argumentos pouco sustentáveis, e principalmente não indo ao fundo da questão, as muitas discrepâncias entre os números de votos e votantes para os diversos órgãos.

Decidiu impugnar as eleições, e na minha opinião bem pois parece-me evidente que o escrutínio dos votos foi pouco claro, nada transparente e aparentemente cheio de irregularidades, no entanto já se sabe que isto é um processo que pode levar anos, pelo que Bruno Carvalho intentou ainda uma Providência Cautelar que no entanto muito dificilmente terá provimento, pois não estou a ver nenhum juiz a determinar que o Sporting Clube de Portugal fique de repente sem Direcção.

Pelo meio Bruno de Carvalho ainda foi deixando umas pontas levantadas afirmando que tudo poderia ser mais rápido se os sócios quisessem, no entanto nunca ninguém percebeu bem ao que ele se estava a referir.

O que é certo é que o tempo vai passando, as pessoas vão-se conformando e o Sporting vai continuar na mesma, e a não ser que aconteça algum milagre pouco provável no futebol, esta gerência não irá chegar ao fim e apenas servirá para prolongar o estado de agonia em que o Clube vive.

Sinceramente não sei se com Bruno Carvalho o Sporting iria sair do buraco onde está metido, ou se se iria afundar ainda mais, mas estou certo de que com Godinho Lopes vamos ter mais do mesmo, e atendendo à fragilidade da sua base de apoio, avizinham-se novas guerras internas.

Mas será que perante tudo isto haveria alguma solução? Eu julgo que sim, que poderia ter havido uma forma de pelo menos dar a palavra aos sócios para se definirem posições.

Como? Bom, partindo do principio de que é verdade que Eduardo Barroso pôs o seu lugar de Presidente da Assembleia-Geral à disposição de Bruno Carvalho, então eu no lugar deste ter-lhe-ia pedido que ele se demitisse, alegando não reconhecer os resultados das eleições e provocando assim nova disputa eleitoral para aquele órgão.

O passo seguinte seria esperar que aparecesse uma lista concorrente, naturalmente associada à nova Direcção, e então em cima da hora apresentar uma candidatura onde de uma forma clara ficasse explicito que o objectivo era destituir todos os órgãos sociais recentemente eleitos, e que assim tornaria estas eleições numa espécie de referendo à legitimidade das anteriores.

Os sócios que achassem que tudo tinha corrido dentro da normalidade votariam na lista que a actual Direcção apoiasse, quem pelo contrário considerasse que se deviam anular as eleições do dia 26 de Março, votaria na lista de Bruno Carvalho tendo a consciência de que isso iria dar azo a uma Assembleia-Geral com a intenção de destituir os recem eleitos órgãos sociais.

Se ganhasse esta aposta, Bruno Carvalho teria legitimidade para tentar derrubar Godinho Lopes já, caso contrário só tinha de se ficar pela impugnação e esperar por uma nova oportunidade.

A única alternativa que eu vejo a isto, é deixar apodrecer um Clube cada vez mais difícil de recuperar, porque com manifestações de encapuçados, providências cautelares pouco viáveis e impugnações que se eternizam, não se chega lá de certeza.

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