Continuidade ou rotura

No próximo dias 26 os sócios do Sporting Clube de Portugal vão decidir quem será o 49º Presidente do seu Clube, mas mais do que isso, vão ter essencialmente de optar entre a continuidade personificada por Godinho Lopes e a rotura que uns mais outros menos, todos os restantes candidatos de uma forma ou de outra propõe.

Eu sou aquilo que se pode considerar um “roquetista” convicto, pois sempre acreditei e continuo a acreditar que o Projecto Roquete foi uma boa ideia, embora estivesse assente em alguns pressupostos errados e tenha sido levado a cabo por pessoas pouco preparadas e sem sensibilidade para as realidades em que se envolveram.

16 anos passados pode-se dizer que com o Projecto Roquete o Sporting recuperou alguma de credibilidade perdida, voltou a ganhar títulos no futebol, embora sem conseguir pôr em causa a hegemonia do FC Porto, e foi a locomotiva de processos importantes no futebol português, como foram a luta pela transparência e credibilização do mesmo, a constituição das SAD e a construção dos novos estádios e centros de estágios, isto para além da aposta numa formação de excelência, mas em contrapartida financeiramente o Projecto Roquete foi um fracasso total, deixando o Clube enterrado em dividas e com um património muito reduzido, promovendo a afastamento e a redução da massa associativa e o enfraquecimento do ecletismo que sempre fez parte do ADN deste Clube.

Godinho Lopes é o candidato da continuidade, mesmo o negue como se isso fosse um pecado, ou como se tivesse vergonha de um passado do qual ele faz parte, ligado à construção do Complexo Alvalade XXI, projectado para se pagar a si mesmo, mas que na realidade foi uma das maiores causas do buraco financeiro em que o Sporting se encontra, daí que não se perceba a escolha de um candidato tão fácil de atacar devido a estas e outras fragilidades.

Como se isto não bastasse esta lista apresenta como um dos seus trunfos para o futebol, Carlos Freitas, um nome ligado a grande parte das contratações feitas pelo futebol leonino na última década, uma extensa lista de jogadores, grande parte dos quais não deram retorno, nem desportivo, nem financeiro, sendo que neste aspecto então o balanço é de tal forma desastroso, que ninguém poderá negar que passa por aqui outra das maiores causas do buraco financeiro do Sporting. O futebol acumula prejuizos atrás de prejuizos e Carlos Freitas é sem dúvida um dos que mais responsabilidades teve nessa matéria.

Para completar este ramalhete de "duques", temos Nobre Guedes o vice para a área financeira que apareceu no Sporting como o homem forte da reestruturação financeira proposta por Filipe Soares Franco e concluída por José Eduardo Bettencourt, que basicamente se pode resumir como sendo uma serie de engenheiras financeiras que ninguém percebeu muito bem e que apenas resultaram no empobrecimento do Clube sem resolver o problema do passivo que mais milhão menos milhão continua a ser assustador.

Para além destes três verdadeiros ícones daquilo que de pior teve o Projecto Roquete na sua gestão desleixada, esta lista tem ainda mais meia dúzia de egos enormes que me levam a prever sem grandes riscos de errar, que se a coisa der para o torto vai ser lindo de ver cada um a puxar para o seu lado e todos a sacudir a água do capote,da mesma forma que agora se atiram a um Bettencourt a quem há alguns meses atrás recorreram na certeza de que o seu grande prestigio junto dos sócios seria suficiente, como de facto foi, para manterem o poder.

Assim tenho pena de ver alguns nomes muito respeitáveis ligados a esta espécie de junta de salvação nacional, mas evidentemente que respeito as opções de todos eles, no entanto para mim "roquetista" convicto como para muitos outros sportinguistas como eu, chegou a hora de dizer basta.

O Projecto Roquete falhou e a perpetuação desta espécie de oligarquia que gere o Sporting há 16 anos, só servirá para agravar a cisão que actualmente divide um Clube que nem Bettencourt conseguiu pacificar com uma vitória esmagadora, alicerçada no apoio de 90% dos sócios, pelo que é fácil perceber que mesmo que consiga ganhar estas eleições, Godinho Lopes dificilmente conseguirá ter mais do que 50% dos votos, pelo que será sempre um Presidente fragilizado e debaixo de fogo.

Por tudo isto lamento que algumas pessoas não tenham percebido que o seu tempo acabou, pelo que está na hora de saírem de cena e abrirem o caminho a gente nova, em vez de se mascararem de lista da rotura, quando toda a gente sabe que o seu principal objectivo é defender interesses que não são propriamente os do Sporting que tendo compromissos a respeitar com a banca, não pode continuar a ser gerido por ela.

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