Bruno Carvalho numa encruzilhada

Bruno Carvalho emergiu nestas eleições como uma nova figura no mundo do Sporting, surgindo agora como o líder que a oposição nunca teve, até porque durante este período que ficará para a história como o "Projecto Roquete" praticamente nunca houve oposição. Partindo do zero como o candidato completamente desconhecido, Bruno afirmou-se por mérito próprio, e apesar de não ter nenhuma agência de comunicação atrás de si, e de ter ficado a perder no jogo das figuras, onde Augusto Inácio dificilmente poderia competir com Luís Duque, Van Basten está muito longe de ter palmarés de Rijkaard, e mesmo em relação aos jogadores, Carvalho ficou-se praticamente por um Wagner Love, contra os contentores de craques apresentados por Carlos Freitas e Paulo Futre, outros dois nomes sonantes, mesmo que polémicos, sem esquecer trunfos fortíssimos como Moniz Pereira, Manuel Fernandes e por aí fora, aos quais um já quase esquecido Virgílio não podia ser oposição. Mesmo assim Bruno Carvalho depois do primeiro debate realizado na SIC, apareceu à frente das sondagens e passou a ser o alvo a abater, não só pelo candidato da continuidade, mas também por Pedro Baltazar, que se tinha espalhado por completo nesse debate. Partiu-se então para uma campanha de ataques pessoais, com a vida empresarial do candidato a ser devassada, enquanto o famoso "fundo russo" passava a ser o ponto central das discussões, onde chegaram ao ponto de apelidar Bruno Carvalho de "vale e azevedo de terceira categoria", isto vindo da parte de Godinho Lopes que como se sabe nesta matéria tem telhados de vidro e mesmo assim foi poupado. Estes ataques seguramente que deixaram marcas e geraram alguma desconfiança entre os sócios mais conservadores, mas também contribuíram para revoltar e unir muitos outros à volta de um candidato, que começou a aparecer como uma esperança real de que a hora da mudança poderia ter chegado, até pelos sintomas de desespero que se notavam nos seus adversários, à excepção de Abrantes Mendes que nunca chegou a entrar nesta corrida. No dia da verdade Bruno Carvalho aguentou-se bem, acabando por perder à tangente e de uma forma apouco clara, mas ganhou um lugar de destaque nos próximos tempos da vida do Sporting, uma responsabilidade enorme nos difíceis combates que se avizinham. Depois de ter desempenhado com distinção o seu papel de líder acalmando a multidão ao mesmo tempo que prometia não baixar os braços, Bruno Carvalho partiu para a luta garantindo que iria avançar para a impugnação das eleições, que na sua opinião estão feridas por inconformidades várias. No que diz respeito à impugnação julgo que fará sentido se for bem explicada e assente em pressupostos seguros e fundamentados, mas também com a noção de que dificilmente um processo deste produzirá efeitos em tempo útil. Será mais uma questão de princípios do que outra coisa. No entanto o discurso de Bruno Carvalho no dia seguinte esteve longe de ser convincente, apelou a uma segunda volta que não pode acontecer pois não está prevista nos estatutos, agarrou-se à vitória de Eduardo Barroso, que sendo estranha não prova nada, e chegou a ser demagógico, quando afirmou que se tivesse ganho por naquelas circunstâncias não teria tomado posse. Posto isto Bruno Carvalho encontra-se numa encruzilhada. De um lado tem o apoio incondicional de um grupo de sócios e adeptos quase todos muito jovens, que se excederam na noite de sábado e que tão cedo não vão parar de se manifestar, do outro estão os muitos sócios mais moderados que também o apoiaram, sem esquecer os que não tendo votado nele também querem a mudança. Uns esperam dele posições firmes e duras, outros pedem alguma contenção em nome dos superiores interesses do Clube. Na minha opinião Bruno Carvalho agora não pode fugir da impugnação, por uma questão de princípios como já atrás disse, mas por outro lado também não se deve associar a actos de violência, e ficaria bem na fotografia se alertasse desde já os seus apoiantes para os perigos e prejuízos que daí podem resultar,pondo assim alguma água na fervura. Se o fizer e conseguir pelo menos impedir previsíveis excessos, ganhará estatuto para o futuro, caso contrário passará a ser visto como o homem que tentou assaltar o poder à força com uma revolução de pedras e palavrões, que só servirá para afugentar os sócios mais conservadores. É pois um papel difícil e muito importante o que está reservado a Bruno Carvalho nos próximos tempos, cabe-lhe a ele decidir se vai partir para uma guerra praticamente perdida, ou se vai ter a paciência suficiente para esperar que os outros caiam de tão podres que estão. Parece-me que esta altura para além da impugnação e da indignação, também há que haver alguma ponderação e calculismo, sem ser necessário entrar pela hipocrisia do agora estamos todos unidos. Um recuo estratégico que não pode ser confundido com um baixar dos braços, mas antes como um retemperar de forças e lamber de feridas, porque não há como negá-lo, o Sporting passou da fase da guerrilha para uma guerra aberta que no entanto não pode se ganha com ataques desmiolados. Pedem-se passos firmes e seguros e ao mesmo tempo muito sentido de responsabilidade em nome dos superiores interesses do Sporting, um teste de grande dificuldade para este novo herói leonino.

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