De Queirós a Bento

O processo que originou o despedimento de Carlos Queirós é verdadeiramente inacreditável, e tem alguns episódios incríveis, só possíveis no futebol português.

O Professor assinou por 4 temporadas, o que só por si me parece ter sido pouco prudente, ainda mais tratando-se de um contrato bastante oneroso para a Federação, pelo que a coisa começou mal logo aí.

Depois de um percurso bastante atribulado, Queirós conseguiu levar a Selecção à fase final do Mundial de 2010, onde atingiu os oitavos de final, cumprindo assim os chamados objectivos mínimos obrigatórios, conforme foi reconhecido pela própria FPF, que lhe pagou um incrível prémio de algumas centenas de milhares de Euros.

Perante isto tudo indicava que iríamos ter mais dois anos de Queirós na Selecção, apesar de muita gente desejar o contrário, até que de repente começam a rebentar bombas à volta do Seleccionador, e percebeu-se que lhe estavam a fazer a cama pelo que o seu destino estava traçado.

Compreendo os que defendem a mudança de Seleccionador e nem vou discutir essas razões, o que não percebo é que isso não tenha sido assumido sem rodeios na altura certa, e lamento que tenham tentado arranjar à força motivos para despedir Queirós, dando a nítida sensação que o objectivo era apenas poupar o dinheiro de indemnização devida.

O que ninguém previu foi que a nossa Selecção iria perder 5 pontos com o Chipre e a Noruega, conforme o demonstra as tristemente celebres afirmações de Madail, no convencimento de que a equipa não seria afectada por estar órfã seu comandante, referindo-se brejeiramente a um tal de "piloto automático" .

Mas de piloto automático a Selecção passou rapidamente a ligada às máquinas, e a decisão de despedir Queirós tornou-se inadiável, e teve mesmo de ser consumada, ficando agora o resto para ser resolvido nos tribunais, enquanto alguns protagonistas se vão entretendo na habitual troca de galhardetes.

Rei morto, Rei posto, era urgente e necessário arranjar já um novo Seleccionador, numa altura em que as opções não eram muitas, mas eis que Madail resolve tirar mais um coelho da cartola, e tem a brilhante ideia de pedir ao Real Madrid para emprestar nos Mourinho por 10 dias, para fazer os dois jogos que se seguem já em Outubro.

Mais surpreendente do que tudo isto foi o facto de Mourinho não só ter aceite a sugestão, como aparentemente ter ficado entusiasmado com ela, mas naturalmente que em Madrid não foram na conversa, e Madail regressou a Lisboa numa situação ainda pior do que aquela em que estava antes, e deixando atrás de si algumas ondas que agitaram os mares madrilenos.

Sinceramente custa-me perceber como é que alguém pode ter ido buscar uma ideia destas que parece ter nascido meia a brincar no decorrer de um programa de televisão, porque na realidade isto não foi mais do que queimar o próximo Seleccionador.

Se Mourinho viesse e conseguisse o tal efeito desejado, o que nem seria assim tão complicado como isso, o Seleccionador a contratar no futuro ficaria numa posição difícil, restando saber se depois quando ele tivesse algum percalço, Madail iria de novo pedir o especial emprestado para o resto da campanha.

Mas como Mourinho não vem, o próximo será sempre uma segunda escolha, e não estou a ver muitos treinadores dispostos a aceitar este presente envenenado. Só mesmo um homem com espírito de missão como é o Paulo Bento, ou então o Manuel Cajuda, que se põe sempre em bicos de pés quando há uma vaga destas no horizonte, é que podem estar dispostos a isto.

A alternativa era o velho Luís Aragonês, uma opção cara, mas que pelo menos calava para já os críticos de costume, isto porque Manuel José é sempre uma carta fora do baralho, pois nunca beijou a mão aos donos da bola do futebol português e portanto não vai chegar lá.

Do mal o menos parece que a escolha recaiu em Paulo Bento, que terá assim mais uma difícil missão entre mãos, e a mim só me resta desejar-lhe as maiores felicidades, porque ele bem merece.

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