Á procura do melhor modelo de jogo

Portugal é um país de treinadores de bancada e os sportinguistas não são excepção, poucos serão os que não gostam de dar os seus palpites sobre as questões tácticas, e muitos são os tem certezas, principalmente depois dos jogos terem terminado, quando é fácil dizer o que esteve mal, e adivinhar o que se poderia ter feito melhor.

Eu também sou um apaixonado pelas tácticas, e sempre tentei perceber o jogo um pouco para além do conhecimento comum, no entanto tenho a noção de que há coisas que não sei, e de que os verdadeiros treinadores tem acesso a dados que não estão disponíveis para quem está de fora.

Por isso antes de criticar, procuro sempre perceber as razões do treinador, e detesto ler e ouvir a multidão de adeptos que pensam que sabem tudo, e à primeira derrota desatam a insultar o treinador da sua equipa, exigindo a respectiva substituição, como se isso fosse resolver tudo o que está mal.

Paulo Sérgio chegou ao Sporting sem um currículo forte que o pusesse ao abrigo da "turma do malhão", como eu costumo chamar a esses críticos por vocação, e depressa começou a levar na cabeça, como levaram todos os seus antecessores, até aqueles que ganharam algumas coisas.

Julgo que ele se expôs um bocadinho com o seu discurso muito aberto e frontal, mas pelo menos tentou explicar as suas ideias, só que aqueles que antes criticavam o Paulo Bento por causa de jogar sempre da mesma maneira depressa descobriram que a equipa não podia estar sempre a mudar de modelo de jogo, e alguns até já sabem como é que o Sporting tem de jogar para ganhar sempre.

Menos inteligente, ou mais lento a descobrir as coisas, Paulo Sérgio tem vindo a fazer inúmeras experiências, partindo com base no chamado 4x4x2 clássico, com uma defesa subida e a ambição de pressionar alto para empurrar o jogo para o meio campo adversário.

Os jogos da pré-época não deixaram nenhuma indicação sobre quem seria o guarda-redes titular, e o facto de Paulo Sérgio ter afirmado que gostaria de ter mais um guardião, abriu espaço para que a posição de Rui Patrício fosse colocada em causa, o que foi logo aproveitado pela comunicação social para adivinhar o fim do reinado do jovem guarda-redes do Sporting, que no entanto ao ser chamado, voltou a demonstrar todo o seu carácter, ao mesmo tempo que confirmava a sua natural evolução, para desgosto dos muitos que teimam em não reconhecer-lhe valor. Patrício tem apenas 22 anos e está longe de ser um guarda-redes feito, mas arrumá-lo agora seria na minha opinião um perfeito disparate, porque temos ali um jogador para muitos anos e ainda com grande margem de progressão.

Na defesa a entrada de Evaldo para o lado esquerdo foi pacifica, e o brasileiro até já marcou um golo decisivo, redimindo-se dos erros do primeiro jogo com o Brondby, mas a aposta inicial em Polga como parceiro do cada vez mais indiscutivel Carriço, pareceu-me desde logo como uma má opção, principalmente a jogar com uma linha de quatro jogadores bastante subida no terreno, pelo que foi com naturalidade que Nuno André teve a sua oportunidade, que até agora parece estar a agarrar apesar daquele erro em Paços de Ferreira, revelando-se como um jogador rápido e eficaz, que realmente acrescenta os centímetros que faltavam a esta defesa.

Assim à partida o quarteto defensivo titular está encontrado, embora tenha de afinar a forma como sobe no terreno, pois já toda a gente percebeu como é que aquela defesa joga, obrigando Rui Patrício a funcionar quase como libero, o que envolve os seus riscos, pois no meio de tantas bolas metidas no espaço aberto, há sempre uma que pode passar, como aconteceu no jogo com o Marítimo, e mais tarde ou mais cedo o nosso guarda-redes vai levar a sua chapelada.

O meio-campo começou por ser alicerçado em dois jogadores muito experientes como são Pedro Mendes e Maniche, mas a lesão do primeiro abriu espaço para a afirmação de mais uma jóia da Academia, e André Santos tem vindo e demonstrar todo o seu valor. Para além disso chegou Zapater, um jogador que trás alguns créditos, pelo que nesta zona do terreno se prevê muita luta pela titularidade, no entanto jogar com apenas dois jogadores no meio exige muito esforço da parte destes, principalmente se os alas forem jogadores de caracteristicas muito ofensivas, uma situação que poderá ser corrigida quando Izmailov voltar a estar disponível, mas o russo continua a ser filho único neste plantel.

A alternativa é jogar em 4x3x3, ou se quiserem 4x2x3x1, o que implicaria a entrada de mais um médio, que pode ser Matias Fernandez, ou então um jogador que liberte Maniche para funções mais ofensivas e menos desgastantes, o que em alguns casos vai ser inevitável.

Esta última opção tem como principal contra o facto de deixar Liedson sozinho na frente, mesmo que os alas sejam jogadores capazes de se aproximarem dele, no entanto na Dinamarca pareceu-me que Paulo Sérgio tentou uma nova solução que resultou muito bem, pois ao contrário do que quase toda a gente disse, julgo que com a entrada de Matias Fernandez e Jaime Valdés, o Sporting não passou a jogar no tal 4x2x3x1, mas num 4x4x2 híbrido, com Yannick Djaló ao lado de Liedson, e apenas um jogador nas alas, o que obriga um dos laterais, no caso Evaldo, a fazer o corredor todo.

Esta é uma solução que pela sua dinâmica me parece ser a ideal para equilibrar a equipa, e que atendendo ao plantel disponível, permite inúmeras soluções ao treinador, ao mesmo tempo que serve para potenciar as caracteristicas de Djaló, que devido a algumas limitações técnicas, tem dificuldades em jogar como extremo, principalmente quando não tem espaço, o que numa equipa como o Sporting é quase sempre a regra.

Nas alas para além do já referido Yannick Djaló, Paulo Sérgio tem utilizado Vukcevic e Valdés, deixando o jovem Salomão à espera da sua oportunidade. O montenegrino tem tentado ajudar mais no capitulo defensivo, e é um jogador com qualidades, embora seja visível que não se entende com Liedson, no entanto parece-me ser de todos a melhor escolha, seja em que modelo for. Quanto a chileno ainda vi pouco para ter uma opinião definitiva, mas parece-me um jogador com bons pés, que pode ser útil.

No ataque temos o inevitável Liedson que já caminha para a veterania, no entanto parece-me que já está perto da boa forma, e seguramente que vai voltar aos golos, mas de qualquer maneira a vinda do tal avançado diferente dava muito jeito, porque de Postiga já ninguém espera muito mais, pelo que depois da saída de Pongolle resta Saleiro como alternativa ao "levezinho", ou como o seu parceiro no 4x4x2.

Paulo Sérgio reconheceu que já estava na altura de adoptar um modelo de jogo como o principal, deixando os outros como alternativas consoante o decorrer dos jogos, vamos ver quais as suas opções no encontro da Figueira da Foz que antecede a primeira paragem do Campeonato, altura em que o treinador terá tempo para as afinações finais, esperemos que já com Pedro Mendes, Izmailov e o tal avançado que falta.

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