Carlos Queirós

Carlos Queirós ficará para a história do futebol português como uma das suas maiores figuras, e eu diria mesmo que há um futebol português antes e depois de Queirós, pois é indesmentível que o trabalho que ele efectuou na FPF ao nível das camadas jovens, revolucionou o nosso futebol.

Até à chegada de Queirós as nossas selecções jovens viviam debaixo da mentalidade pequenina de um país pouco habituado a ganhar, e foi o Professor que com um trabalho sistematizado, criou um novo jogador português, ambicioso e confiante nas suas capacidades, que foram então potenciadas ao máximo.

Os resultados foram excelentes e os dois títulos mundiais de juniores foram apenas os pontos mais altos de um trabalho que levou naturalmente Queirós ao comando da Selecção principal de Portugal, onde começou a lançar os seus meninos, até ao celebre dia das "porcarias", que encerrou essa sua primeira passagem pelo posto de Seleccionador Nacional.

Seguiu-se o Sporting, onde Queirós conseguiu colocar a equipa a jogar um futebol de grande qualidade, mas não ganhou nada, ficando marcado por outro momento inesquecivel, como foi o dia dos 3-6.

Foi também no Sporting que ele começou a revelar as suas dificuldades de relacionamento com jogadores feitos, e com pouca paciência para aturar os seus exaustivos métodos de teórico incorregivel.

Depois do falhanço em Alvalade Queirós foi coleccionando outros insucessos e só parou algum tempo em Manchester, como treinador de campo de Alex Ferguson, confirmando aí a sua fama de excelente organizador e grande conhecedor dos métodos de treino mais avançados, que depois quando a trabalhar por sua conta nunca foi capaz de utilizar em seu proveito, devido às suas dificuldades na leitura do jogo e no relacionamento com os jogadores.

O regresso à FPF foi encarado com alguma desconfiança e constituiu um corte com o reinado populista de Scolari, mas rapidamente se percebeu que Queirós continuava muito complicativo, e apesar de algumas boas exibições os resultados não foram brilhantes, pelo que o Professor chegou a ser apontado como uma espécie de "pé frio", a quem faltava a sorte que acompanha os campeões e que falhava sempre no grandes momentos.

Terá sido seguramente todo este percurso que transformou o jovem professor que há pouco mais de vinte anos revolucionou o futebol português, incutindo-lhe uma mentalidade vencedora até aí inexistente, num treinador traumatizado e cheio de medo das derrotas, que fez recuar a nossa Selecção aos tempos em que perder por poucos já não era mau.

Neste Mundial os objectivos mínimos foram cumpridos, e Queirós ficou satisfeito com eles, não havendo por isso razões aparentes para que seja substituído, nem sequer vontade e dinheiro para o fazer, mas agora coloca-se um novo desafio ao Professor: ou percebe aquilo que Cristiano Ronaldo quis dizer, mesmo que não o tenha feito da melhor forma, ou continua preso aos seus medos, à espera de milagres que raramente acontecem, e então teremos mais dois anos deste Portugal dos pequeninos que joga acima de tudo para não perder.

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