Os campeões do assobio

Nesta altura da época gosto de ver os jogos decisivos, e assim ontem estava a assistir ao Inter de Milão-Chievo, quando com o resultado em 4-1 resolvi mudar para o Roma-Cagliari, que ainda estava empatado a zero, e que consegui apanhar na internet.

Logo para começar vi-me livre dos intermináveis comentários dos dois papagaios de serviço na SportTV, que não se calam durante todo o jogo, onde falam de tudo e mais alguma coisa, trocados por uma narração em inglês, que quase se limitava a referir os nomes dos jogadores, à medida que eles iam tocando na bola, o que nos permite ter outra percepção do ambiente que se vive no estádio.

Assim decorria o minuto 75 quando o Cagliari se adiantou no marcador, com um golo que na altura significava a entrega do titulo à equipa de Mourinho. Por momentos o Olímpico de Roma afundou-se num silencioso rumor, que o narrador não se atreveu a interromper com gritos como os portugueses costumam relatar estas ocasiões. Mas não foi preciso muito tempo para que o Estádio se reerguesse com cânticos de fervoroso incentivo à "squadra romana", empurrando-a para a reviravolta que Totti consumou com dois golos.

Esta situação não pode deixar de me suscitar um paralelismo com o que se costuma passar em Alvalade, e dei comigo a imaginar que se aquele cenário acontecesse no nosso Estádio, os assobios seriam imediatos, e grande parte do público em vez de tentar ajudar a equipa a ressuscitar, desataria falar mal de tudo e de todos, principalmente do burro do treinador, aumentando os níveis de ansiedade e de intranquilidade dos jogadores, até à derrota se consumar, altura em que poderiam finalmente demonstrar que tinham razão.

Os adeptos portugueses na sua generalidade, e os sportinguistas em particular, tem esta capacidade magnifica de perceberem imenso de futebol, e de terem sempre a melhor táctica na ponta da língua, por isso assobiam como ninguém, porque há sempre alguém que perde num jogo ou num campeonato.

A última vez que entrei no velhinho Estádio José Alvalade foi em Maio de 2002, no dia em que o Sporting festejava o titulo de Campeão Nacional, que já tinha sido garantido na jornada anterior. Atrás de mim estava um rapaz que devia ter à volta de 20 anos de idade, e que durante todo o jogo nunca se fartou de falar mal do Boloni, de resto esse era um sentimento já generalizado desde que o campeonato tinha começado, e o ambiente que na época seguinte se viveu no estádio, nada ajudou uma equipa que passou por muitos sobressaltos, de tal forma que o técnico romeno só a muito custo chegou ao fim do seu contrato, e tinha conquistado uma "dobradinha".

Paulo Bento foi outra das vitimas das bancadas de Alvalade, ainda sobreviveu quatro anos graças a umas tacinhas, e à firmeza do Presidente, mas enquanto não o viram pela porta fora não descansaram, no entanto quem pagou foi como sempre o Sporting, que terminou no 4º lugar, naquela que foi uma das piores épocas da história do Clube.

Mas a cultura do assobio já é quase uma doutrina em Alvalade, e se depois dos ridículas confrontos entre aplausos e assobios, a propósito de jogadores com João Moutinho e Rui Patrício (incrível não é?), eu pensava que já tinha visto tudo, eis que na festa do Iordanov onde nem compareceram 20 mil sportinguistas, muitos deles resolveram assobiar alguns convidados que se dispuseram a abrilhantar a festa, o Figo, e até o nosso Presidente. É caso para dizer que nem numa festa esta gente sabe estar, sem tentar estragar tudo, espalhando os seus ódios de estimação.

Perante tudo isto, julgo que o destino de Paulo Sérgio está traçado, como estaria o de qualquer outro que tivesse coragem para pegar numa equipa que tem algumas limitações, e que seguramente não vai receber grandes reforços. Portanto ou ele desata logo a ganhar sem parar, ou será apenas o burro que segue, restando saber quanto tempo vai resistir.

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