Quase perfeito

Já vejo futebol com olhos de ver há cerca de 30 anos, e assim de repente não me estou a lembrar de um jogo que tenha corrido tão bem ao Sporting, como o de ontem.

Nestes confrontos onde há algum equilíbrio, é muito importante entrar bem no jogo. Basta recordar o que aconteceu no recente Porto-Sporting disputado no Dragão, onde os Leões muito expectantes e passivos, foram surpreendidos pela forma intensa como os portistas entraram em campo.

Desta vez foi ao contrário, o Sporting entrou decidido e ainda por cima marcou na primeira vez que chegou à baliza de Helton. Durante cerca de 25 minutos assistimos a um domínio total dos Leões, que com o duplo pivot constituído por Mendes e Veloso, ganham outra consistência em termos defensivos, acrescida pela grande disponibilidade física e táctica de jogadores como Izmailov e Moutinho, que desta vez tiveram a companhia de um Yannick tão esforçado como endiabrado nos desdobramentos ofensivos, e de um Liedson que é uma autentica carraça.

Foi um inicio quase perfeito, mas era impossível manter aquele ritmo, pelo que naturalmente o Porto começou a equilibrar as operações, embora sem nunca conseguir empurrar o Sporting para a sua área, e quando toda a gente já estava à espera do intervalo, surgiu o 2-0 que não poderia ter chegado em melhor altura, pela tranquilidade que transmitia à equipa.

Melhor do que isto só mesmo um terceiro golo a abrir a 2ª parte, que acabou com o jogo e com o campeonato para o FC Porto, que a partir dali se limitou a tentar evitar uma humilhação que o Sporting também não teve capacidade para procurar, optando antes por controlar um jogo que estava resolvido.

Carvalhal encontrou agora este 4x2x3x1, que resulta quando o Sporting defronta adversários fortes, ou pelo menos ambiciosos, na medida em que protege uma defesa que tem alguns pontos fracos, mas que não me parece que possa funcionar perante equipas mais pequenas que se fecham muito atrás, como de resto se viu no último jogo como Everton, em que só depois da entrada de Saleiro para o lado de Liedson, é que foi possível chegar ao golo, e estamos a falar de um jogo frente a uma equipa inglesa, que não é propriamente o mesmo que aquelas equipinhas do futebol português que estão muito rotinadas na táctica do autocarro.

É verdade que com Yannick em campo se podem conseguir desdobramentos que permitem transformar o 4x2x3x1 num 4x1x3x2, em que Veloso descairá para a esquerda e Djaló se encostará a Liedson, mas esse é um sistema que precisará de ser testado e oleado, pelo que não sei se não será preferível em certos jogos entrar logo com uma equipa mais aberta, o que implicará o sacrifício de um dos jogadores do meio-campo em favor de um segundo avançado.

Ainda em relação ao jogo de ontem, julgo que Carvalhal correu um risco desnecessário ao respeitar à letra a máxima que diz que em equipa que ganha não se mexe, mantendo Abel no onze em detrimento de João Pereira. É verdade que o nº 78 está a atravessar um bom momento, e voltou a cumprir, mas o 21 é melhor jogador em todos os aspectos do jogo, e esta opção só me fez lembrar a triste ideia que Carvalhal teve quando deixou no banco o nosso melhor central no jogo aéreo, precisamente contra um Benfica que assenta muita da sua capacidade ofensiva nas suas torres. Desta vez deu certo, Abel não comprometeu e o jogo lateral do FCP não funcionou, mas não havia necessidade.

Também não posso deixar de referir as excelentes actuações de dois jogadores marcados pelos adeptos, como são Grimi e Yannick. Nenhum deles vai ser um dos melhores do mundo, mas ambos tem potencial e capacidade para serem jogadores numa equipa como o Sporting. Só que infelizmente temos um grupo de adeptos, que vá-se lá saber porquê, tudo fazem para destruir as carreiras de alguns eleitos como ódios de estimação a quem nada perdoam, sendo que o maior exemplo de todos é Rui Patrício, que apenas sobrevive porque realmente apesar dos seus 21 anos, é muito forte psicologicamente e consegue passar por cima destas coisas com grande à vontade, mas nem todos são iguais, e não deve ser fácil jogar debaixo dos assobios constantes de quem deveria estar ali para apoiar. Alguns dos insucessos do Sporting também passam por aí e era bom que as pessoas percebessem isso.

Finalmente uma palavrinha para a arbitragem, sobre a qual nem há muito a dizer. O jogo não teve casos muito polémicos, e a superioridade do Sporting foi incontestável, mas naqueles pequenos pormenores que todos sabemos como funcionam, deve-se dizer que na dúvida foi quase sempre a nosso favor, coisa a que não estamos habituados, mas também sabemos que a intenção não era propriamente ajudar o Sporting, e até estranhamos quando não somos roubados num jogo destes.

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