Coragem e inteligência

Coragem e inteligência são duas palavras que definem o trabalho efectuado até aqui por Carlos Carvalhal. Em primeiro lugar porque não era fácil aceitar este desafio nas condições em que lhe foi proposto, embora fosse uma oportunidade se calhar única para ele, de trabalhar num grande.

Carvalhal não se intimidou, aceitou ser um treinador a prazo, acreditou nas suas capacidades e começou logo por cortar com o passado recente da equipa, tentando introduzir um sistema de jogo mais do seu agrado, mas teve a inteligência suficiente para perante os resultados das experiências efectuadas, perceber que com os jogadores disponíveis dificilmente teria sucesso a jogar em 4x3x3, ou em 4x2x3x1, e mudou.

Essa mudança não foi um recuo, mas apenas um passo em frente, pois ele soube aproveitar o que de bom tinha ressaltado das alterações que introduzira, a começar pela entrada de Adrien no onze, o que veio acrescentar à equipa a agressividade e sentido táctico que lhe faltavam naquela zona do terreno, onde normalmente jogava um Veloso muito bom com a bola nos pés, mas pouco vocacionado para a recuperação da mesma.

Essa coragem de apostar num miúdo com poucos jogos nas pernas, estendeu-se a Saleiro que também teve a sua oportunidade no momento certo, e respondeu bem, embora em termos de potencial não seja um jogador tão bom como Adrien, pelo que vai ter de lutar muito para manter o lugar, que por enquanto é dele, mas que à partida estará destinado a Pongolle, embora o francês tenha de o provar dentro do campo. Mas para já Saleiro é o dono daquele que será o único lugar do onze que Carvalhal já definiu, que ainda está em aberto.

De resto esse é outro mérito do treinador do Sporting, que apostou na construção de um onze base, em contraponto com Paulo Bento que sempre defendeu a teoria da rotatividade. Ambas as opções terão os seus prós e contras, que agora não vou discutir aqui, mas para já Carvalhal tem demonstrado inteligência e coragem nas suas escolhas.

Para principiar percebeu que com Tonel a defesa ganha poder de choque e alguma capacidade no jogo aéreo, e não teve medo de sacrificar o até aqui intocável Polga. Depois ao contrario do que para aí se dizia, preferiu um lateral direito, que na minha opinião era o lugar mais carenciado do plantel, em detrimento do lateral esquerdo, para onde há várias opções, e a recuperação de Grimi está apenas a confirmar isso mesmo.

A chegada de João Pereira permitiu ao Sporting alargar o jogo à direita, embora do lado contrário Grimi não seja capaz de fazer o mesmo, mas garante consistência defensiva, o que dá mais liberdade ao médio que joga daquele lado, pelo que não foi estranho que com Vukcevic ali, o Sporting tenha feito o melhor jogo da temporada, frente ao Leixões.

No entanto atendendo ao grande momento de Veloso, compreendo perfeitamente que Carvalhal o tenha de encaixar no onze, até porque se trata de um activo que à partida poderá proporcionar um importante encaixe financeiro no final da temporada, altura em que o meio campo deverá ser retocado com a entrada de um jogador que possa ser alternativa para Adrien, e outro com características mais ofensivas, sendo que para já Rabiu e Rosado estão à experiência. Esses retoques até podem acontecer já, mas com Veloso não são assim tão urgentes, embora Adrien seja realmente filho único neste plantel.

De qualquer forma a versatilidade de jogadores como Izmailov e Moutinho, permitem que o trio do meio-campo tenha uma grande mobilidade, como se viu sábado com o Nacional, em que o russo jogou mais pela esquerda, e Veloso apareceu ora no meio ora na direita, sendo que aqui me parece que perde rendimento, pelo que nesta solução julgo ser preferível dar ao Capitão a missão de ser o suporte para as subidas de João Pereira.

De resto o regresso de Liedson em grande, poderá resolver o problema da falta de golos, restando saber quem vai ganhar a corrida pelo tal lugar que ainda está em aberto no ataque leonino.

Outro dos sacrificados neste novo modelo de jogo é Matias Fernandez, que no entanto parece estar a reagir bem a sua condição de suplente, e que pode ser útil em determinadas circunstâncias, mas aqui Carvalhal também teve a coragem necessária para sentar o maior investimento do Sporting esta época. Vamos ver até que ponto ele consegue gerir os egos dos jogadores descontentes a começar por Vukcevic, que já se sabe que não gosta muito do desconforto do banco de suplentes.

Um dos maiores erros que eu apontei a Carvalhal no começo do seu consulado, foi a reintegração de Stojkovic, por se tratar de um elemento mal visto no grupo e que só trouxe problemas, ainda por cima essa recuperação poderia contribuir para a destabilização de Rui Patrício, que caminha para ser o grande guarda-redes que já nos faltava há muito tempo, mas esse problema também já foi solucionado, vamos a ver se é desta que despachamos de vez o gigante sérvio.

Enfim, até agora nota alta para Carvalhal. Veremos como correm os importantes testes que se aproximam, embora também não possamos estar a exigir milagres, mas passar o Everton, fazer uma ponta final do Campeonato digna dos pergaminhos do Sporting, e tentar ganhar as Taças, é aquilo que se pede para aprovar o treinador leonino, naquele que será o maior desafio da sua carreira.

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