O processo da contratação do treinador

O processo da contratação do treinador para substituir Paulo Bento, tem sido bastante discutido e criticado por vezes de uma forma pouco correcta, que acaba por contribuir para fragilizar a posição de Carlos Carvalhal, que já de si não é muito sólida.

Desde da primeira hora que José Eduardo Bettencourt afirmou a sua vontade de que as coisas se processassem longe das primeiras páginas dos jornais, o que só seria possível se ele tivesse agido rapidamente, coisa que também não era fácil.

Mesmo assim parece-me que o Presidente levou muito tempo a reagir e a ponderar, pelo que naturalmente começaram a chover nomes de todos os lados, até que se chegou a um quase consensual André Vilas Boas, que no entanto não estando livre, obrigava à realização de negociações a três, cujo desenrolar terá sido retardado por um jogo da Taça da Liga, o que acabou por prolongar os ecos dessa novela, e obrigar o Sporting a assumir perante a CMVM que estavam em curso no âmbito do processo de recrutamento de um novo treinador, contactos exploratórios com alguns dos candidatos para o cargo, entre eles e com a devida autorização Académica, também com o representante do treinador André Vilas Boas.

No entanto o acordo com a Académica falhou porque o seu Presidente fez exigências financeiras consideradas excessivas pelo Sporting, mas perfeitamente compreensiveis da parte de quem está lá para defender os interesses do seu Clube. Devo dizer que aqui não há nada a apontar a ninguém. O Presidente da Académica fez o seu papel, André Vilas respeitou o seu compromisso com o Clube que há pouco mais de um mês lhe dera a oportunidade de iniciar uma carreira de treinador na 1ª Liga, o que só o fez marcar pontos como homem de carácter, e
Bettencourt não aceitou pagar uma fortuna por um treinador que ainda é uma incógnita, e que seria sempre uma aposta de risco, pelo que não poderia ser simultâneamente um grande investimento financeiro.

O pior veio a seguir, o Presidente do Sporting disse que não tinha falhado nada, quando era evidente que tinha falhado pelo menos o acordo com a Académica, o resto foi o habitual aproveitamento de quem já estava predisposto para falar mal, sejam os jornalistas de serviço, sejam os próprios adeptos do Clube.

O Rui Santos até descobriu que o Pinto da Costa poderia estar por de trás do falhanço da contratação do Vilas Boas, e houve jornais a afirmar que o FC Porto tinha desviado de Alvalade o jovem treinador da Académica. A isto chama-se matar dois coelhos numa só cajadada.

De resto leu-se de tudo e mais alguma coisa. O impagável Cajuda depois de se candidatar ao lugar, disse que já não queria mesmo sem ser convidado, embora o presidente do clube dele tenha afirmado que foi sondado. Também se disse que o Jorge Costa recusou o lugar, e que o Pekerman achou pouco os 40 mil € por mês que lhe propuseram, fora os outros como o Adriaanse que se recusam a pegar em equipas a meio da temporada. Um fartote!

Finalmente Bettencourt avisou que já estava quase tudo tratado, e que o nome do escolhido iria ser uma surpresa. De facto Carvalhal não era propriamente um dos nomes mais populares, ou prováveis à partida, mas também atendendo às circunstâncias não foi assim uma escolha tão surpreendente quanto isso. Só que agora parece que se descobriu que afinal a surpresa anunciada seria Luís Aragonés. O mais incrível é que ainda há malta que engole isto tudo, embora muitos o façam apenas porque lhes dá jeito.

E foi assim que Carlos Carvalhal chegou a Alcochete como uma sétima ou oitava escolha, e com um contrato de seis meses onde terá de demonstrar o que vale, sabendo que vai encontrar uma equipa de rastos e umas bancadas sem paciência e com pouca fé nele. Uma espécie de missão impossível, que só mesmo um treinador a atravessar uma fase menos feliz da sua carreira, podia aceitar.

Apesar disso o currículo de Carvalhal não é inferior ao de outros treinadores, como por exemplo aos dos que hoje trabalham nos nossos grandes rivais, pelo menos quando lá chegaram, embora se saiba que para triunfar no Porto não é preciso ser um génio, e que tudo o que entra na Luz é ouro, enquanto em Alvalade é para deitar abaixo, e nem é preciso esperar que sejam os de fora a fazê-lo, pois os próprios sportinguistas se encarregam disso.

Sendo assim até compreendo que tenham poupado o nosso treinador a uma conferência de imprensa de apresentação, que rapidamente se transformaria numa sessão de tiro ao alvo, quem sabe se até numa manifestação de caras tapadas. Só tenho pena é que tenha sido a excepção e não a regra, mas sobre isso já escrevi noutra altura.

Rei morto, Rei posto. A hora é de Carlos Carvalhal espero que ele consiga dar a volta por cima a isto tudo, e com muito esforço, dedicação e devoção possa chegar à glória.

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