Não dá mais

Por principio sou contra as mudanças de treinador a meio da temporada e a favor da estabilidade que permita um trabalho de fundo que me parece ser a opção adequada principalmente num Clube como o Sporting.

Assim normalmente defendo os treinadores até às ultimas consequências e no caso de Paulo Bento confesso ter uma grande simpatia e admiração por ele, até porque me identifico muito com a sua forma de ser e estar, para além de considerar que ele fez um trabalho globalmente positivo no Sporting.

Cheguei mesmo a sonhar que Paulo Bento poderia vir a ser realmente o "Ferguson do Sporting", mas infelizmente enganei-me. Em primeiro lugar porque ele revelou-se incapaz de dar a volta por cima a este mau arranque de temporada, onde a equipa não só não deu o salto em frente que se impunha, como regrediu em alguns aspectos onde funcionava, e agravou outros em que já revelava grandes dificuldades.

Não houve nenhuma evolução no jogo da equipa, antes pelo contrário, e depois há um segundo factor fundamental, que é o facto de não estarmos em Inglaterra mas sim Portugal, onde a mentalidade dos adeptos, na sua generalidade pouco pacientes, exige resultados imediatos e não dá espaço para os tais trabalhos em profundidade. Assim criou-se à volta de Paulo Bento, e consequentemente da equipa, um clima de hostilidade tal que já ninguém aguenta.

Chegou pois a altura em que José Eduardo Bettencourt e Paulo Bento tem de se sentar à mesa, e reconhecer que já não dá mais e o melhor caminho para todos será a saída do treinador, de forma a permitir o inicio de um novo ciclo, ainda a tempo de minorar os estragos nesta época, e de preparar convenientemente a próxima.

Eu sei que esta será uma decisão difícil e dolorosa de tomar, por dois homens que acreditaram que que estavam no caminho certo, mas há alturas que que temos de saber parar.

O jogo de ontem voltou a ser mau de mais para ser verdade. Jogadores fundamentais muito abaixo do nível mínimo aceitável, como é o caso de Liedson, outros que não passam daquilo, como Pedro Silva, Grimi ou Postiga, e jovens intranquilos e incapazes de aproveitarem a oportunidade, como Saleiro e principalmente André Marques, que fez uma das piores exibições de que eu tenho memória de ver a um jogador do Sporting.

Segundo as estatísticas do jogo o Sporting fez 60 cruzamentos, que invariavelmente esbarraram nos troncos plantados na área letã, o que só por si revela a falta de discernimento da equipa na forma como optou por tentar chegar à baliza adversária, ao ponto de quase não ter incomodado o guarda-redes Kolinko, enquanto por incrível que pareça, acabou por ser Rui Patrício a salvar o Sporting de uma humilhante derrota.

Assim não dá mais. Os sportinguistas dividem-se entre os desanimados e os revoltados, os jogadores vivem entre a ansiedade e a desinspiração total, enquanto Paulo Bento e José Eduardo Bettencourt parecem já só estar à espera um do outro a ver quem toma a iniciativa, porque já nem eles devem acreditar no milagre que seria a reviravolta.

Só falta mesmo assumirem que falharam. Foi bom, poderia ter sido melhor, mas agora não dá mais. Acabou-se.

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