Um Clube diferente

Um dia destes Paulo Bento afirmou que o Sporting trata bem de mais os árbitros. Eu diria antes que o Sporting trata bem de mais quase toda a gente, começando pelos dirigentes dos diversos organismos nosso futebol e dos clubes rivais, passando até pelos políticos e governantes, e terminando nos jornalistas, esquecendo-se muitas vezes dos sportinguistas, esses sim frequentemente maltratados.

Em contrapartida toda essa gente desrespeita o Sporting há muito tempo, um hábito que julgo se instituiu no período pós João Rocha, em que o Clube andou um pouco à deriva, e em que chegou mesmo a ser ridicularizado, e ao contrário do que seria expectável não se alterou nada com a chegada a Alvalade de uma nova geração de dirigentes, com um perfil diferente e mais credível.

Na verdade a era do "Projecto Roquete" trouxe-nos uma serie de dirigentes que na generalidade pautaram as suas actuações pela elevação e cavalheirismo, acreditando na regeneração do nosso futebol, e na boa-fé das suas pessoas, mas no fim não passaram de anjinhos comidos como tontos pelos tubarões do futebol português.

A lista de tristes episódios em que o nosso Clube foi ultrajado por todo o tipo de gente é muito longa, mas mesmo assim atrevo-me a referir alguns casos dos mais escandalosos, ainda bem presentes na minha memória, e que julgo vale a pena recordar aqui:

* A atribuição de terrenos e outras vantagens da parte da CML ao Benfica, que levou a que no tempo de Jorge Sampaio tivesse que ficar estipulado por escrito, que sempre que um dos dois grandes de Lisboa recebesse alguma coisa da Câmara, o outro teria de receber o mesmo.

* A exclusão do Estádio de Alvalade do Mundial de Juniores de 1991.

* O "caso Luís Manuel" em que a FPF aceitou como válido um contrato que não era mais do que uma fotocopia do contrato legal, para impedir o Sporting de inscrever jogadores.

* O desfecho do "caso Paulo Sousa e Pacheco"

* A greve dos árbitros aos jogos do Sporting na época de 1998/99.

* O Campeonato de Juniores resolvido à pedrada.

Estes, entre dezenas de outros casos em que o Sporting foi sistematicamente prejudicado por árbitros habilidosos e subservientes aos poderes instituídos, por dirigentes dos organismos desportivos que mais não fazem do que defender os interesses de quem os colocou nos cargos que desempenham, e por políticos cobardes e oportunistas, sem coragem para enfrentarem os barões da bola, tudo a coberto de uma imprensa tendenciosa e instrumentalizada, não tem tido uma resposta eficaz da parte dos nossos dirigentes.

Passando por cima do tal período em que o Sporting praticamente esteve à deriva, tivemos como Presidente um Sousa Cintra que ninguém levava a sério, apenas se riam às suas custas. Depois do "foguetão" Santana Lopes, que pensava mais em politica do que noutra coisa, e talvez por isso já piscasse o olho aos benfiquistas, vieram os ingénuos José Roquete e Dias da Cunha, o primeiro utilizado por Pinto da Costa enquanto lhe interessou apanhar o comboio do advento das SAD, o segundo que não aprendeu com os erros do outro, nem sequer com os seus, e começou por andar de braço dado com o mesmo Pinto da Costa, e até de cachecol do FC Porto ao pescoço, e acabou aliado ao Vieira, entretido com a conversa do "manifesto", enquanto o Veiga "tratava" de ganhar o campeonato.

Soares Franco teve pelo menos o mérito de evitar alianças, mas também acreditou na regeneração por dentro, e assim o Sporting entrou para a Liga, mas ao contrário do que é habitual não meteu lá ninguém para pelo menos defender os seus interesses, continuando a tratar bem toda a gente, na fé de que as coisas poderiam melhorar. Conseguiu que o deixassem ganhar quatro títulos, mas roubaram-lhe pelo menos outros tantos, e foi preciso chegar-se ao ponto da escandalosa arbitragem da Final da Taça da Liga, para o homem acordar e bater com a porta, enquanto os sportinguistas Loureiro e Pereira se limitam a encolher os ombros.

Nesse aspecto a postura de Bettencourt não parece diferir da dos seus antecessores. A defesa do negócio futebol é aparentemente uma das suas grandes preocupações, só que neste andar o negócio é bom é para os outros.

Resta-nos a Academia, onde até já nos vão impunemente roubar campeonatos à pedrada, e o orgulho de não estarmos envolvidos nos "apitos" e nas escutas. Somos os diferentes, os mais sérios, os mais educados e os mais responsáveis, os mais até de mais, mas isso não ganha jogos e muito menos campeonatos.

E de que nos serve a reestruturação financeira, que nem nos desaperta o cinto, nem nos diminui o passivo, com o qual parece que somos os únicos a preocupar-nos?

Como é que vamos então sair deste buraco, onde já se vê pouca luz, com o nosso estádio despido, e os adeptos cada vez mais desanimados?

Poderá haver um dia a tentação de entregar o Clube a uns "pavões" com estômago para se armarem em chico-espertos, mas temo que o resultado seja o pior, pois a concorrência nessa matéria já leva décadas de avanço.

Assim eu por vezes dou comigo a pensar porque é que os sportinguistas não se unem todos em volta do seu Clube, e o fecham às influências do exterior, numa guerra sem tréguas.

Eu sei que isto é praticamente impossível, porque há contratos a respeitar, e muitas outras coisas em jogo, mas o que eu gostava mesmo era de ver o Sporting a cortar relações com toda esta gente que gravita à volta do futebol português, e que não merece respeito e nem sequer tolerância.

Se há coisa que me chateia depois de um jogo em que fomos roubados, é ver os nossos jogadores a apertar a mão aos árbitros como se nada se tivesse passado, por mim ninguém falava com eles excepto o Capitão na hora da escolha do campo, o delegado ao jogo quando fosse entregar-lhes a documentação e um funcionário qualquer que lhes abrisse a porta, e mesmo assim era o mínimo possível. Nem antes, nem depois, nem durante os jogos, poupavam-se castigos e conversas que não dão em nada. Diálogos com os árbitros só das bancadas e lindo era vê-las a cantar aquela canção que reza assim: "Ó ladrão, ladrão, ó ladrão maldito".....

Na Liga o Sporting deveria apresentar as medidas que se achem necessárias para mudar o que está mal, nomeadamente na arbitragem, mas nada de acordos posteriores, nem com este nem com aquele. Quem quiser votar a favor que vote, quem não quiser, paciência. Nessas alturas é que se vê quem está de que lado.

O mais importante de tudo seria sem duvida alterar completamente a politica de comunicação do Clube e virá-la para dentro. Estamos todos fartos dos jornais, rádios e televisões, que só vêem uma cor, e tremem como varas verdes com medo doutra. Ainda no recente jogo de Guimarães o narrador de serviço quando analisou o lance do golo anulado ao Caicedo, conseguiu descobrir que o equatoriano estava ligeiramente adiantado, mesmo que as imagens não fosse claras, mas já quando foi o golo do Sporting que as mesmas imagens demonstravam claramente ter sido legal, o artista engoliu em seco e disse que sim senhor estava em jogo, maaas, desde que a linha que aparecia no ecrã estivesse correcta colocada.

Casos como o que acabei de referir são às centenas, e eu só pergunto porque é que o Sporting não fecha a torneira a estes artistas. Conferências de imprensa só as obrigatórias, e mesmo assim era com respostas de sim, não e pouco mais, e os jogadores proibidos de falar sem autorização.

Em vez de se investir uns milhões num perna de pau qualquer no mercado de inverno, invistam-se uns milhares na dinamização do site oficial do Clube, que deve ser aberto aos adeptos com toda a informação necessária, no Jornal que deveria passar a sair pelo menos três vezes por semana, e na Sporting TV, até porque se não estou em erro o contrato com a Oliverdesportos acaba em 2012.

É claro que para isto funcionar os sportinguistas teriam de se unir e de responder de uma forma inequívoca a toda esta gente, deixando-os a falar sozinhos e aderindo às propostas alternativas apresentadas pelo Clube, que teriam de ter qualidade, pois nós não queremos palhaçadas nem tristes figuras. O Sporting teria assim os meios de comunicação necessários para desmascarar esta pandilha toda, sem desgastar aqueles que se devem concentrar no seu trabalho.

Só que já se sabe que vão haver sempre vinte ou trinta gajos prontos para falar mal de tudo, e outros tantos à espera dos seus minutinhos de fama, portanto isto sou só eu a sonhar com um Sporting mesmo diferente, que nunca vai existir.

Perdoem-me pois o devaneio, e obrigado aos que leram até aqui.

Comentários

  1. Amigo to-mane,

    Devaneio?! Li tudo até ao fim e, como diz o outro, "subscrevo por baixo".

    Esta casta mui nobre de dirigentes do Sporting não toma estas medidas porque se calhar não lhes convém. Então iam fechar as portas aos meios de comunicação e depois como podiam servir-se deles para fazer campanha? Como podem renegociar um contrato de cedência de direitos televisivos à altura da grandeza do Clube quando quem compra é um dos principais accionistas da SAD e quando Soares Franco diz que temos de estar eternamente agradecidos?

    Marcelo Rebelo de Sousa, na terça-feira, demonstrou bem a urbanidade que reina no dirigismo do Sporting: o Sporting marca um golo e os dirigentes pediam-lhe desculpa. É surreal.

    Um projecto de combate a todos os agentes externos claro que só era viável se todos os adeptos e sócios Sportinguistas se unissem, mas para isso os dirigentes teriam que promover essa união e dar o exemplo. Como se pode pedir aos Sportinguistas que combatam os agentes externos quando depois os dirigentes lhes estendem a mão?

    Abraço

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  2. Meu caro, que esperar de dirigentes, como por exemplo, o Sr. Dias da Cunha, que comparece a uma acção promovida pelo pasquim mor, após esse jornal, no mesmo dia, ter publicado um cartoon em fomos todos chamados de merda?
    Um abraço.

    Alvar

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  3. Amigo MRG, é verdade que o Joaquim Oliveira enriqueceu à custa do futebol, mas também é inegável que ele é dos poucos que investe nas SAD, mesmo que esteja também a defender os seus interesses, pelo que eu compreendo as declarações de Soares Franco.

    Eu sei que hoje há certos conceitos e princípios que estão fora de moda, mas a gratidão e o respeito por quem nos ajuda nos momentos difíceis continuam a ser coisas que para mim fazem sentido.

    Também sei que num tipo de posição de força como aquele que imaginei nesta mensagem alguns justos vão ter que pagar pelos pecadores, e voltando ao Joaquim Oliveira, por exemplo parece-me indesmentível que a postura do jornal O Jogo é completamente diferente da dos jornais de Lisboa.

    Quanto ao negócio dos direitos televisivos, acho que deve ser muito bem pensado para não se voltarem a hipotecar as receitas do futura, mas para já há que respeitar o que está contratado e estudar a viabilidade de uma TV do Clube.

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