Quatro anos de Paulo Bento

Esta semana Paulo Bento completou quatro anos no comando técnico da equipa principal do Sporting, marca assinalada por toda a imprensa, e no Clube só superada pelo Mestre Joseph Szabo, nos longínquos anos 30 e 40.

Confesso a minha admiração e simpatia pelo actual treinador leonino, principalmente pelo seu forte carácter, que faz dele um homem disciplinador e corajoso, que tem defendido os interesses do Sporting de uma forma assinalável.

Paulo Bento chegou ao comando da equipa vindo dos juniores, onde já tinha sido Campeão e começou logo por pôr ordem à rebaldaria que se vivia naquele balneário, não hesitando em deixar de fora quem não respeitasse as regras, mesmo que fossem consagrados como Polga e Liedson, e foi assim que ele perdeu um jogo em Braga, mas ganhou uma equipa e o respeito do plantel, que arrancou para uma serie de vitórias consecutivas, que levaram o Sporting a discutir o titulo dessa temporada até quase ao fim da mesma.

No jogo decisivo desse Campeonato o Sporting precisava de ganhar ao FC Porto em Alvalade, e nesse dia Paulo Bento atraiçoou os seus princípios de técnico conservador que privilegia a máxima de "uma equipa constroi-se de trás para a frente" , arriscando tudo e acabando por perder, mas nessa altura já tinha conquistado a simpatia dos sportinguistas, e o lugar no banco para a época que se seguia.

Diagnosticadas as carências do plantel, Paulo Bento pede três reforços a Carlos Freitas, mas Moisés nem chega a jogar, Farnerud e Paredes revelam-se dois fiascos, enquanto a posterior troca de Deivid por Bueno e Alecsandro, não acrescenta nada à equipa, antes pelo contrário.

Assim Paulo Bento é obrigado a recorrer à prata da casa, e lança Veloso e Yannick que se juntam a Nani que já se afirmara na época anterior, enquanto Moutinho chega à condição de intocável.

O Sporting faz uma excelente temporada discutindo o titulo até à ultima jornada, e ficando a um ponto do Campeão, e a chorar o golo de Rony marcado com a mão, mas ganha a Taça de Portugal e tem a defesa menos batida dos principais campeonatos da Europa, apenas na Liga dos Campeões onde o Sporting até se estreou a ganhar ao Inter de Milão, a coisa não correu bem devido a um dia mau em Alvalade frente Spartak de Moscovo, que relegou os Leões para o último lugar de um grupo muito difícil.

Nessa altura já se apontavam à equipa e a seu treinador alguns defeitos, nomeadamente a falta de um sistema alternativo ao losango, e a excessiva rotatividade implementada na equipa, ao mesmo tempo que também já se falava num futebol pouco espectacular.

A época seguinte começou com a conquista da Supertaça frente ao FC Porto, mas a saída de vários jogadores importantes no sector mais recuado, e a venda de Nani, foram problemas que ficaram por solucionar, principalmente porque os reforços que chegaram, à excepção de Izmailov, Vukcevic e Derlei, todos jogadores ofensivos, revelaram-se más escolhas nomeadamente o guarda-redes Stojkovic que só trouxe problemas, obrigando Paulo Bento a lançar Rui Patrício, em boa hora diga-se de passagem, apesar dos custos iniciais.

O campeonato foi muito irregular, faltando à equipa a motivação da luta pelo 1º lugar, do qual ficou muito cedo afastada, mas a prestação na Europa melhorou, e o Sporting chegou aos quartos de final da Taça UEFA, e viveu os seus grandes momentos na Taça de Portugal, principalmente quando eliminou o Benfica com a melhor exibição da era Bento, acabando por renovar o titulo no Jamor frente ao FC Porto.

Nova época, novas expectativas, nova vitória sobre o FC Porto na Supertaça, mas quando não há dinheiro continua a ser difícil reforçar convenientemente a equipa, e mais uma vez Paulo Bento tira um miúdo da cartola, Carriço assume a titularidade no centro da defesa e hoje é o seu patrão.

No entanto o desgaste do treinador começa a ser evidente, ao descontentamento nas bancadas juntam-se alguns problemas no balneário, com Vukcevic e Veloso à cabeça, e as guerras com a Liga e a arbitragem atingem o ponto máximo depois da roubalheira na Final da Taça da Liga.

Na Liga dos Campeões o percurso continua ascendente, e o Sporting dá mais um passo ao qualificar-se pela primeira vez para a fase seguinte, mas é humilhado de uma forma inexplicável frente ao Bayern, numa altura em que Paulo Bento dá prioridade ao Campeonato, que afinal era o titulo que lhe faltava, mas falha outra vez. Anuncia-se o fim de um ciclo.

O aparecimento de José Eduardo Bettencourt como pólo revitalizador do Sporting e indefectível apoiante de Paulo Bento, inverte o previsível cenário de mudança de treinador em Alvalade, mas o pior inicio de época que se poderia imaginar, coloca o técnico leonino no centro de todas as discussões. Será ele parte do problema, ou da solução?

O Presidente resiste à tentação e às pressões para fazer a mudança, e Bento aguenta-se estoicamente à frente da equipa, mas as exibições conseguem ser piores do que os maus resultados, e já poucos acreditam no "forever" de Bettencourt.

Eu também já tenho poucas esperanças em que Paulo Bento consiga dar a volta por cima, reconheço que ele tem muitas atenuantes, a começar pelas questões financeiras, passando pelas arbitragens do costume e terminando nas campanhas orquestradas pela imprensa vermelha, mas a verdade é que não se nota nenhuma evolução em termos de qualidade de jogo, o problema das bolas paradas subsiste época após época, e algumas teimosias já chateiam, pelo que o mau ambiente nas bancadas apesar do esforço das claques, parece já ter passado para o relvado, e principalmente em Alvalade a bola queima.

Paulo Bento ganhou duas Supertaças e duas Taças de Portugal, e se o deixassem já tinha ganho mais, levou o Sporting a três Ligas dos Campeões, consolidando a posição do Clube na segunda linha do ranking da UEFA, e lançou vários miúdos da Academia, mas o clima que se gerou à sua volta é de grande intranquilidade, que já nem ele consegue disfarçar, e que alastrou para o relvado.

Acredito que os jogadores, ou pelo menos a maioria deles, estão com o treinador, mas já não conseguem libertar-se do medo de falhar, pelo que hoje temos uma equipa sem confiança e cujo principal problema julgo ser psicológico, coisa que Paulo Bento não me parece capaz de ultrapassar, pelo que será necessário que aconteça alguma coisa para motivar os jogadores e mexer-lhes com os "fusíveis", porque a cabeça é que manda.

Como é que se vai conseguir isso é que eu não sei, mas temo que a situação se arraste por mais algum tempo, resta saber se Bento e Bettencourt ainda serão capazes de arranjar uma solução milagrosa, ou se o treinador vai acabar por pagar uma factura da qual ele está longe de ser o principal responsável.

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