Alguns dos grandes problemas do Sporting de hoje.

A actualidade do Sporting foi marcada nos últimos dias por uma longa entrevista do Presidente, e pela Assembleia-Geral da passada 3ª feira, que trouxe de volta à ribalta a chamada minoria de bloqueio, que desta vez ficou na casa dos 20%, o que permitiu a José Eduardo Bettencourt aprovar a passagem da Sporting Comercio e Serviços para a SAD, apesar dos maus resultados da equipa de futebol estarem a encurtar o seu período de "estado de graça".

Conforme já aqui escrevi anteriormente não me parece que esta medida seja muito importante, e muito menos acho que ela signifique o fim do Sporting Clube de Portugal. Por um lado porque o Sporting é eterno e imortal, por outro porque os seus problemas são tão vastos que não é uma simples e aparentemente pacifica engenharia financeira, que os vai resolver.

O principal problema do Sporting é o futebol, que por mais voltas que se dê será sempre a mola real do Clube, e nessa área o Sporting primeiro perdeu uma hegemonia que durou até meados do século passado, e depois atrasou-se de tal forma que perdeu o hábito de ganhar regularmente, coisa que já deixou de acontecer há mais de 30 anos.

Atrás disso veio uma crise de identidade, e agora de militância. Primeiro o Clube passou por um período de populismo próprio da época que se vivia, vestindo um fato no qual nunca se sentiu confortável, e agora começam-se a sentir os efeitos das dificuldades de renovação, porque muitos jovens são naturalmente atraídos pelos modelos vencedores, enquanto os que se mantém fieis às suas raízes, desconhecem a cultura do Clube, e exigem vitórias a todo o custo.

Segundo um ilustre comentador televisivo o caminho para se chegar a essas vitórias, é aquele que o FC Porto traçou 30 anos, uma revolução como estava na moda na altura, mas o Sporting em vez de um Pinto da Costa e de um Pedroto, tem um Bettencourt e um Bento, e se o primeiro ainda tem uma boa margem de manobra para levar a cabo a intenção de se tornar no "nosso pinto da costa", o segundo já queimou quase todos os créditos que tinha, de tal forma que até os mais pacientes, já estão cansados de um futebol que não dá sinais de evolução, pelo que já poucos acreditarão que ele possa vir a ser o "nosso pedroto".

Outros acham que o problema se resolve investindo mais, até porque a concorrência tem orçamentos que quase duplicam o do Sporting, e aqui chegamos ao problema financeiro, que entronca neste projecto de reestruturação que Bettencourt diz que poderá libertar algum dinheiro para o futebol profissional, mas nunca o suficiente para se chegar aos 40 milhões que os outros gastam.

Sinceramente não sei se as VMOC's vão ser um sucesso, e se o passivo vai finalmente baixar para valores que permitam ao Sporting renegociar a sua divida e viver mais desafogado, mas já há muito tempo que aprendi a não acreditar em milagres, as coisas até podem melhorar um pouco nessa área, mas tudo continuará a depender daquele pormenor fundamental, que é o da bola entrar na baliza adversária.

Quando Bettencourt diz que o Sporting para a época que vem vai gastar mais um cheirinho, mas não vai entrar em loucuras, não fico preocupado, antes pelo contrário fico tranquilo, porque penso que o Sporting não precisa de gastar muito mais, precisa é de gastar melhor, e acima de tudo de continuar a apostar na sua formação e a acreditar nos seus frutos, pelo que lamento que o Presidente diga que precisamos de vender jogadores. Não é que isso não seja uma realidade, mas ele não deveria dizê-lo, nem para dentro nem para fora.

Se foi feita uma aposta forte na formação, e se nesta altura, Moutinho, Veloso, Patrício e Carriço são valores seguros, de nada servirá vendê-los abaixo do valor das suas cláusulas de rescisão, para ir buscar jogadores piores, e depois ver os nossos a brilharem por essa Europa fora, e ás vezes até nos nossos rivais internos.

No que diz respeito à promoção dos nossos jogadores, há que reconhecer o mérito a Paulo Bento, ele trabalhou com os recursos que puseram à sua disposição e nunca reclamou, e lançou vários miúdos, ganhando algumas dessas apostas. Agora que uma parte do caminho já está feito, não é altura de parar, ou de voltar para trás.

Por princípio sempre fui a favor da estabilidade e de projectos devidamente pensados e estruturados, e acho que esse é o único caminho que resta ao Sporting, e que inevitavelmente dará frutos, desde que não se caia na tentação de deitar tudo por terra às primeiras contrariedades.

Pela primeira vez em muitos anos parece-me que o Sporting no futebol encontrou o seu caminho, o que não quer dizer que tudo esteja bem, porque não está.

Embora por norma eu defenda que se dê tempo aos treinadores, e reconheça muitos méritos a Paulo Bento, julgo que atendendo à cultura do adepto tuga, será muito difícil para nosso actual treinador reconquistar a confiança dos adeptos, e esse divorcio cada vez mais transmite alguma intranquilidade para dentro do campo, pelo duvido que essa situação seja sustentável durante muito mais tempo, e assim parece-me quase inevitável que Bento e Bettencourt se sentem à mesa, e acabem por reconhecer que foi um erro prolongar esse ciclo.

No fundo até desejo que Paulo Bento consiga dar a volta por cima à situação actual, mas sinceramente já não acredito que tal seja possível, e há que encarar isso sem dramas, sendo que o maior problema será encontrar a pessoa certa para um lugar muito ingrato e exigente como é o de treinador da equipa principal do Sporting.

Assim colocam-se dois grandes desafios a Bettencourt: O primeiro passa pela substituição de Paulo Bento - quanto tempo ele irá resistir? E depois será capaz de encontrar o homem certo para o lugar? O segundo passa por manter este rumo de construção de uma equipa com base na nossa formação, resistindo às tentações de investimentos disparatados e vendas precipitadas. Será ele homem para isso?

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