Treinador

De há alguns anos a esta parte que o Sporting assumiu uma forte aposta na formação, o que na minha opinião é o caminho certo para a construção de uma grande equipa a curto prazo, desde que seja possível manter os nossos melhores jogadores e ir renovando a equipa progressivamente e de uma forma sustentada e devidamente planeada, sem ceder a pressões venham elas donde vierem.

Não é qualquer um treinador que está disposto a meter-se numa missão destas, e que simultaneamente tenha perfil e sensibilidade este tipo de trabalho de fundo, pelo que não posso deixar de enaltecer o desempenho de Paulo Bento, que mesmo com as suas limitações, defeitos e inexperiência, conseguiu lançar uma série de jovens e competir de igual para igual com os nossos rivais.

Confesso que gostaria muito que Paulo Bento fosse “o nosso Ferguson” porque acho que o Sporting só teria a ganhar com isso, mas infelizmente a cultura, ou neste caso falta dela, dos nossos adeptos, dificilmente suporta longos consulados de um treinador num Clube como o nosso, onde a maioria dos sócios se orgulha da nossa formação, mas depois não tem paciência para esperar pelos frutos dela, e exige resultados imediatos e às vezes até milagres.

O desgaste de Paulo Bento junto de uma faixa cada vez mais larga da massa adepta do Sporting, para mim é tão evidente como o cansaço do nosso treinador em relação a esses adeptos, pelo de certa forma me surpreendeu que ele tenha aceitado renovar o seu contrato, o que julgo só terá sido possível devido ao efeito produzido pela candidatura de José Eduardo Bettencourt, e à grande alma e enorme coragem do técnico leonino.

A substituição de Paulo Bento a médio ou curto prazo será sempre um grande problema, o que não quer dizer que ele seja insubstituível, mas será complicado encontrar alguém com sensibilidade para não estragar o que de bom está feito, e melhorar o rendimento da equipa, dentro da filosofia assumida e das limitações existentes.

No entanto e apesar da estabilidade que se tem vivido no Sporting nos últimos anos, os resultados continuam a ser fundamentais para a sobrevivência dos treinadores, resta saber se Paulo Bento será capaz de dar a volta rapidamente a este mau arranque de temporada e se caso não o consiga, até quando é que o Presidente será fiel à sua promessa de fidelidade eterna ao treinador.

Comentários

  1. Nunca entendi essa "cultura" de que tanta gente fala.

    O exemplo é sempre o mesmo, e arrisco mesmo a dizer que é talvez o unico que pode ser dado de um projecto longo no tempo e ao mesmo tempo vitorioso de forma mais continuada.

    Aliás no mesmo país de onde vem esse exemplo de "cultura" existem casos (a maioria) que se situam em polos opostos. E que ainda assim também são vitoriosos.

    E existem também casos com a mesma "cultura" (Arsenal), infinitamente menos vitoriosos.

    Resumindo. A "cultura" apontada tem virtudes e defeitos, como qualquer outra, e afirmar, utilizando sempre o mesmo óbvio exemplo, de que esse é que é o caminho, é um salto de fé, apenas e só.

    Até porque temos um exemplo flagrante de uma prática diferente (muito diferente), no mesmo mercado cultural, e infinitamente mais vitoriosa do que o exemplo escolhido, tendo em conta as realidades em questão.

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  2. Meu caro Felizberto, não sei se percebi bem onde querias chegar, uma vez que foste bastante vago, mas devo dizer-te que me faz impressão que muitos sportinguistas não conheçam a "cultura" do nosso Clube, o que até se compreende porque o Sporting sofreu uma grande descaracterização, e tem tido muitas dificuldades em adaptar-se a algumas mudanças importantes que se sucederam na sociedade portuguesa, desde o inicio da guerra colonial, passando pelo 25 de Abril, até a estes novos tempos da globalização, em que é cada vez mais difícil passar a mensagem às novas gerações Mas isso levar-nos-ia a uma longa discussão, que seguramente não cabe aqui.

    De qualquer forma eu arrisco-me a dizer que o Sporting depois de muitos anos sem rumo, precisa de refundar a sua "cultura" e deve fazê-lo apostando na sua formação, aliás nem faria sentido que não fosse assim, depois dos grandes investimentos na Academia e em tudo o que actualmente gira à volta dela.

    É claro que poderá haver quem defenda outros rumos, embora eu não conheça nenhum sportinguista que não se orgulhe do nosso Clube enquanto formador, apesar de depois muitos não terem sensibilidade para perceberem o que é que isso significa.

    O que também me faz alguma impressão são as comparações como aquelas que me parece fizeste no teu comentário, principalmente em relação aos nossos principais rivais. Isto porque por exemplo o modelo do FCP, que indiscutivelmente é um modelo de sucesso, não pode ser copiado pelo Sporting, em primeiro lugar porque assenta numa pessoa que não existe no nosso Clube, e que foi o grande obreiro da actual hegemonia dos portistas no futebol português, sendo que essa obra assentou em princípios e hábitos nos quais eu pelo menos não me revejo, e depois porque o FCP é um clube que vive numa realidade diferente da de Lisboa, e que nunca poderá ser transportada para a Capital. Isto não quer dizer que no Porto não haja boas práticas a imitar, mas o Sporting é o Sporting, não tem nada a ver com o FCP.

    Ainda mais assustadoras para mim são as comparações com o Benfica, porque é minha convicção que no dia em que o Sporting adoptar a política do "para a frente é que é caminho e quem vier atrás que feche a porta" vai acabar muito mal, porque nos falta o apoio da retaguarda de políticos e dirigentes subservientes e sempre dispostos a tudo permitir a clube dos milhões. Mas neste caso acho que não te referias a eles.

    Quanto às comparações com outras realidades como a do futebol inglês, parece-me que não fazem sentido, pois aí estamos a falar de um campeonato onde jogam muitos dos melhores jogadores do mundo, pelo que naturalmente que um projecto como o do Arsenal terá poucas possibilidade de ser ganhador.

    Agora no futebol português acredito que um projecto como o que eu tentei desenhar nas diversas mensagens que tenho escrito aqui, não só é viável, como é o melhor caminho para o Sporting, mas como disseste, isto também é uma questão de fé, e eu sempre acreditei nas ideias e nas convicções, no que não acredito muito é nos homens, pois são eles que geralmente estragam tudo, e é isso que receio que vá acontecer brevemente no Sporting, principalmente quando olho para os sportinguistas mais jovens.

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