Vamos a votos

Os candidatos à Presidência do Sporting Clube de Portugal voltaram ontem à televisão mas não trouxeram nada de novo, e nesta altura penso que os dados que estão na mesa são suficientes para que os sócios percebam as diferenças entre as duas opções que lhes são propostas, mesmo que nenhuma delas seja clara no que diz respeito à sua sustentabilidade.

Bettencourt manteve o seu discurso redondo à volta da sua personalidade e do seu sportinguismo, que aparentemente garantem uma maior proximidade com os sócios e o futebol, onde aposta na estabilidade, mantendo o rumo traçado nos últimos anos, o que me parece ser uma opção correcta.

De resto a outra trave mestra do seu projecto é a conclusão da reestruturação financeira que ele se propõe a fazer nos próximos dois meses, no entanto continua sem explicar como, e ninguém lhe pergunta, se já tem investidores, quem são, se esses investidores estão dispostos a aceitar posições claramente minoritárias, o que é que ele pensa da passagem da Academia para a SAD, como pensa aprovar esse plano, e o que fará se não conseguir.

Em suma eu acredito que com Bettencourt daremos pequenos passos em frente. No futebol será possível continuar um trabalho de fundo na construção de uma equipa que no futuro cada vez mais próximo nos poderá dar grandes alegrias, mas no aspecto financeiro não há milagres e duvido que a reestruturação mesmo que seja concluída, produza grandes efeitos, pelo que vamos continuar condenados ao cinto apertado para sustentar um passivo enorme, e ao mesmo tempo cada vez mais pobres em termos de património, e sujeitos aos perigos de um peso crescente dos accionistas da SAD.

A prestação de Cristóvão desceu um pouco em relação à entrevista que deu no Dia Seguinte, em primeiro lugar porque se perdeu o efeito surpresa e depois porque falou de futebol, onde ele propõe uma verdadeira revolução e revela uma total falta de preparação para pegar neste sector fundamental na vida do Clube, apresentando como principal trunfo um treinador de grande prestigio, embora se adivinhe que em cima da hora vão aparecer mais nomes, agora de jogadores, o que eu duvido que produza o efeito desejado.

Para além disso Cristóvão manteve um discurso desnecessariamente agressivo em relação ao seu adversário, chegando a acusá-lo de fingir, e depois quando foi finalmente apertado, mesmo que não muito, em relação à sustentabilidade financeira do seu projecto, pela primeira vez engasgou-se, porque realmente é difícil convencer as pessoas que vai ser possível aumentar os proveitos em 18% com base na recuperação de 20 mil sócios e no crescimento das vendas, e ao mesmo tempo reduzir as despesas com o emagrecimento da estrutura, que mesmo que possível terá sempre custos, e com o corte nos prémios pelo 2º lugar, que só pode produzir efeitos se continuarmos longe do 1º, o que à partida choca com os objectivos de qualquer candidatura que se preze.

Penso que a esmagadora maioria dos que vão votar em Cristóvão serão os que pelas mais diversas razões estão fartos e já não suportam a oligarquia que gere o Sporting há 14 anos, pelo que acima de tudo querem uma mudança. Quanto à ala moderada, julgo que irá pesar muito bem o risco dessa mudança, principalmente no futebol, que no fundo é a mola real do Clube, a única que pode gerar efectivamente um crescimento nos proveitos, e este parece-me ser o ponto fraco da candidatura da oposição.

Com Cristóvão se as coisas corressem muito bem, poderíamos efectivamente dar um salto em frente, sem dúvida muito maior do que qualquer melhoria que Bettencourt possa conseguir que será sempre curta, mas se der para o torto, e os riscos disso acontecer são bem reais para não dizer muito prováveis, então iríamos dar um grande trambolhão, recuando aos tempos do Natal e dos quartos lugares, o que na situação actual poderia ser um golpe fatal para o Clube.

Julgo que Cristóvão demonstrou que poderia ser um bom candidato e que o Ser Sporting assenta em bons princípios e intenções nobres, mas falharam na aproximação aos sócios que precisavam de conquistar para terem hipóteses de ganharem. Para isso exigia-se que tivessem mantido a postura elevada que marcou o arranque desta candidatura, limitando as criticas e centrando-as naquilo que é visivelmente o ponto fraco de qualquer candidatura ligada à continuidade, que é o total falhanço do Projecto Roquete na área financeira, sem prometerem coisas impossíveis. Finalmente no futebol para além de encontrarem um treinador de prestigio como Eriksson, teriam de rodear-se de gente com experiência e capacidade indiscutível para gerir essa área tão importante, evitando os erros do passado recente. Um simples Manuel Fernandes daria uma imagem mil vezes mais credível do que um empresário qualquer.

Para além disso terão faltado apoios a estes jovens sportinguistas, que precisavam de mais gente conhecida a dar a cara por eles. Mas fica o sinal de que há gente nova e válida, interessada e preocupada com Clube e com ideias diferentes para o futuro, só espero que eles que tanto defendem a importância dos sócios, saibam respeitar a decisão destes, e não desistam do Sporting Clube de Portugal, nem se fechem num gueto onde se alimentam ódios que não fazem sentido.

Comentários

  1. to-mane,

    "Para além disso Cristóvão manteve um discurso desnecessariamente agressivo em relação ao seu adversário"

    Hoje ficou totalmente patente que tem o discurso agressivo e quem não tem.

    Enquanto Bettencourt recusa-se a fazer um debate e uma auditoria, manda os seus apoiantes fazer o trabalho sujo por ele.

    Hoje Eduardo Barroso falou dos métodos de Cristóvão, que só podia calar os jogadores à paulada, que os Sportinguistas só se tivessem ensandecidos é que votavam Cristóvão. Foi um rol de críticas que demonstram como a candidatura de Paulo Cristóvão está a agitar o "status quo".

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  2. Eu não vi o programa da TVI24, mas afirmar que o Barroso diz aquilo que o Bettencourt lhe sugere, é apenas mais uma demonstração duma espécie de estado de alienação em que alguns apoiantes de Paulo Cristóvão vivem permanentemente, descobrindo em todo lado perseguições, conspirações e outros cenários maquiavélicos.

    Também não vi na íntegra o "Dia Seguinte" pois quando cheguei a casa já lá iam 23 minutos do programa, pelo que não assisti à parte que mais me interessava, que é aquele que se refere às questões financeiras, onde tenho algumas reservas quanto ao rumo traçado por Bettencourt, mas do resto até gostei, pois pela primeira vez vi um candidato decidido, em vez de alguém que parecia encarar estas eleições como uma mera formalidade na sua caminhada para a Presidência do Sporting Clube de Portugal.

    Em relação ao debate, Bettencourt foi frontal, assumindo sem hipocrisias que este lhe poderia não lhe ser favorável, e ao mesmo tempo foi dizendo que se era uma falta de respeito para com o seu adversário rejeitar o debate, nessa matéria já estava a perder por 14-1.

    Quanto à auditoria, ele estava a terminar as suas justificações quando eu comecei a ver o programa, pelo que desconheço o teor das mesmas, mas eu defendi a realização de uma auditoria antes das eleições, e nunca percebi porque é que o Movimento Leão de Verdade a deixou cair, porque acho que esse teria sido um importante instrumento de trabalho para todas as candidaturas, aliás defendo que deveria ser obrigatória a realização de uma auditoria seis meses antes do fim de cada mandato, para que todos os candidatos pudessem saber com o que contar, para assim apresentarem as suas SOLUÇÕES para os problemas existentes.

    Já a auditoria prometida pelo Ser Sporting, visa essencialmente encontrar os CULPADOS e eventualmente queimá-los em fogueira pública, porque no fundo o que motiva algumas dessas pessoas é um ódio inexplicável, que sendo um sentimento negativo só pode gerar mais ódio, ou até mesmo violência, o que em nada beneficiará um Clube que deveria estar acima de todos.

    Parece-me que o Presidente eleito na próxima 6ª feira deveria ser o Presidente de todos os sportinguistas, e não o Presidente dos bons contra os maus, que sabe-se lá porquê tudo fizeram para destruir o Sporting, nem tão pouco o Presidente dos maus contra uma minoria que é do contra.

    Infelizmente já sei que uma facção dessa tal minoria vai deixar de pagar cotas, ou até de ir ao futebol, enquanto outros vão mesmo prometer desligar-se completamente do Sporting, mas no fim vão acabar todos enfiados no seu gueto, onde podem alimentar os seus ódios de estimação, insultar à vontade, descobrir as mais hilariantes teorias da conspiração, falar mal de tudo e de todos, ao mesmo tempo que exigirão milagres que nunca se vão realizar.

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