A sustentabilidade financeira

Se na realidade o futebol é a área que mexe mais com as emoções dos sócios, não é menos verdade que as questões financeiras são motivo de grande preocupação para a esmagadora maioria dos sportinguistas, que ainda não se esqueceram dos traumatizantes meses do "bigodes" e de tudo que aconteceu daí para a frente, até chegarmos ao passivo assustador que hoje condiciona toda a actividade do Clube e das suas sociedades.

Parece-me pois fundamental que em primeiro lugar se esclareça qual a real situação económica do Grupo Sporting, para que as candidaturas possam apresentar os seus projectos financeiros, sendo que nesse aspecto, o candidato da situação já leva algum avanço ao herdar o plano de reestruturação de Soares Franco, que como todos sabemos assenta no reforço patrimonial da SAD, no sentido de a tornar mais atractiva para os investidores.

Estas manobras visam a redução do passivo de forma a permitir a libertação de verbas para um maior investimento no futebol, mas tocam na muito sensível questão do Clube ficar numa posição minoritária na SAD, isto para além do facto de nesta altura não parecer muito boa ideia abrir mão de um património que pode estar à beira de se valorizar imensamente, como são os terrenos da Academia Sporting em Alcochete.

O que é certo é que à excepção de Paulo Cristóvão, todos os outros candidatos dizem querer pegar neste plano, mesmo que Pedro Souto já tenha dito que lhe vai dar alguns retoques, no entanto a sua candidatura continua a marcar passo, demonstrando uma preocupante ausência de propostas efectivas, outras soluções ou nomes.

Resta-nos pois o projecto alternativo do SerSporting, que por enquanto me parece muito vago. Cristóvão aponta para a redução do passivo em 30 milhões €, sem recurso à venda do património existente e assegurando a maioria do Sporting Clube de Portugal no capital da SAD, mas ainda ninguém percebeu de onde é que vão nascer esses milhões.

Propõe-se ainda conseguir um aumento de receitas na ordem dos 18%, sem no entanto se explicar o que é que isso significa na pratica em termos de números, e pelo que se percebe esse crescimento teria origem na quotização, venda de bilhetes e produtos da marca, exploração do jornal, site, SportingTV/Multimédia) e patrocínios. Ou seja, à excepção da TV, cuja viabilidade duvido muito, não há nada de novo, apenas a intenção de potencializar ao máximo as receitas.

Planeia-se também um corte nas despesas a rondar os 15%, com base em reduções salariais e renegociações da divida, que envolvem outras partes, pelo que estão longe de poderem ser dadas como adquiridas, ao mesmo tempo que se anuncia a construção de um Pavilhão, obras no Estádio, contratações, e um orçamento de 20 milhões para o futebol, o que me parece muito curto para construir uma equipa forte sem a qual não vale a pena pensar-se no sucesso das medidas propostas para o aumento das receitas.

Um assunto que na minha opinião deve ser muito bem discutido nesta campanha é a questão do passivo, que Soares Franco defende que não deve ultrapassar os 150 milhões €, enquanto Cristóvão planeia sobreviver com 200 milhões €.

Qual é o serviço desta divida para estes dois valores? Quais foram as receitas e as despesas de todo o Grupo nestes últimos anos? Sem estes dados é difícil que as pessoas acreditem em números debitados sem suporte, que depois dificilmente se concretizam, uma prática que aliás tem sido habitual no Sporting, pelo que convinha também que o candidato da situação que ainda nem se sabe quem é, fosse capaz de explicar as contas da Direcção cessante, é que eu ainda não percebi bem para onde foram os milhões das receitas da alienação do património, e da venda do passe do Nani.

Enfim estas coisas das contas são sempre muito complicadas, e no fim cheira-me que todos vão falar muito e acertar pouco, pelo que ninguém vai ficar devidamente esclarecido.

Comentários

  1. Amigo to-mane,
    Existem muitas imprecisões no teu texto.

    "Ou seja [...] não há nada de novo, apenas a intenção de potencializar ao máximo as receitas"

    E isso não é importantíssimo? Durante os últimos anos o Sporting levou a reduzir custos e, principalmente, a vender património. O próprio Soares Franco já disse que já não é possível reduzir mais os custos (embora se tenha esquecido de cortar nos salários milionários dos gestores). A potenciação de receitas têm um boa margem de manobra para conseguir importantes receitas.

    "e um orçamento de 20 milhões para o futebol, o que me parece muito curto para construir uma equipa forte"

    Eu também gostava de um orçamento maior, mas este proposto pelo Ser Sporting (20M€) é superior ao actual que se cifra em 17M€.

    "Soares Franco defende que não deve ultrapassar os 150 milhões €, enquanto Cristóvão planeia sobreviver com 200 milhões €."

    Mais um erro. Soares Franco afirma que o passivo se situa em 230M€, faltando ainda receber 30M€ (números redondos) dos terrenos do antigo estádio. Assim, o ponto de partida para qualquer projecto financeiro são os 200M€ (os terrenos não fazem parte do projecto financeiro).

    O do actual CD prevê a diminuição para 140-150M, em 5 anos, com base da diminuição da participação do Clube na SAD para os 51% e a passagem do estádio e academia para a SAD.

    O do Ser Sporting prevê a diminuição para os 170M€, em 4 anos, podendo diminuir a participação na SAD até aos 60% (mantendo uma margem de manobra) e mantendo o património no Clube.

    Como vês, a diferença é bem menor.

    "é que eu ainda não percebi bem para onde foram os milhões das receitas da alienação do património, e da venda do passe do Nani."

    Nem tu, nem eu e, provavelmente, nem eles.

    Abraço de leão

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  2. O problema aqui meu caro é que eles hoje dizem uma coisa e amanhã dizem outra, pelo que na verdade ninguém sabe ao certo qual é o passivo do Sporting.

    Por exemplo o João Mineiro afirmou no passado dia 6 no Ser Sporting ( http://www.sersporting.org/wordpress/?page_id=314 ) que o passivo consolidado do grupo Sporting supera os 300 milhões de euros, e adiantou que pretendia utilizar o valor que o clube receberá da Câmara Municipal de Lisboa (cerca de 23 milhões de euros) para dar alguma folga em termos de tesouraria.

    Anteriormente numa entrevista dada ao Record o responsável financeiro deste Conselho Directivo falou num passivo de duzentos e tal milhões indo de encontro aos números diversas vezes adiantados por Soares Franco que nunca foram precisos nem iguais.

    Quanto ao orçamento para o futebol é a mesma coisa, tu dizes que actualmente são 17 milhões, eu já li que eram mais de 20 e que o do FCP ultrapassava o dobro, portanto fico baralhado.

    O que eu queria saber é quanto é na realidade esse passivo, quanto é que se paga por ano sobre essa divida, quais são as receitas e as despesas habituais do Grupo e depois então já poderei ter uma opinião sobre a viabilidade das propostas que fizerem.

    Até lá a única coisa que sei é que o plano Soares Franco se propõe a reduzir o passivo para 140 milhões € e explica como. Essa é uma solução com a qual eu discordo em alguns aspectos e que nem tenho a certeza que seja realizável

    Já o Ser Sporting aponta para uma redução de 30 milhões no passivo mas não explica donde eles vem, de resto o aumento das receitas nas áreas apontadas só é possível com um maior investimento, porque sem um futebol ganhador não há campanha de angariação sócios que resulte, nem aumento de receitas na venda de produtos e bilhetes, principalmente se apontarem para o aumento dos preços das gameboxes para o adepto, o que me parece uma boa decisão mas arriscada. Portanto expliquem-me lá donde vem o dinheiro para aumentar o investimento porque isto não é só dizer que as receitas sobem 18% e as despesas descem 15% e já está tudo resolvido e ainda vamos construir um pavilhão e revitalizar as modalidades.

    Concluindo, eu discordo do plano de Soares Franco, principalmente no que diz respeito à passagem da Academia para a SAD e tenho muitas dúvidas em relação às VMOC, por isso espero que surja uma alternativa sólida e sustentada ou então que assumam que não há condições para investir mais e que portanto por agora não podemos exigir mais do que umas tacinhas e um lugar na Europa que se for na Liga dos Campeões é muito bom.

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