As entrevistas

As entrevistas televisivas de ontem foram bastante esclarecedoras e confirmaram muito daquilo que eu já pensava sobre estas eleições do Sporting Clube de Portugal.

José Eduardo Bettencourt assumiu que a sua candidatura está a ser montada em cima do joelho, e é óbvio que ela assenta essencialmente no seu prestigio pessoal, ao ponto dele aparentemente se dar ao luxo de dizer na cara dos sócios coisas que mais ninguém se atreveria a dizer, mostrando-se como alguém muito genuíno, que não está ali para enganar ninguém, mas também um certo excesso de confiança, que dá um aspecto um pouco desleixado a esta candidatura.

O resto já toda a gente sabe o que pode esperar se Bettencourt ganhar: estabilidade no futebol, o que me agrada muito porque estou convencido do que este é o melhor caminho, e a conclusão do projecto de reestruturação financeira que está em curso, que me parece defender principalmente os interesses dos bancos credores do Sporting,, que acima de tudo querem garantir que vão continuar a receber tranquilamente o que lhes é devido.

No seu manifesto eleitoral Bettencourt vai de encontro a algumas ideias do Ser Sporting, como sejam a reaproximação aos sócios, o pavilhão e a gestão rigorosa, e retoma outras como o referendo, o Provedor do Sócio e a expansão da Academia. Nada de novo portanto, mas julgo que será o suficiente para manter o apoio da ala conservadora que é maioritária entre os sócios leoninos.

A entrevista de Cristóvão foi completamente diferente da de Bettencourt, que mais parecia uma conversa informal de amigos, sem grande interesse em aprofundar as questões, e o candidato da oposição passou o exame com distinção, revelando um grande à vontade e um profundo conhecimento de algumas das matérias em discussão, embora infelizmente, mas não por culpa dele, as questões financeiras não tenham sido aprofundadas, mas mesmo assim ele reconheceu que o passivo não é nenhum papão, e que há várias formas de ler os tais proveitos diferidos, que ninguém quer explicar o que são.

No que diz respeito ao futebol confirmou-se aquilo que eu já previra, Cristóvão não está minimamente preparado para pegar nesta área importantíssima na vida do Clube, de que ele naturalmente percebe tanto como um qualquer adepto de sofá ou bancada, e Paulo Bento não é para continuar, neste caso eu até o compreendo e aceito a sua decisão, que não poderia ser outra, embora me pareça que vai ser muito difícil apresentar um nome suficientemente forte para obter os efeitos desejados.

O resto foram disparates atrás de disparates. O homem disse que no futebol não haviam projectos, defendeu o Stojkovic, quis transformar o Derlei numa figura emblemática do Sporting, e afirmou embora sem pôr o nome nos bois, que sendo o Veloso um jogador para vender não podia ter sido desvalorizado. Enfim mais do que de um treinador, ele precisa urgentemente de um Director Desportivo que saiba o que é o futebol.

De qualquer forma este candidato tem sido uma agradável surpresa, e se calhar foi uma boa escolha, embora como ele disse houve uma depuração entre os críticos à situação e aparentemente prevaleceu a ala fundamentalista da oposição, mas para conquistar votos na ala moderada dos sócios sportinguistas, Cristóvão precisa de explicar melhor a viabilidade financeira do seu projecto, de ter cuidado com o que diz em relação ao futebol, matéria na qual é naturalmente um aprendiz e principalmente de não se deixar levar na onda daqueles que querem é ver sangue.