Um Clube de anjinhos

No final da do jogo de ontem Soares Franco não hesitou em afirmar que o Sporting tinha sido roubado e quando questionado sobre o que iria fazer, limitou-se a dizer que aguardava que o árbitro e os responsáveis da Liga formalizassem um pedido de desculpas, que como é evidente de nada servirá, pois a Taça que o Sporting ganhou no campo foi parar ás vitrinas de um clube de gente que não olha a meios para atingir os seus fins, e de lá ninguém a vai poder tirar.

Igualmente desalentado mas mais objectivo, Ribeiro Teles veio dizer que o comportamento dos dirigentes do Sporting é incompatível com o futebol português, tocando numa ferida que está mais viva do que nunca.

Paulo Bento foi como é seu costume directo e duro, confessando-se cansado e farto de um mundo onde realmente a gente seria está a mais.

O futebol português é um submundo onde os criminosos se sentem completamente à vontade para fazerem tudo o que quiserem impunemente e não é de agora.

Há sessenta anos atrás Salazar percebeu que o futebol era um instrumento que lhe poderia ser útil para entreter o povo, numa altura em que se preparava para lançar o País numa serie de guerras no ultramar, mas para isso convinha que o clube do povo passasse a ganhar mais vezes, e foi aí que terminou a hegemonia do Sporting, que vigorou no período que ficou para a história como o tempo dos Cinco Violinos.

A partir daí o Benfica passou a ser campeão quase por decreto-lei, enquanto, o FC Porto era completamente afastado da discussão dos títulos, e o Sporting que sempre foi um clube de elites, e que portanto tinha muita gente na área do poder, passou a ter de se contentar com as migalhas sem poder reclamar muito porque o Presidente do Concelho não era homem para brincadeiras, muito menos por causa de uma questão menor para ele como o futebol, era comer e calar.

A revolução de 1974 veio alterar toda esta conjugação de forças, e dessas mudanças emergiu uma nova classe que se auto intitulou como "os homens do futebol", que entenderam que a melhor forma de acabarem com uma ditadura que já durava à 30 anos, era construindo um novo centro de poder cujo o objectivo seria controlar os bastidores do futebol, com principal incidência na arbitragem, mas sem esquecer a disciplina e a justiça.

A democratização dos órgãos da FPF e a subida do poder económico ao norte, permitiram a criação de um novo eixo no futebol, com os pequenos clubes de Aveiro para cima a substituírem os dos de Lisboa e arredores nas divisões principais. Nascia assim o famoso sistema, com Pinto da Costa e Valentim Loureiro a assumirem-se como os seus dois homens mais fortes.

Quem sofreu mais com tudo isto foi naturalmente o Sporting, com João Rocha a perder varias batalhas com Pinto da Costa e a deixar o clube na orfandade da sua cultura elitista, numa época onde estava na moda ser revolucionário ou popular, daí até aos ataques de populismo que resultaram na subida ao poder de homens como Jorge Gonçalves e Sousa Cintra, foi um passo que resultou num longo jejum de títulos e em muitas humilhações.

Com o aproximar do século XXI e o amadurecimento da democracia portuguesa, pareciam criadas condições para colocar o futebol português no caminho da modernidade e da transparência, pelo que o "Projecto Roquete" apareceu como a locomotiva desse novo rumo, ao mesmo tempo que devolvia o Sporting às suas origens.

No entanto depressa se percebeu que a nova vaga de dirigentes sportinguistas não estava minimamente preparada para enfrentar as resistências e os malabarismos dos "homens do futebol" e o "Papa" fez o que quis deles. Andou de braço dado com José Roquete enquanto lhe interessou entrar no comboio das SAD e até conseguiu pôr um cachecol azul e branco ao pescoço de Dias da Cunha.

Doze anos depois Soares Franco diz que está à espera de no mínimo um pedido de desculpas e Ribeiro Teles reconhece a sua inaptidão para se movimentar no mundo da bola, enquanto Paulo Bento diz estar cansado de ser ele quase sozinho a dar o corpo às balas e não há nenhum sportinguista que não esteja farto destes roubos que se sucedem todos os anos.

Infelizmente a postura dos nossos dirigentes tem sido a de verdadeiros meninos de coro, ingénuos e sucessivamente enganados, ao ponto de mesmo agora quando estão na Direcção da Liga permitirem que aprendizes da máfia do futebol como o Vieira e seus subordinados, condicionem a arbitragem a seu belo prazer, limitando-se a ficar à espera da pancada e a chorar depois da casa arrombada.

Orgulho-me do facto de nenhum dirigente sportinguista estar envolvido nos escândalos dos apitos, e não defendo que sejam adoptados os comportamentos que andamos há anos a criticar, mas é evidente que as posições do Sporting no combate a estas máfias do futebol, já deveriam ter endurecido há muito tempo.

O silêncio do Sporting sobre os processos que estão em tribunal e tudo o que veio à tona por via das escutas que foram tornadas publicas, que não são mais do que a ponta do iceberg, é inexplicável, principalmente numa altura em que o "sistema" está fragilizado era fundamental atacá-lo com toda a força, e foi imperdoável que deixassem que um homem como o presidente do Benfica, se pusesse em bicos de pés para receber louros que não lhe são devidos, pois ele não é mais que um afilhado do "Papa", que passou para a família rival e cujos comportamentos são aqueles que se conhecem e que já lhe valeram um campeonato e esta tacinha.

Ontem mais uma vez perdeu-se uma oportunidade que poderá ser única de abalar fortemente os alicerces desta máfia, pois a possibilidade de ganhar uma taça que não vale mais do que uns míseros trocos, nunca se deveria sobrepor aos superiores interesses Clube, que teriam ficado defendidos de uma forma marcante que correia o mundo inteiro, se no final do jogo se tivessem recusado a participar naquela farsa.

O Sporting ganhou no campo por 1-0, portanto terminado o jogo os jogadores deveriam ter ido festejar a vitória junto às nossas claques, deixando os árbitros e os jogadores do Benfica com os penaltis, as medalhas e a Taça, afinal eles não mereciam outra coisa, pois enquanto uns prejudicaram intencionalmente a nossa equipa, os outros disseram ou que não falam de arbitragem, ou que não interessa como foi, o que interessa é ganhar seja de que maneira for, já para não falar das referências repugnantes em relação ao doping, ainda para mais vindas de um clube com uma longa fila de jogadores apanhados nas malhas dos "vampiros"

Infelizmente entre os jornalistas não há quem tenha coragem de lhes avivar a memória, confrontando-os com a barulheira que fizeram depois do jogo com o Nacional, onde se queixaram de um lance muito mais discutível de que este agora ocorrido, e que custou um longo e inédito afastamento do árbitro Pedro Henriques, que foi um sinal de que há pelo menos um clube que não pode ser prejudicado.

Duma forma ou de outra faltam dois meses para o fim desta temporada, e mais alguns dias para que se realizem eleições no Sporting, pelo que agora mais do que nunca será importante que todos os sportinguistas se unam em torno da equipa e deixem para trás as suas divergências.

Paulo Bento já deu o mote, ao mesmo tempo que deixou entender que está farto de ser o único a dar a cara e levar também pelas costas, pelo que vai embora quase de certeza, e será uma grande perda para o Clube, ele é seguramente muito mais sportinguista que os palermas que o chamaram "lampião".

Quanto à Direcção também está de partida, e esses não tem nada a perder, nem vivem do futebol como o nosso treinador, pelo que a obrigação deles é fazerem-se homens, nem que seja só por uns dias, e partir a loiça toda usando todas as armas que tiverem à mão, sem medo de ninguém, basta olharem para o exemplo dado pelo Paulo Bento e até por Pedro Silva.

Esperemos que os próximos aprendam depressa, e que pelo menos sejam capazes de tirar as devidas ilações do passado recente do nosso Clube, mas isso é assunto para discutir mais tarde, agora é a altura dessa gente que gosta de pintar as paredes da Academia ou de insultar os nossos jogadores e treinador, mostrarem a sua valentia e direccionarem as suas energias por o lado de lá da barricada, fico à espera de noticias desses comunicados e cartas ameaçadores, e das vassouras, mas se calhar o melhor vai ser sentar-me

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