A Sustentabilidade Financeira

Embora as questões financeiras sejam bastante complexas e eu não tenha dados suficientes, nem conhecimentos para as discutir de uma forma sustentada, devo dizer que nesta área sempre discordei do plano de saneamento financeiro apresentado por Filipe Soares Franco.

Em primeiro lugar sempre fui um defensor do chamado "Projecto Roquete" e mesmo não acreditando na sua concretização total, continuo a pensar que apesar de ter assentado em alguns pressupostos errados, a ideia era boa. Infelizmente acabou por ser mal executada, e muito por culpa dos seus protagonistas. O que é certo é que pelo menos no aspecto financeiro o "Projecto Roquete" foi um fracasso total.

Mas o caminho escolhido por Soares Franco para resolver os problemas financeiros do Clube que foram agravados com o "Projecto Roquete", foi o caminho mais fácil, ou seja vender o património não desportivo, em vez de tentar viabilizá-lo e torná-lo rentável, o que iria dar muito trabalho e exigir uma disponibilidade que um homem que apenas dedica uma hora por dia ao Sporting não tem.

Pior do que esta falta de tempo e de vontade de trabalhar, foi a confusão dos números que o Presidente ao longo destes três anos nos foi despejando e que nunca bateram certo. Primeiro ia vender o património por 55 milhões e com mais alguns que o Sporting ainda tinha para receber depois de resolvidos os problemas com a Câmara, e a alienação de uma parte das Acções da SAD, ele garantia que o passivo iria ficar à volta dos 150 milhões, mas o que é certo é que depois de vários reajustes contraditórios, hoje não temos património e o passivo continua muito acima da meta proposta, que agora já desceu para os 140 milhões, se for aprovada a emissão das VMOC.

Mas será que alguém ainda acredita nestas engenharias financeiras?
Eu não só não acredito como me parece que todo este processo de alienação do património foi mal conduzido e por vezes até de uma forma pouco transparente, e só levou ao empobrecimento do Clube sem resultados visíveis, ou seja estamos mais pobres e continuamos sobre endividados.

Perdido que está o património não desportivo, agora querem vender parte da SAD, mas como é evidente esse não é um negocio muito atractivo para os investidores, ou não estivéssemos a falar de Acções que tiveram um valor inicial de mil escudos e hoje estão abaixo dos dois euros.

A solução encontrada para valorizar estas Acções, é passar o maior activo do Clube para a SAD, estamos a falar da Academia Sporting como é evidente, porque é lá que mora uma linha de produção de talentos que poderá ser efectivamente muito rentável, isto já para não falar da valorização dos terrenos em consequência do nascimento do novo aeroporto, mas neste caso ainda é cedo para se especular, embora convenha que fiquemos atentos.

O que se irá discutir na próxima Assembleia Geral do Sporting é a passagem de alguns activos para a SAD e a emissão das tais VMOC, que só serão atractivas se a primeira condição se realizar, e serão atractivas para quem entrar a pensar na realização de mais-valias resultantes como é evidente da venda dos melhores produtos da Academia, o que afinal entra em contradição com aqueles que devem ser os os objectivos da nossa fábrica de talentos, ou seja formar jogadores para a equipa principal do Sporting e vender apenas aqueles que não for possível segurar, e sempre por valores substanciais.

Mais tarde voltarei a esta questão da Assembleia Geral, mas antes terei de recolher alguma informação para poder dar uma opinião com algum conhecimento, de qualquer forma convém saber a quantidade de acções que vão para o mercado, e se já há investidores interessados e quem são eles.

Há ainda as várias empresas que giram à volta do Grupo Sporting, que ao que parece não são muito saudáveis, e pelo menos para mim um leigo nestas coisas, não faz nenhum sentido que andem umas a pagar serviços às outras, quando afinal deveriam estar todas a trabalhar para o mesmo monte. Enfim cheira-me que anda muita gente a viver às custas destas manobras, mas pode ser que ainda me expliquem para que é que elas servem e o que é que o Sporting ganha com isto.

Também há que reconhecer que nem tudo é mau, Soares Franco conseguiu racionalizar os custos, tornando a exploração equilibrada, mesmo quando não vendeu jogadores, e esse é um principio fundamental para garantir a sustentabilidade financeira da Sociedade.

Uma coisa é certa, ainda ninguém apresentou uma alternativa às soluções propostas por Soares Franco, nem o desmentiu quando ele afirmou que não é possível continuar a ter de pagar 20 milhões de euros de juros por ano. O pior é que as eleições já estão aí à porta.

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