Sócios e Adeptos

Surpreendentemente ou talvez não a secção "Sócios e Adeptos" foi aquela que somou mais inscrições no Congresso do Sporting que se realiza este fim de semana, o que revela a preocupação dos sportinguistas com o seu papel na vida do Clube.

Ao longo do seu mandato Filipe Soares Franco alertou para uma alegada crise de militância sportinguista e defendeu a necessidade da criação de uma espécie de colégio eleitoral, que passaria a ter a responsabilidade de tomar algumas das decisões que actualmente competem à Assembleia Geral, e ao mesmo tempo sugeriu que fossem utilizadas as novas tecnologias para que os sócios que vivem longe de Lisboa possam ter um papel mais activo nas grandes decisões da vida do Clube nomeadamente os actos eleitorais.

A crise de militância parece-me indesmentível, conforme se poderá depreender de factos como o de o Sporting não conseguir encher o Estádio nem num jogo dos oitavos de final da Liga dos Campeões, ou do fracasso da campanha de angariação de novos sócios, o que não poderá ser explicado apenas pela crise financeira que se vive actualmente.

Houve efectivamente um distanciamento progressivo entre os sportinguistas e o seu Clube, cujas origens julgo que remontarão ao longo jejum de títulos a que fomos sujeitos, que foi amolecendo os adeptos mais velhos e cada vez mais conformados, ao mesmo tempo se iam perdendo alguns dos mais novos.

Por outro lado o "Projecto Roquete" trouxe-nos um novo tipo de dirigente, mais executivo e distante dos adeptos, que passaram a ser tratados como simples clientes, e eles próprios assumiram essa condição, ao ponto de hoje na hora de adquirir um pack S3G, um desconto de uns cêntimos na gasolina ter mais peso do que o simples orgulho de ser sócio do Sporting.

Torna-se pois fundamental reaproximar o Clube dos seus adeptos e sócios, o que na minha opinião só será possível com um Presidente carismático e capaz de aglutinar as massas, que evidentemente terá de o ser a tempo inteiro, e não apenas uma hora por dia.

É necessário também reformular os serviços do Sporting, onde há muita incompetência e desleixo e até alguma falta de consideração e respeito por aqueles que no fundo são a razão de ser desses serviços, pelo que a promessa eleitoral não cumprida, da criação da figura do Provedor do Sócio, deve ser posta em pratica de uma forma efectiva e dinâmica.

Quanto às alterações estruturais propostas, que evidentemente não caíram bem junto daqueles que Soares Franco intitula de minorias de bloqueio, na medida em que elas constituem uma perda de poderes da parte dos sócios, que no entanto até não me escandaliza muito, pois afinal o Sporting sempre foi um Clube elitista e sem grandes tradições democráticas, pelo que essa me parece ser uma questão em que se deve reflectir maduramente.

A verdade é que o artigo 1.º dos primeiros estatutos do Clube reza assim:
"Sporting Club de Portugal é o título d'uma associação composta d'individuos d'ambos os sexos de boa sociedade e conducta irrepreensivel."
Portanto não era sócio do Sporting quem queria, apenas quem podia, e mesmo nessa altura já se estabeleciam algumas diferenças entre os sócios ao nível dos seus direitos.

Mais tarde os Presidentes dos Orgãos Sociais do Clube passaram a ser escolhidos no seio do Conselho Geral e do Conselho dos Presidentes, e depois no Conselho Leonino, e foi assim que o Sporting se tornou na maior força desportiva do País.

Naturalmente que com 25 de Abril a democracia também chegou ao Sporting, e após o curto e cinzento mandato de Amado de Freitas, que sucedeu a João Rocha, realizaram-se finalmente eleições muito concorridas no Clube, que assim vestiu uma roupa que nunca fora a sua, entrando na fase do populismo com os resultados que se conhecem.

José Roquete devolveu o Sporting às suas origens, mas 14 anos depois do arranque do seu projecto, podemos concluir que muitos dos objectivos que o norteavam ficaram por cumprir, pelo que já há algum cansaço e desilusão em relação à espécie de oligarquia que governa o Clube desde essa altura. No entanto os fantasmas do passado recente ainda estão bem vivos na memória dos sportinguistas, pelo só uma alternativa credível e bem sustentada, poderá mudar a situação o que até à data ainda não se viu.

A verdade é que o grupo dos insatisfeitos tem vindo a crescer, pelo que este tipo de alterações irá encontrar sempre algumas resistências e originar acusações de deficit democrático, isto numa altura em que há até quem defenda que o método de atribuição de votos por antiguidade, praticado no Clube, é desequilibrado e injusto, mas conforme se pode concluir do passado, a verdade é que quando o Sporting deu voz ao povo, o povo não foi propriamente muito feliz nas suas escolhas.

Realmente positiva parece-me ser a sugestão de dar voz a mais sócios, numa altura em que a informática nos fornece instrumentos muito válidos e que permitem uma participação fácil e efectiva daqueles que como eu estão longe.

A dinamização dos Núcleos poderá ser também um caminho a seguir, mas nada disto será possível sem trabalho, muito trabalho e grandes doses de paixão, é esse o grande desafio que se põe ao próximo Presidente do Sporting Clube de Portugal.

Comentários