O Modelo Estratégico para o Futebol

O futebol é sem dúvida a área onde eu mais me revejo na politica seguida pela actual Direcção do Sporting, que em vários aspectos tem seguido o caminho que me parece o mais adequado para o nosso Clube.

O apoio firme a um treinador em quem se acredita, a aposta forte na formação, a manutenção dentro do possível dos melhores jogadores do plantel, e a racionalização dos custos, são vectores que me parecem fundamentais para a construção de um grupo estável e ganhador, e nesse aspecto Soares Franco tem sido na minha opinião um excelente Presidente.

O maior erro do seu mandato foi de certa maneira um mal necessário com o nome de Carlos Freitas, que ocupou a posição de Director Desportivo, se bem que mais do que o nome o que eu discuto é o perfil deste cargo.

Na minha opinião num clube como o Sporting é fundamental que no topo da hierarquia do futebol haja um Director Técnico, que seja o pensador e coordenador de todo o edifício do futebol do Clube, planeando e garantindo a articulação entre a formação e o futebol profissional.

Estou a falar de alguém que não seja apenas um bom conhecedor do mercado ou bem relacionado com os empresários, mas antes uma pessoa com verdadeiros conhecimentos técnicos, que lhe permitam perceber com uma antecedência razoável quais os jogadores da formação que em breve estarão prontos para entrar no plantel principal, e quais as posições mais carenciadas para as quais será necessário recorrer ao mercado.

Este Director Técnico trabalharia em articulação com os treinadores que estariam sob a sua responsabilidade, e seria o rosto de todo o futebol do Sporting, que já teve nos seus quadros dois homens que poderiam ter sido aproveitados para estas funções, se em vez de serem despedidos, tivessem sido chutados para cima. Refiro-me a Carlos Queirós e Lazlo Boloni, e se o primeiro nesta altura está fora de questão, o segundo parece-me perfeitamente viável, embora tenha contra si o facto de ser estrangeiro, e portanto estar pouco habituado às guerras do futebol português.

E aqui entramos noutro aspecto onde Soares Franco falhou, penso que neste caso por uma questão de feitio ou de formação, que o impediu de ser mais duro na defesa dos interesses do Sporting contra os poderes instalados, deixando Paulo Bento praticamente sozinho nessa luta.

Nesta área julgo que o Sporting precisa de endurecer as suas posições, e não pode ter medo de assumir a primeira linha na luta pela limpeza do futebol português, afastando-se completamente dos outros dois grandes, que nesta altura são liderados por pessoas que não merecem o mínimo de consideração ou respeito, pelo que em relação a eles apenas se pede distância. Aliás está mais do que visto que as alianças no futebol não resultam nem trazem nada de vantajoso, para quem não faça parte do famoso "sistema" e esse é um orgulho que os sportinguistas querem seguramente continuar a ter.

A presença do Sporting na Direcção da Liga foi uma oportunidade desperdiçada por razões que desconheço, mas julgo que houve alguma ingenuidade e boa fé a mais. Mas agora que estamos outra vez fora, não há que ter dó, exigem-se posições firmes e destemidas.

Finalmente penso que há também algumas questões a rever na Academia, onde me parece haver um deficit de cultura sportinguista, que leva a que os miúdos aos 14 ou 15 anos já estejam a pensar no Real Madrid ou no Manchester United.

É preciso explicar a esta rapaziada que eles estão ali para tentarem ser jogadores do Sporting, e que esse deve ser o grande objectivo deles, e incutir-lhes doses industriais de cultura do nosso clube.

É verdade que eles hoje são desde muito novos cercados por empresários que apenas pensam em sacar as suas comissões, já para não falar em familiares sem escrúpulos, mas também é verdade que estes miúdos passam a maior parte do seu tempo em Alcochete, pelo que esse é um trunfo que não se pode desperdiçar e nessa área há muito a fazer. Talvez falte na Academia mais gente que vive efectivamente o Sporting com paixão para passar esse sentimento àquela rapaziada.

A transição para o futebol sénior também é um aspecto a rever, nomeadamente em relação à politica de empréstimos que tem de ser melhor pensada, devendo ser adoptado o método utilizado pelo FC Porto que só paga os vencimentos dos seus jogadores emprestados se eles jogarem, ao mesmo tempo que há que ter cuidado na escolha dos clubes e principalmente em relação aos treinadores que trabalham nesses clubes para onde vão os nossos miúdos, sendo que o caso do Carriço que esteve meia época sem jogar no Olhanense do Álvaro, é um exemplo do que não pode acontecer, e que poderia ter sido muito mau para um jogador de grande qualidade que foi parar às mãos de um tipo que ou é burro ou quis queimar o rapaz.

Há ainda uma questão que me parece pouco trabalhada nos clubes de futebol, e que no caso do Sporting que aposta muito em jovens, essa questão assume ainda maior importância, refiro-me ao acompanhamento psicologico dos jogadores, que já demonstraram varias vezes fragilidades nessa matéria, como por exemplo nos jogos com o Bayern, ou quando chega a hora de marcar penaltis.

Julgo que o "lobo" Tomaz Morais já demonstrou alguma disponibilidade para trabalhar nessa área, mas fê-lo junto dos executivos, e parece-me que o deveria fazer antes com os activos. É verdade que o treinador tem um papel importante neste tipo de questões, mas nem todos podem ser como o Mourinho, pelo que nada melhor do que ter um especialista a trabalhar naquilo de que sabe.

Infelizmente o futuro próximo é muito incerto e avizinham-se mudanças que temo sejam para pior, mas esperemos que não se estrague tudo o que de bom foi feito até aqui, e que se introduzam as melhorias que todos desejamos.

Comentários

  1. Concordo com grande parte das coisas mencionadas aqui.
    Queria apenas deixar um reparo ao nome do "lobo", é Tomaz Morais e não Tomaz Aires.

    Saudações Leoninas,
    Atento_scp

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