A dignificação dos antigos atletas.

A Associação de Adeptos Sportinguistas (AAS), organizou um seminário onde foram analisados os problemas do Clube, tentando-se encontrar soluções para os mesmos, e uma das conclusões retiradas aponta para a dignificação dos antigos atletas.

Essa conclusão vinda de um grupo de adeptos não deixa de ser curiosa, na medida em que actualmente já ninguém estranha quando os nossos jogadores são assobiados em Alvalade.

Na época passada uma das vitimas desse estranho comportamento foi Rui Patrício, que ao mesmo tempo que era vaiado, ouvia os aplausos dirigidos a Stojkovic, cujas atitudes foram tudo menos exemplares.

No início desta temporada João Moutinho dividiu as bancadas de Alvalade entre aplausos e assobios, numa situação perfeitamente ridícula, porque se atreveu a dizer que queria ir embora, certamente motivado pelo por uma choruda proposta do Everton.

Mais recentemente foi a vez de Miguel Veloso, que até faltou a um treino depois de ver abortada uma hipotética transferência para o Bolton, onde iria ganhar ao que se diz, cinco vezes mais do que o Sporting lhe paga.

Bastará também navegar um pouco pelos fóruns e blogues que abundam na internet, ou passar pelas bancadas de Alvalade ou pelo café da esquina, para se ler e ouvir inúmeros insultos a estes e outros jogadores do Sporting, isto já para não falar no treinador ou nos dirigentes.

Será então que antigamente é que era bom, e que os craques de outrora sentiam mesmo o saudoso amor à camisola? Quem conhecer um pouco da história do Sporting, saberá perfeitamente que ontem tal como hoje, o dinheiro quase sempre se sobrepôs à paixão pelo emblema, e muitas são as grandes figuras do nosso Clube que o traíram, ou que pelo menos tiveram atitudes que menos correctas do ponto de vista do sportinguismo, quando lhes acenaram com um maço de notas, ou quando acharam que deviam receber mais.

Assim de repente lembro-me que o Jorge Vieira chegou a parar de jogar por causa da questão do profissionalismo, que o Azevedo se recusou a jogar porque queria ganhar mil escudos por mês e que o Damas tinha tudo certo para ir para o FC Porto. Sim estou a falar de três monstros sagrados da história do Sporting, porque se passar para o patamar abaixo as histórias vão-se multiplicar.

Mas também há o outro lado da questão, quantos foram os jogadores maltratados pelos dirigentes e adeptos sportinguistas. Será que vale a pena viver apenas para o Sporting como fez Francisco Stromp? Será que Peyroteo fez bem em simplesmente recusar-se a ouvir propostas de outros clubes, para depois ter de acabar a sua carreira mais cedo, porque precisava do dinheiro que ia ganhar com a sua festa de despedida? Ou que Manuel Fernandes que assinava os seus contratos em branco, merecia ser despedido por um treinador inglês acabado de chegar?

Pois na verdade parece-me que nas devidas proporções relativas às diferentes épocas em que viveram, os jogadores, os dirigentes e os adeptos de hoje são feitos da mesma massa do que os de antigamente, e muitos daqueles que clamam por reconhecimento aos antigos atletas, serão os mesmos que os deixaram sozinhos o relvado do antigo Estádio José Alvalade no último jogo que ali se realizou, simplesmente porque o Sporting tinha acabado de perder mais um jogo.

O Sporting não é nem pode ser a Santa Casa da Misericórdia, mas deve efectivamente respeitar os seus protagonistas do passado, da mesma forma que os actuais merecem ser respeitados, coisas que convenhamos nem sempre ou raramente acontecem. Por isso não se admirem que eles pensem cada vez mais em tratar acima de tudo das suas vidas, passando ao lado de sentimentalismos que geralmente tem como troco a ingratidão.

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