As razões de Soares Franco

Surpreendentemente Filipe Soares Franco anunciou que não se iria recandidatar à Presidência do Sporting, abrindo espaço para o aparecimento não só de alternativas à situação actual, como à sua sucessão numa linha de continuidade.

Apesar de nesta altura ainda ser cedo para se falar de nomes, até porque todos parecem aguardar pelo Congresso para pôr as cartas na mesa, há um que julgo ser inevitável referir, porque mesmo fazendo parte dos actuais corpos sociais do Clube, tem vindo a ganhar alguma notoriedade, e parece ter uma linha de pensamento um pouco diferente da do actual Presidente, mesmo que só muito subtilmente o deixe transparecer.

Refiro-me a Rogério Alves, que no entanto tal como todos os outros presumíveis candidatos, mantém uma posição cautelosa sobre o assunto. Mas o seu nome não poderá deixar de ser referido, até porque poderá conseguir, não vou dizer ser consensual, mas pelo menos ser uma solução abrangente, capaz de captar simpatias nos dois lados da barricada, se é que há só dois, isto porque a oposição está longe de estar organizada e principalmente de ter um rosto ou até mesmo um projecto alternativo.

Mas por agora vou deixar a discussão dos nomes e até dos projectos para depois, e tentar apenas perceber as razões de Filipe Soares Franco para abdicar, numa altura em que tudo apontava para a sua recandidatura.

Na Grande Entrevista a Judite de Sousa ele tentou explicar as suas razões, mas infelizmente a falta de à vontade da entrevistadora em questões relacionadas com o futebol, não permitiu um aprofundamento dessas razões.

Filipe Soares Franco começou por se socorrer das suas responsabilidades empresariais, mas todos já sabemos que ele nunca foi um Presidente a tempo inteiro, e nem sequer é um homem próximo das bases, tendo mesmo uma visão do Clube que escandaliza muita gente, por isso não vejo que tenha acontecido alguma alteração substancial, que motive esta sua decisão.

O que transpareceu realmente foi algum desencanto de Soares Franco, para com os sócios e adeptos do Clube, o que aliás já tinha sido visível quando ele se referiu à falta de militância dos sportinguistas, que me parece um facto indiscutível, do qual ele tal como os seus antecessores da "era Roquete", não se podem dissociar, na medida em que a transformação do Clube numa empresa, não foi condimentada com as necessárias doses de paixão que devem alimentar e manter vivo o sportinguismo por todo o País.

Resta saber se Soares Franco se sentiu incapaz de desempenhar esse papel aglutinador que se exige a um Presidente de um Clube como o Sporting, ou se simplesmente ficou farto da tal minoria de bloqueio, a que ele se referiu como sendo um obstáculo intransponível para concretizar as reformas que considera fundamentais para o futuro do Clube, apesar de mesmo assim ele se preparar para levar a uma Assembleia Geral, uma questão tão importante e delicada como a dos VMOC e tudo o que gira à volta dela.

Faria pois muito mais sentido que Soares Franco tomasse a sua decisão após a referida AG, e eu até admitiria que ele como forma de pressão, tornasse público que só se recandidataria se as suas propostas fossem aprovadas. Assim ele coloca nas mãos dos sócios uma decisão que pode condicionar todo o mandato do seu sucessor, ainda de uma forma mais determinante do que a renovação do contrato com o treinador, que ele resolveu e bem deixar nas mãos da futura Administração.

Concluindo, parece-me que a Filipe Soares Franco falta paixão e principalmente pachorra para aturar os sportinguistas, e eu em parte até o compreendo, pois é preciso realmente ter muito estômago para ser prior numa freguesia onde poucos estão dispostos a contribuir, e muitos exigem tudo e mais alguma coisa, já para não falar na forma como maltratam quem está no Clube. É preciso gostar mesmo muito do Sporting, e é bom que quem se candidate ao lugar perceba isto.

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